As Sonatas para piano de Beethoven

Laura · Enviada: Qui Jan 04, 2007 4:18 pm Assunto:

Também estou torcendo para que você retome a seqüência em breve...

Ricardovsky · Enviada: Qui Jan 04, 2007 5:39 pm Assunto:

Esse tópico do Berber é um tesouro!! Vou imprimir tudo para, quando estiver ouvindo minha integral do Kempf, ter esse material em mãos. É claro que a minha ignorância não me permite entender nem 50 % do texto do Berber, mas mesmo assim há muita coisa para me enriquecer culturalmente no mundo das sonatas de Beethoven.

(berber) · Enviada: Qui Jan 04, 2007 7:11 pm Assunto:

Calma gente, depois das festas de Natal e Ano novo, volto com a Appassionata - uma referencia a qualquer um que queira estudar a "forma sonata" ou a musica para piano do Beethoven.
Se tiver tempo, ainda coloco amanha mesmo, que tal?

(berber) · Enviada: Sáb Jan 06, 2007 9:05 pm Assunto:

(berber) · Enviada: Sáb Jan 06, 2007 11:57 pm Assunto:

Sonata Op. 57

(Editando)

E chegamos na sonata que e' por muitos considerada a obra prima das sonatas de Beethoven. A Op. 57, tambem conhecida como a Appassionata, tem tres movimentos e foi dedicada ao Conde Franz von Brunsvik. Esse nome, assim como o de outras sonatas, so' apareceu depois da obra publicada e nao foi dado por Beethoven, mas por um editor que gostava de um bom marketing. E assim como a "Sonata ao Luar", "Tempestade" e "Patetica", o apelido pegou e todos conhecem essa sonata como a Sonata Appassionata.

O primeiro movimento e' bem longo e e' onde Beethoven desenvolve a sua criatividade com a forma ao maximo. Pra comecar, o compasso e' um incomum 12/8. E vem na tonalidade de Fa menor, considerada a tonalidade mais melancolica que existe. Alem disso, Beethoven nao escolheu Fa por acaso, afinal a ultima nota do piano da epoca era justamente essa: Fa', e com isso Beethoven pode utilizar toda a extensao do piano ao compor essa obra prima. O desenvolvimento tematico e' impressionante nessa sonata. A celula ritmica do inicio e' repetida ao longo do movimento inteiro, e alem disso Beethoven traz uma lembranca do tema da quinta sinfonia (o tchan tchan tchan tchaaaaan). harmonicamente a Sonata traz um turbilhao de ideias e tonalidades, so' pra voces terem uma ideia, ja' no inicio, depois da apresentacao do tema em fa menor, Beethoven repete o mesmo tema em sol bemol(!?) mostrando que a revolucao harmonica atingida com a Waldstein nao foi por acaso, e veio pra ficar. A dificuldade do pianista e' tremenda, pois alem de ter que lidar com trinados no quarto e quinto dedos, oitavas, notas repetidas, arpejos etc, o pianista ainda tem que criar a atmosfera que a musica exige, com a leveza de toque e expressividade.
Em algumas passagens Beethoven cria uma cortina de som, onde as notas estao la', mas a intencao e' de uma sonoridade continua, sem interrupcoes, fazendo a base para a melodia cantar.
A forma e' a da forma sonata, mas com a coda ja' sendo apresentada como um segundo desenvolvimento.

O segundo movimento vem na forma de tema com variacoes, e e' como mais uma vez um improviso escrito, bem ao estilo de movimentos lentos de Beethoven - bem lirico e solene. O baixo pontuado do tema faz a mencao do carater ritmico do primeiro movimento. No papel, o movimento e' relativamente curto, enhchendo pouco mais de tres paginas,. mas devido a todas as repeticoes, o resultado final e' bem consistente. Mencao especial para a leveza do acompanhamento do baixo na parte final do movimento, onde as fusas vao "voando" ate' as partes agudas do piano. O movimento acaba com dois acordes de arrepiar. O primeiro em pianissimo da' aquela sensacao de que alguma coisa vai acontecer, traz um suspense incrivel, que e' logo confirmado com a repeticao do mesmo acorde uma oitava acima, em fortissimo.

O movimento final e' adrenalina pura! Nao para do inicio ao fim e e' dificilimo para o pianista. A leveza necessaria, combinada com a velocidade e clareza, fazem desse um dos movimentos mais dificeis de todas as sonatas - e isso sem falar da resistencia. Sao paginas e paginas de pura emocao jorrando do piano. Uma sonata que deveria ser obrigatoria na colecao de qualquer amante de musica.

Laura · Enviada: Dom Jan 07, 2007 9:23 am Assunto:

1o. movto da Appassionata com Gilels:
http://www.youtube.com/watch?v=joINnT_ncVc

Fernando Almeida · Registado em: Sábado, 6 de Janeiro de 2007 Mensagens: 143

O tópico está muito bom! Resolvi ouvir todas as sonatas de Beethoven para piano por causa dele... Claro, já havia ouvido algumas, como a Hammerklavier, Apassionata, "Ao Luar", mas não todas elas. Berber, todo o trabalho que você está tendo tem sido de grande valia Smile

Pinochio · Enviada: Dom Jan 07, 2007 11:47 am Assunto:

Estou começando a conhecer melhor as sonatas de Beethoven e este tópico está me ajudando bastante.

Um dos pianos utilizados por Beethoven (fonte: http://www.lvbeethoven.com/)

_________________
Henrique, um amante da cultura

+

(berber) · Enviada: Dom Jan 07, 2007 8:21 pm Assunto:

E so' pra acrescentar: A APpassionata trouxe para a musica uma expressividade nunca antes vista. Dai veio esse apelido que a acompanha ate' hoje.

Bruno Gripp · Enviada: Dom Jan 07, 2007 10:53 pm Assunto:

(berber) · Enviada: Seg Jan 08, 2007 2:18 am Assunto:

Nunca antes vista no piano, para ser mais especifico e menos polemico (se bem que poderiamos entrar num debate aqui) - que tal?

Bruno Gripp · Enviada: Seg Jan 08, 2007 8:13 am Assunto:

Sim, aí eu concordo. A música para piano do classicismo anterior era mais música de salão e para amadores... Se bem que, se você considerar os concertos para piano, tem o Kv. 466 (concerto 20 em ré menor) batendo na porta...

Ricardovsky · Enviada: Seg Jan 08, 2007 10:17 am Assunto:

Também há muita coisa expressiva para teclado de Bach. Tá certo que não existia piano, mas existia cravo e orgão. Mesmo que já esteja um tanto massificada, a "Tocata e Fuga" BWV 565 de Bach é tão dramática e expressiva quanto muitas das melhores sonatas para piano de Beethoven (cito esse exemplo só por ser o mais famoso, Bach possui coisas para teclado que me dixam verdadeiramente boquiaberto). Esta afirmação, de modo algum, trata-se de uma crítica de minha parte contra Beethoven, mas sim a um elogio a esses dois mestres do teclado.
Tenho também ouvido as sonatas para cravo de Domenico Scarlatti e encontro-me muito impressionado com elas.

(berber) · Enviada: Seg Jan 08, 2007 3:55 pm Assunto:

Bach escreveu coisas magnificas para o teclado, assim como Mozart. A expressividade numa obra pode ser medida de varias maneiras, de acordo com a melodia, a harmonia, a instrumentacao, etc.
Para a epoca, Bach escreveu obras muito expressivas - Preludios para Orgao sao fantasticos, so' para ilustrar. Mozart nem precisa de apresentacao, podemos tirar dezenas de exemplos.

Beethoven inovou nao so' harmonicamente, utilizando progressoes harmonicas "ineditas", mas tambem quebrando o modelo tradicional da forma musical, e com isso abrindo novas possibilidades para o compositor colocar a expressividade na musica. O virtuosismo, aliado as progressoes harmonicas e escolhas de motivos melodicoa e ritmicos na Appassionata, abriram os olhos (e ouvidos) dos compositores da epoca de Beethoven para as possibilidades de expressao que a musica poderia oferecer. No piano, somente com Chopin essas possibilidades foram expandidas mais tarde, mas isso e' assunto para outro topico.

(berber) · Enviada: Sex Jan 19, 2007 11:05 pm Assunto:

Sonata Op. 78

Ufa! Voltei!

Depois do turbilhao revolucionario da Appassionata, Beethoven nos traz uma sonata de dois movimentos em Fa' sustenido maior, uma tonalidade nao muito "comum".
Como nao poderia deixar de ser, essa sonata tem um apelido. E' apelidada de "`a Teresa". A razao? Essa sonata foi dedicada justamente a Therese - elementar...As vezes parece que

Enfim, essa sonata e' curta, com dois movimentos e aproximadamente 8 a 10 minutos de duracao. O primeiro movimento traz de volta o carater calmo e "pastoral" de sonatas anteriores. A sonata comeca com uma introducao em adagio, logo seguida de um Allegro ma non troppo, que traz a sonata propriamente dita. Os recursos melodicos sao muito variados, incluindo acordes, quialteras, semicolcheias, notas repetidas, etc. A textura e' rica e variada, trazendo as caracteristicas basicas de Beethoven, como acentos nos contratempos. O movimento e' curto, e devido a variedade constante soa mais curto ainda. Quando nos estamos nos acostumando aos sons da musica, o movimento acaba. E" como aquele bombom de chocolate maravilhoso - deixa o gostinho de "quero mais"...

O segundo movimento tem a caracteristica principal na celula formada por duas notas ligadas. O clima e' alegre e festivo, com passagens de dificuldade para o pianista. A atmosfera nao e' pesada ou grandiosa, como em sonatas anteriores, mas a beleza esta' mais uma vez na simplicidade de uma melodia direta, sem elaboradas complicacoes interpretativas. A Coda vem depois de dois acordes com fermatas e uma passagem ascendente rapida, concluindo a sonata com a mesma proposta do inicio - uma sonata honesta e direta, sem muitos floreios, refletindo o carater de Beethoven.

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