O que você está ouvindo?

Carlos Pianovski · Enviada: Qui Abr 23, 2009 11:01 am Assunto:

Sarastro, é verdade. Kaufmann cantando Florestan já parece o Vickers desde o ataque da primeira nota!

Acho mesmo que o Otello seja um caminho natural do alemão. Imagino, também, que se sairá com competência (alguém ainda suporta ouvir o Botha cantando Otello?).

Ouvirei o Marco di Felice com mais atenção. Baixei um dos trechos do Macbeth que estão no site e a voz me pareceu escura, com massa baritonal, mas "dura" demais. Mas essa é só uma impressao preliminar ao ouvir um fragmento diminuto!

Abraços

Pianovski

Carlos Pianovski · Enviada: Sex Abr 24, 2009 12:47 am Assunto:

Ouvi hoje La Sonnambula com Bartoli, Florez, D'Arcangelo e Alessandro de Marchi.

A Decca lançou a gravação com a propaganda de que seria um registro original de fábrica, com os cantores seguindo à risca a partitura de Bellini e com instrumentos e afinação da época.

Seria, ainda, um revival de uma Amina cantada por uma mezzo soprano, como Giudita Pasta e, sobretudo, na publicidade estúpida da gravadora, Malibran. Pasta e Malibran teriam cantado a partitura original, com entusiástica aprovação do próprio Bellini.

Se a proposta era essa, o registro é um fiasco desde seu nascimento. Bartoli (cuja voz tem mesmo timbre e cor de mezzo soprano, apesar de alguns insistirem que se trata de um soprano sem agudos ...) transpõe a maior parte da sua música. Isso é informado no libretto que acompanha os CDs, mas não é o que as informações da embalagem fazem supor ...

O problema maior, porém, não é esse. A partitura foi escrita por Bellini esperando a contribuição criativa da intérprete. Trata-se de bel canto! Espera-se a inserção de agudos, ornamentos, cadências. Nada disso está lá. É a partitura e ponto final. Soa sem sal. Que saudades de Callas e Sutherland!

Além disso, na maior parte da ópera Bartoli não canta: sussurra ao microfone. Creio ter ouvido o João Gilberto fazendo com ela alguns dos duetos e encobrindo a voz da italiana, mas talvez seja um delírio meu.

A Decca deveria aproveitar melhor sua estrela, fazendo-a gravar L'Italiana in Algeri, esse sim um papel adequado à sua voz (ao menos em estúdio ou, então, em um teatro pequeno, em que ela não dependa de microfones ocultos).

Florez canta com a qualidade de sempre, artista excepcional que é. Mas as limitações à interpolação de agudos e a inexplicável transposição de sua grande ária no segundo ato fazem com que não soe com o mesmo brilho que nos discos de árias em que canta fragmentos da ópera nem na notável performance gravada ao vivo no MET (já abstraindo a encenação imbecil e a tomada de som absurda - que faria algum incauto supor que Florez será o novo Siegfried do MET).

O papel do Conde Rodolfo, musicalmente sem graça, parece ter sido escrito para a voz de Ildebrando D'Arcangelo, que tem aí uma das suas melhores performances.

A esforçada Gemma Bertagnoli é uma boa Lisa, coisa muito rara nas gravações dessa ópera. Com algum treino seria uma Amina mais convincente do que Bartoli.

Em suma: a Universal deveria empregar melhor seu dinheiro. E eu também deveria empregar melhor o meu, ao invés de comprar gravações como essa.

Bruno Gripp · Enviada: Sex Abr 24, 2009 1:22 am Assunto:

Caro Pianovski, a transposição não seria por causa da afinação de época? Não sei qual era o Lá na Itália de 1830, mas deve se for algo por volta de 410 Hz, um ouvido treinado pode identificar como um semitom abaixo, porque na verdade o é. O que eu sei é que a ópera francesa até na época de ROssini usava uma afinação próxima de 380Hz, o que é mais de um tom inteiro.

No momento ouço as Danças Gregas de Nikos Skalkottas, que foi uma das melhores descobertas musicais que fiz na Grécia. Aluno de Schoenberg, ele foi provavlemente o maior compositor grego, sua obra apresenta uma linguagem muito variada variando do serial até as influências folclóricas, pelo tema, evidentemente, as Danças gregas aproximam-se desta tendência. MAs a orquestração é muito brilhante e o conjunto é extremamente bonito, Skalkottas aproveita algumas canções populares, muitas delas bem famosas na Grécia como Ένα καράβι απ΄τη χίο que todo grego conhece com criações próprias, no geral, o conjunto é muito harmonioso e de grande alcance emocional. Uma obra realmente emocionante.

Ricardovsky · Enviada: Sex Abr 24, 2009 10:15 am Assunto:

Caro Bruno,

Dê a indicação desse cd. Ele é da Naxos? Quais são os intérpretes?

PS: Em tempo, parabéns pela aprovação no concurso da UFF (eu respondi o seu e-mail com algumas dicas que julgava importantes. Você as recebeu? Elas lhe ajudaram alguma coisa? Ou você já sabia tudo aquilo, como era de se de esperar? hehehe...).

Bruno Gripp · Enviada: Sex Abr 24, 2009 12:36 pm Assunto:

Ricardo,
Não, os intérpretes são bem mais alternativos do que um disco da Naxos. É uma gravação de 1996 do selo grego Lyra (ML 052/3) com a Orquestra Filarmônica de Sverdlovsk e o condutor é Byron Fidetzis. Foi a sugestão do dono da loja em que comprei isso e foi brilhante, eu estava querendo combrar aquela porcaria que é o Theodorakis, mas o Skalkotas é brilhante.

http://www.lyra.gr/ViewShopProduct.aspx?Id=54569

Ah sim, seus conselhos foram úteis, só não respondi pq estava naquela correria de concursos, acho que você sabe como é. Espero te encontrar aí logo.

abraço

Carlos Pianovski · Enviada: Sex Abr 24, 2009 3:25 pm Assunto:

Caro Bruno, para além da afinação da época, que foi efetivamente adotada, há, ainda, transposição em várias passagens (estão indicadas no "livrinho" que acompanha os CDs - pelo menos foram honestos ness ponto).

Abraços

Pianovski

Sarastro · Enviada: Sex Abr 24, 2009 4:35 pm Assunto:

Pianovski, esqueci de citar: Kaufmann tem interpretado, e bem, Don José em Carmen (ainda que não seja um tenor "francês" nos moldes de Jobin, Vanzo e o próprio Alagna).

Ouvi o Concerto Duplo de Brahms com Stern, Ma e Abbado. Sei lá, pode parecer preconceito criado pelas mensagens no tópico de Brahms, mas só empolguei com a interpretação do Stern. Ma me pareceu correto, e só. Tal como Abbado e a OS de Chicago.

Vamos tentar com o trio Verhey-Starker-Joo.

_________________
Va, pensiero, sull'ali dorate...

Carlos Pianovski · Enviada: Sáb Abr 25, 2009 12:01 am Assunto:

Caro Sarastro, bem lembrado! Tenho o vídeo em que Kaufmann canta um excelente Don José (ao lado de uma Antonacci com mais "baixos" que "altos" em termos musicais, apesar de bem cenicamente).

O alemão promete mesmo.

Saudações

Pianovski

Pádua Fernandes · Enviada: Sáb Abr 25, 2009 1:44 am Assunto:

Bruno Gripp · Enviada: Sáb Abr 25, 2009 4:08 pm Assunto:

Acaber de ouvir a sinfonia no. 49 de Haydn, de cognome, La Passione. Com ADam Fischer na batuta da Orquestra Austro-Húngara Haydn. Grandíssima gravação da sinfonia que tem o movimento lento mais lindo do classicismo.

E agora ouço, e acompanho a partitura no melhor site do mundo a sinfonia no. 98, uma das minhas preferidas, mesmos músicos.

Sarastro · Enviada: Sáb Abr 25, 2009 11:22 pm Assunto:

Carlos Pianovski · Enviada: Sáb Abr 25, 2009 11:56 pm Assunto:

Caro Padua, o problema e todo DELA. Florez canta isso ao vivo no tom certo e na afinação atual com um pé nas costas, inserindo e sustentando agudos não escritos.

Abraços
Pianovski

Carlos Pianovski · Enviada: Dom Abr 26, 2009 12:04 am Assunto:

Bruno, que site fantástico! Obrigado pela indicação.

Ricardovsky · Enviada: Dom Abr 26, 2009 12:05 am Assunto:

Depois da mensagem do Bruno, até me deu vontade de ouvir as sinfonias de Haydn com Fischer. Não fiquei só na vontade... Ouvi hoje as sinfonias 49, 50 e 51 do compositor. A sinfonia nº 51 também possui um movimento lento muito bonito (e, de fato, o movimento lento da 49 é lindo), em que os sopros aparecem praticamente em solo com aquela pulsação das cordas ao fundo, que tanto Haydn quanto Mozart eram mestres em fazer. Aliás, dentre as três sinfonias citadas, essa última, ao meu ver, é a que tem a orquestração mais brilhante.

Pádua Fernandes · Enviada: Dom Abr 26, 2009 4:02 pm Assunto:

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