Minha gravação favorita que nunca ouvi

Leonardo T. de Oliveira

É comum a gente se apegar à primeira gravação que conheceu de uma obra..., mas tudo bem, depois, com o tempo, não é mais necessariamente assim e logo a tal da conversa da "sofisticação", que ao contrário do que querem os naturalistas faz muito sentido na arte e na arte de apreciar a arte, acaba levando a gente a ter mais critérios e a não se entregar com tanta facilidade ao apelo da primeira gravação...

Ok. Mas, como todo mundo sabe muito bem, às vezes a gente sente que ainda não encontrou a nossa "gravação tô-contigo-e-não-abro" de uma obra! E não adianta criar a nossa versão em midi da coisa, que não é a mesma coisa... Enfim, tirando aqueles detalhezinhos - normais - que às vezes a gente ouve em uma gravação e divaga sobre como poderiam ter soado, às vezes a gente se sente realmente aberto a concordar com versões que a gente ainda nem ouviu, e nem sabe se já foram feitas!

Este tópico pensa em discutir quais os vazios existenciais que nós temos com relação a certas obras, e, talvez, dependendo das carências descritas por cada um, algum amigo possa sugerir o encontro das almas gêmeas.

Enfim, qual música ainda faz você esperar pelo seu príncipe encantado?

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Leonardo T. Oliveira

Leonardo T. de Oliveira · Enviada: Sáb Mar 03, 2007 1:45 pm Assunto:

Sonata para piano No. 3 em Fá menor Op. 5 de Brahms

Eu começo.

Ouvi poucas gravações dessa sonata. Com o grande Katchen, com um tal de Andreas Haefliger, com Roberto Plano (finalista do concurso Van Cliburn...), com um pianista francês em uma das Séries Latinas aqui em Curitiba (esqueci o nome e já não tenho onde consultar!), e com o Luiz Guilherme Pozzi, mas não vale porque não foi gravado, hehe...

Bom, essa sonata enorme é a maior das sonatas de Brahms, tem cinco movimentos, acordes baaastos, uma extensão generosa com o registro do piano, por onde os motivos da obra passeiam, e uma idéia de projeção de volume digna desse porte. Não é só pra essa sonata que o pianista deve ter volume e projeção, é pra toda a obra de Brahms, com seus baixos inconfundíveis, seus temas cantados em acordes e intervalos, suas tercinas preenchendo o acompanhamento, e o maneio da sua polifonia. Mas nessa sonata em especial isso tudo é o bicho...

O que sinto falta nela é até simples: andamento. No primeiro movimento acontece mais ou menos o que acontece no Concerto pra Violino: a coisa é tão expansiva que mesmo aquilo que há de incisivo na música acaba dependendo de um andamento pesado, piedoso ao intérprete e largo para a articulação de tanto volume. Pro Concerto pra Violino existe o Heifetz, e pra essa sonata?

Sei que o Kissin gravou, que o Nelson Freire gravou, que o Magaloff gravou, e acho que a Guiomar Novaes gravou.

Alguém sabe, enfim, de uma interpretação mais corajosa e pulsante dessa obra?

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Leonardo T. Oliveira

Amancio · Enviada: Dom Mar 04, 2007 9:43 pm Assunto:

Vish, tenho um monte desses casos pra contar! Até da Nona de Beethoven eu não consegui uma gravação 100%! Já já conto.

Leonardo T. de Oliveira · Enviada: Dom Mar 04, 2007 11:13 pm Assunto:

É mesmo! Às vezes umas Nonas têm tudo pra arrebentar, mas a escolha do time de solistas vêm pra deixar a gente com um pé atrás...!

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Leonardo T. Oliveira

Bruno Gripp · Enviada: Dom Mar 04, 2007 11:33 pm Assunto:

Sem dúvida é Don Giovanni. Mais tarde explico.

Laura

A quinta de Mahler.

Leonardo T. de Oliveira · Enviada: Seg Mar 05, 2007 6:48 pm Assunto:

Gosto de imaginar o motivo da gente não estar satisfeito com as interpretações que já conheceu. Falar sobre os motivos, por mais pessoais mesmo!, explora a intrigante idéia de que uma obra-de-arte pode não se esgotar nunca.

Aguardo interessado (e abusado no pedido, acho) por comentários.

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Leonardo T. Oliveira

Elimar · Enviada: Seg Mar 05, 2007 6:57 pm Assunto:

Quando morava no Rio, ouvi na rádio JB FM uma gravação da Grande Missa em Ré menor de Mozart. Karajan regendo a Filarmonica de Berlin e a estupenda Barbara Hendricks como solista.
Nunca mais ouvi esta gravação. Não foi a primeira, mas foi inesquecível...

ZpinoZ · Enviada: Seg Mar 05, 2007 7:43 pm Assunto:

São tantas...

Vale essa? Cool

1. O Concerto Para Violino e Orquestra em Ré Menor, Sibelius, Opus 47 com NIcoló Paganini, violino, e Berliner Philharmoniker com regencia de Hebert von Karajan.

Z

Amancio · Enviada: Ter Mar 06, 2007 9:33 am Assunto:

rogszter · Enviada: Ter Mar 06, 2007 2:06 pm Assunto:

Puxa, são tantas! Vou começar pelas mais básicas, que me vêm a cabeça agora:

1. Nona de Beethoven: sempre me decepciono com algum dos solistas
2. Barbeiro de Sevilha: nunca encontrei um conjunto satisfatório
3. Paixão de São Mateus: para mim tem que ser um meio termo entre uma interpretação demasiadamente "de época" e demasiadamente "moderna", ainda não encontrei o equilíbrio, e tampouco uma gravação que mantenha a mesma qualidade do começo ao fim

Rogerio.

SérgioNepomuceno · Enviada: Ter Mar 06, 2007 5:13 pm Assunto:

elimar, a babi é melhor embaixadora que cantora.
rogzter, procure pelo Abbado 72;não há o que reclamar musicalmente, definitivamente. QUAnto à paixão 2o S.Matheus, concordo. c/ instrumentos originais, temos mais vantsgens,como em termos de articulação e fraseado,além de maior nitidez de figuras (ex-aura de Jesus) e ganahmos em termos de dinâmica/pontuação. MAs também temos as poucas perdas como na emissão das madeiras barrocas quando expostas à grandes intervenções do coro. ÓBVIO que nem se questiona qual leitura mais apropriada; pra ficar em pouco,não há nada mais apropriado que as flautas obbligato em staccato no buss und reu do que numa leitura de época descrevendo as lágrimas(outro ex. de figura além da citada). mas como aqui las pequeñas cosas contam e esse é o espírito...

Ricardovsky · Enviada: Ter Mar 06, 2007 5:39 pm Assunto:

Eu iria abrir um tópico intitulado "música Frankenstein", mas esse esxecelente tópico do Leonardo me poupou do trabalho. Queria exatamente debater sobre músicas cujas interpretações estão de uma absurda perfeição para, de súbito, algo não cair bem ao ouvido. Daí o termo "música Frankenstein" para designar o nosso ideal, que é um pedaço de uma gravação unido ao de outra etc.

Já que o Bruno citou o Don Giovanni, isso acontece comigo nessa ópera. Tenho uma gravação do Norrington em que o Finale é demais, contudo, os solistas deixam a desejar nas árias, segundo minha opinião, se comparado com a gravação de de Krips, que também tenho e acho excelente. Mas já nessa última o finale não é tão dramático e me decepciona. O que fazer? "Música Frankenstein": junta o pedaço de uma com a de outra e fica perfeito para mim.

Laura · Enviada: Ter Mar 06, 2007 6:20 pm Assunto:

ZpinoZ · Enviada: Ter Mar 06, 2007 9:07 pm Assunto:

Puxa, puxa...

Lauríssima Laura
muito te agradeço,
é de lembrança rara
jamais me esqueço.

Sabe o que eu gostaria de saber, como se dariam Visconti e T.Mann. Presumo de muito bem. Será que se conheceram?

Z

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