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Entrevista de Nelson Freire no Estadão de hoje

 
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Autor Mensagem
Laura



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MensagemEnviada: Sáb Nov 04, 2006 6:16 pm    Assunto: Entrevista de Nelson Freire no Estadão de hoje Responder com Citação

Nelson Freire encontra Beethoven

João Luiz Sampaio

Para quem ficou 20 anos sem gravar, evitando a todo custo pisar em um estúdio, Nelson Freire está se saindo uma grata surpresa. Em 2004, assinou contrato de exclusividade com a Decca e, nos anos seguintes, lançou álbuns dedicados a Chopin e Schumann. Em agosto, apareceu o terceiro disco, com os concertos de Brahms. E agora, menos de três meses depois, chega o quarto do pacote, com sonatas de Beethoven. E ele não vem sozinho: o lançamento, na semana que vem, coincide com a chegada às lojas européias de uma caixa com três discos gravados por ele nos anos 70, dedicados a Chopin e Villa-Lobos. Detalhe: em iniciativa rara no mercado erudito, o álbum pode ser baixado pela internet.

Freire lança o álbum Beethoven (que traz as sonatas nº 14, nº 21, nº 26 e nº 31) no Brasil com uma pequena turnê, que começa amanhã no Rio, passa por São Paulo na quinta-feira e se encerra em Tiradentes, no dia 24. No Rio e em Minas, ele vai interpretar obras de Bach, Beethoven, César Franck, Francisco Mignone e Chopin. Em São Paulo, o repertório é surpresa - e os ingressos estão esgotados. 'Gostei da idéia de decidir o repertório em cima da hora. Acho que vou ver o que ficou melhor nos outros programas e aí repito', diz ele ao Estado, por telefone, de sua casa no Rio, durante entrevista na qual falou de Beethoven, do desejo de gravar uma antologia de música brasileira e do momento que vive na carreira.

->Sua volta ao mundo das gravações começou com Schumann e, na seqüência, vieram Chopin e Brahms, compositores com o qual sua carreira sempre foi associada. Chegou a vez de Beethoven. Era algo que estava previsto desde o início?

As gravações para a Decca estão sendo decididas no meio do caminho, na verdade. Só os concertos para piano de Brahms já estavam certos, isso porque o Riccardo Chailly (maestro da Gewandhaus de Leipzig) queria fazer e eu tinha gostado bastante da idéia. O Beethoven eu escolhi porque acho que é uma novidade na minha discografia. Já tenho muito Schumann, Chopin, quis variar. Eu adoro este repertório, amo mesmo. Mas é bom também fugir dos rótulos, não gosto de ser rotulado, quero variar. O privilégio do intérprete, acho, é poder viajar, mudar de mundo a cada concerto, cada recital.

->Como você definiria a importância das 32 sonatas de Beethoven dentro do repertório pianístico?

Acho, na verdade, que nessas sonatas você encontra a essência da genialidade de Beethoven. Elas são tão diferentes... Cobrem todos os períodos da carreira dele, desde o início, com influência de Haydn, passando pela revolução dos primeiros momentos do romantismo e chegando, nas últimas sonatas, à música moderna quase. Mas o que me interessa muito é quantidade fabulosa de emoções que você encontra nessas peças. Todas as que existem estão lá, de alguma maneira, você pode procurar (risos).

->Você já afirmou várias vezes que não gosta de ouvir seus discos, prefere os dos outros. Em Beethoven, que outro pianista lhe faz a cabeça?

Ah, são vários. Tem os especialistas, Artur Schnabel, Wilhelm Backhaus, Walter Gieseking, o Frederich Goulda, que gravou as sonatas nos anos 50. Mas também gosto dos não especialistas. Guiomar Novaes, Horowitz, Rubinstein. Beethoven tem isso, acomoda uma variedade muito grande de interpretações das mais diferentes vertentes.

->A Warner também acaba de lançar um disco com obras de Villa-Lobos. Você tem vontade de voltar a elas, inclusive com novas gravações?

Claro, tenho muita vontade. O repertório é vastíssimo e pouco tocado. As pessoas conhecem o nome de Villa-Lobos mas não conhecem a música dele. Mas aí quero fazer também uma antologia brasileira, com Francisco Mignone, Lorenzo Fernandes, Claudio Santoro. Se der, quero também fazer um disco com obras de Liszt, outro só com música de compositores franceses, um de Mozart. Ah, tem muita coisa!

-> A Warner está disponibilizando esse disco também em versão digital, para download, o que ainda é raro no mercado de clássicos. Esse flerte com a tecnologia te interessa?

Ih, não me pergunte nada dessas coisas de internet, e-mail, não tenho idéia de como funciona (risos). Acho que disco inteiro deve ser o primeiro, mas a Decca ia oferecer, quando eu lancei os concertos de Brahms, um Intermezzo dele e, agora, uma Bagatela de Beethoven, que não está no disco mas que eu gravei. Mas não sei como funciona, deve ter um botão desses aí que ajuda (risos).

-> No Rio e em Minas, você vai tocar um repertório variado, com Bach, Beethoven, César Franck, Albéniz, Mignone. Para São Paulo, está anunciado um repertório-surpresa. Eu sei que, se você contar alguma coisa, deixa de ser surpresa, mas...

Acho que vou fazer o seguinte, tocar os dois programas e aí ver o que ficou mais bonito, para repetir em São Paulo. Mas sabe que eu gostei muito da idéia do repertório-surpresa? É meio absurdo esse negócio de ficar prevendo com meses de antecedência o que você vai tocar, você nunca sabe o que vai ter vontade de tocar no dia, qual o clima, como vai sentir a platéia, essas coisas. Então é bom poder decidir assim, em cima da hora. Estou animado.

-> Quando você assinou o contrato com a Decca, disse que o disco tinha uma vantagem: podia viajar pelo artista, de forma que você esperava poder reduzir o ritmo de concertos. Mas sua agenda parece mais intensa do que nunca. O que deu errado?

Pois é, minha tática não funcionou, rapaz. No final das contas, estou viajando muito mais, indo para lugares que não conhecia, como a Coréia. E para eles é bom, porque ajuda a divulgar os discos. Tá terrível! (risos). Mas está sendo interessante, às vezes fico meio assustado, mas no fundo está bom assim.

-> Primeiro, foi o filme de João Moreira Salles, que levou seu trabalho a um público bem amplo. Agora, a participação, com a Melodia de Orfeu e Eurídice, na trilha da novela Páginas da Vida. Nelson Freire agora é pop?

(Risos). Quando eles vieram nos consultar, perguntando se podiam usar a gravação, eu e o João Moreira Salles ficamos em dúvida, talvez banalizasse demais se fosse o tema da novela. Mas depois ficamos sabendo que não seria o tema principal, então tudo bem. E novela é algo que atinge milhões de pessoas, então não deixa de ser uma maneira de difundir a música clássica pelo interior do País. Claro, o enfoque não é esse, mas é bom saber que você está chegando à gente que nunca tinha ouvido esse tipo de música.


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Milena



Registado em: Segunda-Feira, 6 de Novembro de 2006
Mensagens: 33

MensagemEnviada: Ter Nov 07, 2006 9:33 am    Assunto: Responder com Citação

Nossa, preciso ir atrás dessa gravação de Beethoven... gosto demais do Nelson Freire, também gosto demais de Beethoven, então acho que essa gravação acaba sendo um "must have" na minha coleção... Very Happy


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Phoebe



Registado em: Quarta-Feira, 13 de Dezembro de 2006
Mensagens: 343

MensagemEnviada: Sáb Abr 07, 2007 1:55 pm    Assunto: Responder com Citação

Transcrito do Uol
The NYT News Service

07/04/2007
Uma rara apresentação solo do virtuoso Nelson Freire oferece à platéia local um prazer de classe mundial, imprevisível
De Matthew Erikson

Se a menção de Nelson Freire deixa você coçando a cabeça, você não é o único. Comparado a pessoas como Martha Argerich ou Lang Lang, Freire não provoca o mesmo reconhecimento instantâneo nem conta com legiões de fãs. Mas entre os conhecedores de piano e fãs de música clássica, o entusiasmo pela arte do brasileiro é grande: ele é talvez o melhor pianista vivo que os americanos não conhecem.

Desde que Freire despontou no cenário musical nos anos 60 -primeiro como um premiado prodígio do piano, depois como um virtuoso profundamente elegante, mesmo que cada vez mais esquivo- a Europa tem sido seu principal território de trabalho. Apresentações neste país são raras e geralmente de concertos para dois pianos com Argerich, uma antiga amiga e colaboradora freqüente.

Mas Freire, 62 anos, reconheceu em uma recente entrevista por telefone em Paris que "neste ano, há muitas apresentações solo".

Freire se apresentará em Fort Worth (Texas) na noite de segunda-feira, em um recital no Bass Hall, a primeira de quatro apresentações que culminarão em um concerto do Museu Metropolitano de Arte de Nova York - em 19 de abril ( vide http://www.metmuseum.org/events/ev_cl_index.asp#a).

Recentemente, Freire também passou um tempo considerável no estúdio de gravação. Um contrato com a Decca rendeu meia dúzia de CDs, incluindo sua primeira gravação de Beethoven. CDs de Chopin, Schumann, Mendelssohn e Brahms - um disco ardoroso indicado ao Grammy com os concertos para dois pianos do compositor - reafirmaram o status de Freire como um intérprete proeminente do repertório romântico.

"Nelson possui esta incrível mistura de qualidades, de um som extremamente musical, poético, belo a uma técnica que é absolutamente incrível", disse José Feghali, o brasileiro que conquistou a medalha de ouro Cliburn de 1985 e atualmente é professor de piano na Universidade Cristã do Texas. "Ele dominou a arte da simplicidade na música, o que é muito difícil de se atingir, especialmente no piano."

Como muitos outros pianistas brasileiros, Feghali considera Freire um modelo e herói. (Freire encorajou o desenvolvimento musical de Feghali na adolescência e abriu o caminho para ele estudar em Londres.) Mas Freire, que nasceu na cidade de Boa Esperança, a cerca de 320 quilômetros ao norte de São Paulo, faz parte de uma tradição brasileira no piano muito maior. A lendária pianista Guiomar Novaes ajudou a colocar o Brasil no mapa musical na primeira metade do século 20, uma era de ouro para o piano em seu país.

Pianistas como Arthur Rubinstein tornaram o Brasil uma parada importante em suas turnês, e compositores como Heitor Villa-Lobos acrescentaram significativamente ao repertório de piano.

Freire considera sua formação brasileira importante para sua música. "É bom de certa forma porque você não está atado às tradições - você está aberto a muitos aspectos diferentes da música alemã, francesa ou russa para piano", ele disse. "Você não tem esta coisa, 'Oh, esta é minha música'."

Para os ouvintes, significa que você nunca saberá ao certo o que escutará no palco. "Eu já o ouvi tocar 'Carnaval' de Schumann cinco vezes e todas foram diferentes", disse Feghali. "Foi uma das coisas mais maravilhosas. Todas eram diferentes e todas maravilhosas."

Para Freire, a mesma espontaneidade pode se tornar frustrante quando se trata de gravar e da necessidade de produzir uma interpretação autorizada.

"Isto é o que é bom em concertos, porque você pode tocar a mesma peça muitas vezes e de muitas formas diferentes", ele disse. "Minha personalidade é assim. Eu sou de Libra, que está sempre entre isto e aquilo. Eu não tenho uma opinião definida sobre as coisas... sempre depende."

Faz 14 anos desde que Freire se apresentou pela última vez no Metroplex, e naquele mesmo ano, 1993, ele também fez parte do júri do Cliburn. Freire disse que seu medo de voar é o principal motivo para não se apresentar com mais freqüência nos Estados Unidos.

Mas ele também gosta de se apresentar apenas quando sente que está em excelente forma. Neste sentido, seu modelo é o pianista Josef Hofmann, do início do século 20, que mantinha um regime de três meses de apresentações, três meses de descanso, três meses de ensaio de um novo repertório e três meses "inventando".

"É preciso preservar o prazer de tocar música", disse Freire. "Caso contrário, não é bom."

"Eu não o culpo por não gostar de fazer 50 concertos por ano", disse
Feghali. "Às vezes ficamos tentados a julgar a carreira ou valor de alguém por sua fama e por quantos concertos faz."

Feghali considera o concerto de segunda-feira uma rara oportunidade. "Isto não deve ser perdido", disse o professor, que tornou obrigatória a ida ao recital para todos seus estudantes de piano. "Eles perderão nota se não forem."


Tradução: George El Khouri Andolfato


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Pádua Fernandes



Registado em: Terça-Feira, 7 de Novembro de 2006
Mensagens: 1229
Localização: São Paulo

MensagemEnviada: Dom Abr 29, 2007 12:09 am    Assunto: Responder com Citação

Aqui, pode-se ler crítica do jornal The New York Times do último recital de Nelson Freire em Nova Iorque. Ele tocou Bach/Busoni, a segunda sonata de Chopin, Beethoven (a sonata Waldstein, que está em seu último disco), Albéniz (Evocação e Navarra), Debussy. Para Bernard Holland, em alguns pontos Freire tocou rápido demais, o que fez o recital ficar "between a deeply musical evening and a day at the races". Mas se trataria de um pequeno senão, e seria uma pena o pianista não aparecer mais vezes naquela cidade.
http://www.nytimes.com/2007/04/21/arts/music/21frei.html?ei=5070&en=7474a7d1357ffbe7&ex=1177905600&adxnnl=1&adxnnlx=1177815600-FGYLBEEWlCvXHgvQvw7U/A


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