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Bruno Gripp
Registado em: Quinta-Feira, 2 de Novembro de 2006 Mensagens: 725 Localização: Belo Horizonte
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Enviada: Ter Jan 30, 2007 4:37 pm Assunto: Les Troyens, de Hector Berlioz |
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Este tópico é para discutir uma das maiores óperas do século XIX e seguramente a maior Grand Opéra de todos os tempos. História, composição, a difícil luta para conseguir se estabelecer no repertório, a despeito da opinião da crítica.
Para iniciar as discussões (e espero que não vire um monólogo, por mais que esta ópera seja preterida a muitas outras bem inferiores, no names of course) acho que seria interessante comentar um curioso fato estilístico que é a sua forma perfeitamente clássica. A divisão entre os números é perfeitamente sensível (embora sua conclusão nunca seja com uma cadência perfeita, a primeira cena, por exemplo, termina na dominate, Sol Maior, e migra para dó menor), alguns deles têm a forma bem clara, um primeiro tema, uma modulaçào, uma reprise, o molde da melodia vocal é bem clássico (e não o é tanto o da orquestra), e assim o é o tema. Claro que a harmonia de Berlioz é bastante cromática (mais do que eu imaginava, aliás), mas formalmente, Les Troyens é uma ópera surpreendentemente conservadora.
E o que é realmente curioso, é a recusa em Berlioz em usar na ópera um recurso que estava na moda na época e que ele mesmo tinha se valido em algumas de suas obras orquestrais, que são os motivos recorrentes. Eles são bem proeminentes na sinfonia fantástica, em Haroldo na Itália, mas estão completamente ausentes de suas obras cênicas. De uma certa forma, a recusa de Berlioz é única em sua época, uma vez que praticamente todos os compositores de ópera da época lançavam mào com maior ou menor sistematicidade este recurso. Berlioz faz isto conscientemente. Tudo isso se explica, creio, com a paixão que Berlioz tinha por Gluck, que foi tão forte a ponto de influenciá-lo decisivamente na composição de suas obras dramáticas.
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Bruno Gripp
Registado em: Quinta-Feira, 2 de Novembro de 2006 Mensagens: 725 Localização: Belo Horizonte
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Enviada: Ter Jan 30, 2007 5:08 pm Assunto: |
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Uma característica composicional que está me chamando a atenção é o amor de Berlioz pelo trítono melódico e pela segunda menor descendente (e sua inversão, a sétima maior). São especialmente frequentes na música composta para Cassandra, muitas vezes ligados ao texto "ma sombre inquietude" por exemplo, termina com uma "cadência" em dó-fa# descendente (música em dó menor, sem harmonia no momento, ou seja, a inserção do fa# é completamente voluntária). Na modulação, Berlioz também gosta muito de modular para o trítono ou sétima maior, especialmente quando Berlioz quer mostrar que os personagens estão muito distantes uns dos outros e nào se compreendem. Isto é muito claro no grande dueto entre Cassandra é Córebo. Cassandra termina a sua ária e inicia um breve recitativo na tonalidade da ária anterior: dó menor, mas na entrada de Córebo no teatro, a tonalidade muda bruscamente para si maior, uma forma bastante clara de mostrar a distância entre os amantes. Depois a música fica em si maior, vai para mi maior, apresenta uma certa alternância entre mi maior e dó maior para ir para fá maior (segunda menor de mi) e inicar a "romanza" de Córebo "Mais le ciel et la terre, oublieux de la guerre", um momento belíssimo, de lirismo extremo. Quando acaba este episódio, Cassandra volta em trítono de novo, rasgando, retornando ao Si maior, o episódio termina em Si maior, mas nào completa a cadência (atenção gente, na versão da Variations tem uma cadência completa de Si menor, mas isso evidentemente não é o que acontece na partitura original, pelo meu ouvido a música termina incompleta em fá maior) e modula para Dó maior, uma segunda menor.
Ou seja, há muita coisa interessante na música dessa ópera magnífica.
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