Aparências de quem curte música erudita...

Leonardo T. de Oliveira · Enviada: Dom Dez 10, 2006 4:27 am Assunto:

Fábio tem razão. O tema é engraçado, etc. - eu já estou pra perguntar quem aqui já pulou de paraquedas, andou de jet ski, entre outras coisas arbitrárias... -, mas espero que no fundo todo mundo concorde que gostar de música erudita não tem por onde encontrar relação direta com a roupa do ouvinte. Suspeito que o tópico tente dar certa extensão a uma vaidade que, pelo caminho incerto da queixa de ser "excluído", busca o consolo de justificar tal exclusão com virtudes: somos excluídos porque somos estranhos, porque somos incompreendidos, porque somos loucos, porque somos excepcionais, porque somos geniais. Ahh, sim..., a loucura se confunde facilmente com a genialidade hoje em dia...

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Leonardo T. Oliveira

Ricardovsky · Enviada: Dom Dez 10, 2006 9:46 am Assunto:

Hoje em dia?! Desde os gregos, caro Leonardo. Esqueceu-se dos poetas que, em delírio, possuídos pela divindade, entoavam os seus cantos?

Faz um tempão que não conversamos sobre bibliografia, não é? Mas aqui mesmo no Presto recomendo a você e a qualquer um que se interesse (especialmente ao Bruno, se ele não conhece) um livrinho magnífico e baratinho:

ARISTÓTELES. "O Homem de Gênio e a Melancolia - o Problema XXX,1" (apresentação e notas: Jackie Pigeaud). Lacerda Editores.

Na verdade, trata-se de um pseudo-Aristóteles, sendo uma espécie de texto médico. O texto do Problema XXX é bilíngue (grego-português), o que é ótimo para nós, estudiosos do grego clássico. O estudo de Pigeaud, que antecede ao texto, é excelente, e trata exatamente dessa questão da loucura na antiguidade. O Problema XXX, para se ter uma idéia, é um texto que faz referência a uma loucura causada pela própria mistura (krâsis) que nos constitui, ou seja, ele concede uma explicação fisiológica para a loucura, opondo-se assim ao agente externo sobrenatural que chega ao homem para torná-lo um ser em delírio. Um barato.
Ah sim, os indivíduos que possuem em excesso a bile negra (melancolia, que é diferente da melancolia hoje) são melancólicos e, por isso, propensos à genialidade.

Sarastro · Enviada: Dom Dez 10, 2006 12:09 pm Assunto:

Complementando: hoje de manhã, no canal AXN, passava algum seriado no qual um ex-policial era uma espécie de serial killer.
Em um dado momento, ele estacionou o carro sob um viaduto, onde queimaria o corpo de algumas vítimas.
Ao fundo, "Casta Diva".

Depois dessa, vou até reorganizar minha coleção de cérebros humanos em conserva.

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Va, pensiero, sull'ali dorate...

FernandoRandau · Enviada: Dom Dez 10, 2006 12:29 pm Assunto:

Certo, mas... qual o problema de ser ridicularizado pelo modo de se vestir? E não fazemos isso como todos os outros? Por que meu modo de se vestir deve ser menos criticado? Pra ser franco, acho uma pretensão sentir problema nisso, que estou sofrendo um grande preconceito pelo meu habitus - a saber, todo um estilo e postura de vida que tenho como ouvinte de música clássica, ou como admirador das belas artes, ou ainda como leitor interessado das riquezas culturais da humanidade... etc

No way, moço. Você só se sente ridicularizado se quiser. O povo me vaia, mas em casa eu chega e admiro as jóias na arca, já dizia o ditado romano... Wink

Saudações cordiais,

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F.R.

Leonardo T. de Oliveira · Enviada: Seg Dez 11, 2006 9:56 pm Assunto:

Ah, sim! Muito obrigado pela indicação, Ricardo! : )

Acho instigante nós mesmos fazermos o trabalho "cético" de interpretar a influência dos ritos da religião na literatura clássica...: a questão do oráculo, das musas, etc. Faz a gente lembrar que uma narrativa que parece tão natural se aceitarmos a relação do poeta com a sua musa e com o sagrado, na verdade, com o devido ceticismo, é mais complexa que isso! rsrs. Algo que já li a respeito do papel do aedo nesses termos foi o capítulo dedicado à literatura grega do "História Social da Arte e da Literatura", de Arnold Hauser. O livro é um tijolo, respeitavelmente panorâmico, que tem lá sua busca pelo discernimento de papéis e classes sociais que pode levá-lo a idéias forçadas..., se é que me entendem... (ou não, mas falar em "classes sociais" parece sempre dar um tom sutil pra qualquer conversa que não queira adentrar no assunto), mas a bibliografia incrivelmente copiosa que ele apresenta o torna tão repleto de idéias que é impossível não reconhecer que ele tem muito a dizer no que se propõe.

E, finalmente, retomando a medula do tópico, Randau é o homem do savoir afaire em que devemos nos espelhar.

[]'s.

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Leonardo T. Oliveira

~MARCOS~ · Enviada: Ter Dez 12, 2006 5:23 pm Assunto:

~MARCOS~ · Enviada: Ter Dez 12, 2006 5:31 pm Assunto:

Bosco · Enviada: Ter Dez 12, 2006 5:44 pm Assunto:

Engraçado esse negócio dos estereótipos e como a realidade é bem diferente. Como já foi dito aí, tanto é difícil encontrar um bandido psicopata como um nerd ouvindo música clássica no Brasil. Aliás, ninguém ouve música clássica no Brasil. Aqueles que escrevem nesse site estão lá no finzinho da gaussiana. Um grupo que se sumir do Brasil não fará diferença nas estatísticas.

Doctor Marianus · Enviada: Ter Dez 12, 2006 6:23 pm Assunto:

Ontem, na novela das 7 (que não assisto!!!!! Liguei a TV quando cheguei em casa e por coincidência vi esta cena) o personagem de Fulvio Stefaninni, que parece ser meio psicopata, ouvia o 2º movimento da Quinta de Mahler.

Li também em algum lugar que Doca Street também apreciava Mahler, em especial a Nona Sinfonia.

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Doctor Marianus
BLICKET AUF!
http://doktormarianus.blogspot.com/

(berber) · Enviada: Ter Dez 12, 2006 7:15 pm Assunto:

"...ele disse que gostava de ler os classicos e biografias de pessoas famosas, alem de ouvir musica classica. Sendo seus tenores prediletos Mario Lanza and Luciano Pavarotti, alem da musica de Mozart, Chopin and Liszt."
"Bill MacDonald pareceria mais a vontade tocando um violino ou regendo uma orquestra do que sentado a nossa frente na prisao, contando a historia triste de sua vida."

"Hitler sempre andava diagonalmente de um lado para o outro numa determinada sala, assobiando uma marcha.... Ele detestava os privilegiados, MAS gostava de musica classica, vaudeville e operas de Richard Wagner."

Quotas sobre serial killers....

ZpinoZ · Enviada: Ter Dez 12, 2006 7:28 pm Assunto: Dois lados

Curiosos os caminhos que tem tomado este tópico.

Considerando a argumentação do Dr. Marianus, como antítese, também não e dificil lembrar inumerávies momentos sublimes do cinema pontuados por música clássica. E sem pensar nos óbvios: Kubrick. Bergman, Visconti...

Por outro lado, no Dragão Vermelho (Brett Ratner), eu acho que o flautista que desafinava na orguestra mereceu...

Douglas

Leonardo T. de Oliveira · Enviada: Ter Dez 12, 2006 7:33 pm Assunto: Re: Dois lados

ZpinoZ · Enviada: Ter Dez 12, 2006 7:37 pm Assunto: Maldade

Que maldade Maestro, descontextualizar minha ironia Cool

Douglas

~MARCOS~ · Enviada: Qua Dez 13, 2006 6:45 pm Assunto:

Depois que Anthony Hopkins mata o carcereiro em O Silêncio dos Inocentes, ele ouve uma peça para piano (acho que é Bach ou Debussy, faz mais de 10 anos que assisti a este filme), ainda bem que não me lembro da música...

Guiomar · Enviada: Qua Dez 13, 2006 7:09 pm Assunto:

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