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Ciclos de Quartetos de Cordas - Qual o seu preferido?
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Ciclos de Quartetos de Cordas - Qual o seu preferido?
Bártok
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Beethoven
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Haydn
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Mozart
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Schönberg
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Schubert
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Shostakovich
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Villa-Lobos
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Outros
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Autor Mensagem
Amancio



Registado em: Segunda-Feira, 6 de Novembro de 2006
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MensagemEnviada: Qua Abr 01, 2009 11:00 am    Assunto: Responder com Citação

Permitam-me? (já pedindo desculpas ao Ivan por fugir um pouco do foco)
Paulo Egídio escreveu:
Os quartetos atuais são excelentes, não há nada de errado com eles. Mas não dá pra comparar gravações com tanta leviandade. A engenharia de som moderna dá um banho, a ressonância das gravações é quase irreal e impressiona muitos incautos.

Glenn Gould foi um revolucionário por mostrar ao mundo que, dentro de um estúdio, vale tudo. Ele corrigia suas próprias execuções editando as gravações em estúdio, resultando em frankensteins maravilhosos que temos hoje disponíveis em CD. Nabucco, um antigo participante aqui do fórum, dizia que gravação é gravação, música de verdade é só ao vivo. Não sou tão radical assim, mas concordo que as duas coisas não podem ser comparadas facilmente.

Eu posso dizer com segurança que sou um fã de carteirinha do Quarteto Emerson, é um dos melhores quartetos em atividade (ô Paulo, os dois violinistas estudaram com o Oscar Shumsky!). Eles tem um som vigoroso, com bastante ataque, o que faz deles uma referência por exemplo em Bartók, onde o som áspero do grupo ressalta o lado "animal" dos quartetos 3 e 4. Pra mim, o final do Op.131 de Beethoven foi escrito para o Emerson, com aquela exatidão milimétrica do ritmo pontuado. Mas não dá pra negar que metade daquilo é produto de estúdio. A fuga do Razumovsky 3, por exemplo, eles tocam numa velocidade que é impossível tecnicamente de reproduzir ao vivo - corda nenhuma de viola ou violoncelo responde naquela velocidade, não é problema de agilidade do músico, é um limite físico imposto pela espessura das cordas. Outro produto de estúdio é o Octeto de Mendelssohn, que eles gravaram com eles mesmos (!!). A gravação é sensacional, e a opinião não é só minha: eles ganharam 2 Grammy Awards, melhor performance de música de câmara e melhor engenharia de som. Os dois vídeos abaixo mostram o processo de gravação, vale à pena assistir - dá pra se ter uma idéia do que um estúdio pode fazer hoje em dia.
http://www.youtube.com/watch?v=pNCNX8MDgHk (parte 1)
http://www.youtube.com/watch?v=fvWnApMKqmU (parte 2)

IvanRicardo escreveu:
Minha decepção referente a este quarteto tem por base dois aspectos: primeiro, a qualidade da gravação (coisa que não tem nada a ver com a qualidade técnica do conjunto); segundo: comparativamente com outros grupos o Amadeus não se sobressaiu em nenhuma versão dos 16 quartetos de Beethoven mais a Grande Fuga, opinião minha. (...) Eles não são impecáveis como muita gente fala.

Amadeus gravou a integral de quartetos de Beethoven para a Deutsche Grammophon entre 1959 e 1963. Infelizmente, nessa época, a DG tinha uma técnica de gravação péssima se comparada com outras gravadoras como a Decca e Emi. Não só eles saíram prejudicados, mas também Kubelik com as integrais de sinfonias de Dvorak e Mahler. Karajan preferiu regravar quase tudo depois (infelizmente com qualidade artística menor).

Quanto a ser impecável, bem, isso pra mim não é sinônimo de boa gravação. A melhor gravação que eu conheço da Canção da Terra (Klemperer-Ludwig-Wunderlich) tem um erro desgraçado na primeira canção, um triângulo que soa fora de tempo. A Nona Sinfonia de Beethoven do Furtwängler, aquela mesma que definiu que um CD padrão teria 74 minutos, tem uma hora no movimento final onde os tímpanos trocam sua parte pela dos trombones (imagino que o músico ou o copista se perdeu olhando a grade) - e mesmo assim a gravação é uma referência. No mais lindo Sexteto 1 de Brahms que eu conheço, o sr. Isaac Stern se perde na entrada da reexposição do primeiro movimento e pára de tocar, deixando Pablo Casals e Madeline Foley tocando o tema sozinhos (mas também, quando ele volta, vc perdoa ele e todas as suas gerações).


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Pádua Fernandes



Registado em: Terça-Feira, 7 de Novembro de 2006
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Localização: São Paulo

MensagemEnviada: Qua Abr 01, 2009 12:50 pm    Assunto: Responder com Citação

Amancio escreveu:
Permitam-me? (já pedindo desculpas ao Ivan por fugir um pouco do foco)
[...]
Glenn Gould foi um revolucionário por mostrar ao mundo que, dentro de um estúdio, vale tudo. Ele corrigia suas próprias execuções editando as gravações em estúdio, resultando em frankensteins maravilhosos que temos hoje disponíveis em CD.


De fato. O que não nos impede de preferir, por vezes, as gravações ao vivo dele, seja dos recitais no início da carreira, seja as realizadas para o rádio ou para a tevê. Afinal, ele tinha a técnica para fazer aquilo tudo...

Amancio escreveu:

Quanto a ser impecável, bem, isso pra mim não é sinônimo de boa gravação. A melhor gravação que eu conheço da Canção da Terra (Klemperer-Ludwig-Wunderlich) tem um erro desgraçado na primeira canção, um triângulo que soa fora de tempo.


Nossa, Amancio; nunca tinha reparado nisso. Realmente, o Klemperer, artista de ideologia muito diferente de Gould, não dava muita importância a esse tipo de perfeição de estúdio. Ele corrigia pouco e gostava que as gravações fossem feitas como se fossem concertos ao vivo. Veja o que acontece no terceiro movimento da Nona de Mahler na gravação com a Philharmonia... Mesmo assim, gosto mais dessa gravação do que o disco de estúdio que Karajan fez para a DG.
Há também o risco de a busca do impecável paralisar a interpretação.


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Sarastro



Registado em: Quinta-Feira, 2 de Novembro de 2006
Mensagens: 900
Localização: Brasil

MensagemEnviada: Qua Abr 01, 2009 10:04 pm    Assunto: Responder com Citação

Há, na Complete Mozart Edition da Brilliant, um CD com o Prégardien intrpretando obras maçônicas. Em uma das canções ("An die Freundschaft" (O heiliges Band) KV 148 (125h))", há um erro perceptível na entrada de uma das estrofes. O chamado "deixa que eu deixo". E nem por isso a gravação deixa de ser uma das mais agradáveis do CD.

Amancio, estava prestes a comprar esta gravação de Mahler que você mencionou. Com seu aval, fico até mais animado em adquiri-la sem tê-la ouvido previamente.



_________________
Va, pensiero, sull'ali dorate...
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Paulo Egídio



Registado em: Quinta-Feira, 16 de Novembro de 2006
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Localização: Maringá/PR

MensagemEnviada: Qui Abr 02, 2009 7:52 am    Assunto: Responder com Citação

IvanRicardo escreveu:
Caro Paulo Egídio, vamos lá!

E com calma para não perdermos o foco, ok? Em hipótese alguma faltei com o bom senso em meu comentário. Creio que você não leu muito atentamente o que eu disse. O termo “horripilante” aplicado refere-se única e exclusivamente ao início do presto do Op.131 e jamais poderá ser um adjetivo para o Amadeus, claro que não. Minha decepção referente a este quarteto tem por base dois aspectos: primeiro, a qualidade da gravação (coisa que não tem nada a ver com a qualidade técnica do conjunto); segundo: comparativamente com outros grupos o Amadeus não se sobressaiu em nenhuma versão dos 16 quartetos de Beethoven mais a Grande Fuga, opinião minha.

O acorde inicial do Presto com o Amadeus é muito feio sim, mas é uma coisa minúscula. Não precisa fazer, Paulo Egídio, uma tempestade com uma gota dágua, entende? Eles não foram felizes neste pequeno trecho. Eles não são impecáveis como muita gente fala.

Minha listagem foi baseada num único aspecto: minha própria satisfação. Ouvi os quartetos suficientemente para escolher minhas preferências. Uma coisa eu tenho certeza, de que dificilmente alguém me convencerá que o Melos e o Emerson são inferiores ao Amadeus. Volto a repetir: a pujança, o ímpeto, a força e a expressividade beethovenianas estão muito mais latentes naqueles dois conjuntos, eu não tenho a menor dúvida disso.

Outra coisa: muito cuidado, Paulo, ao utilizar o termo "leviandade" quando discordar de algum comentário alheio sobre música erudita. Escuto música com um único propósito: o prazer. Sou incapaz de apontar quando um conjunto erra ou desafina, mas sou perfeitamente capaz de saber o que me causa satisfação. Leviandade é discordar sem justificar (que aspectos fazem do Amadeus o melhor conjunto? Eles não erram? Ou erram menos que os outros? São mais talentosos? Fazem coisas que ninguém consegue? O quê?). Leviandade também é não ter a mente aberta.

Além do Amadeus e dos cinco conjuntos incluídos na minha lista, ouvi também: Italiano, Vegh, Talich, Julliard, Lindsay, Tokyo, Borodin, Takacs, Hollywood, Médici, Hongrois e Budapest, o que dá 18 conjuntos no total, mas talvez eu tenha esquecido de algum outro.

Gostaria de te fazer umas perguntas: conheces as versões da minha lista? Você já comparou essas versões uma a uma com as do Amadeus? O que, musicalmente falando, favorece o Amadeus? Se não me engano você é músico profissional, e é ótimo ouvir comentário de gente que entende. Mas te digo uma coisa: duvido que Beethoven iria reprovar a minha lista!



Todo mundo errou no palco um dia, até o Heifetz. Não é este o ponto.

Existem nuances musicais que só os quartetos antigos possuem, os modernos não. Isto é uma característica que vem da diferença em se estudar um instrumento antigamente e a forma "moderna", que exige perfeição técnica, na maioria das vezes em detrimento de alguma ousadia artística.

O grande problema das interpretações modernas na maioria dos instrumentistas de cordas, mesmo os super-virtuoses, é a dissociação entre o instrumento e o canto. Os violinistas eram educados a, de certa forma, imitar o canto, e dá pra entender claramente nisto a diferença de sonoridade entre Heifetz, Szeryng, Francescatti, David Oistrakh, e Shaham, Korcia e cia, com honrosas exceções na geração intermediária - Kyung (sou fã dela), Perlman e Zuckerman da galera Galamian, e especialmente o Kremer, que é e sempre será o grande gênio da sua geração.

Esta forma de educação musical se reflete nos grupos de câmara. Os grandes professores de violino do início do século XX - especialmente Rostal - falavam numa qualidade sonora que deveria ser buscada no instrumento de cordas. O termo que o Rostal usava é de difícil tradução, mas é algo como "balanço", nuance, a preocupação em não fazer um som chapado, igual do início ao fim. A geração do Rostal, a chamada "golden age" do violino, une alguns violinistas com técnica assombrosa com outros menos assombrosos, mas todos eles com esta maravilhosa veia artística, desenvolvida desde sempre, quase de modo mais importante que a técnica. Na hora que o violino se dissociou do canto produziu uma chatice artificial.

Há violinistas antigos que não são tecnicamente comparáveis nem aos grandes da sua geração nem aos posteriores, mas que dá pra ouvir o dia inteiro sem cansar. Um exemplo? Fritz Kreisler. E há os que atingiram um nível técnico absurdo e além disso possuíram a tal veia artística sobrevalorizada. Hoje em dia há gente tecnicamente formidável, mas tente ouvir 4 CDs deles seguidose contenha a sensação de que está enjoando. Já o Campoli, dá pra passar 15 dias ouvindo e sempre se surpreender com nuances inusitadas. Mas o cara foi educado a ouvir canto e tentar imitar no violino desde criança, e isto na época de Caruso! Resultado? Ouça o cara e me diga.

Tudo isto, claro, se reflete nos quartetos de cordas. Não existe mais este balanço. Existe fraseado, mas não parece canto na maior parte das vezes. Quartetos como Végh, Guarneri, primeiro Fine Arts, Amadeus, Húngaro, que talvez seja o melhor de todos - imagine o absurdo, Sandór Végh no segundo-violino!!! - não foram igualados.

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Exemplos daria pra citar um monte, vou me reportar a um, fugindo a Beethoven: Terceiro quarteto de Brahms, terceiro movimento, "aquele" solo de viola, com os outros instrumentos em surdina.

Ouça todas as gravações disponíveis, pulando a do Amadeus. Daí ouça a do Amadeus e... jogue todas as outras fora. Ouça o Peter Schidlof tocando aquilo. É o som mais lindo de viola do século XX, incluindo todos os super-virtuoses, Anorovitz, Barshai, Bashmet, Primrose, Zuckerman. Mas não é só a beleza de som, é o valor artístico, as nuances absurdas, aquelas coisas que estúdio nenhum produziria, o cara canta com o instrumento (e logo a viola! risos).

Este tipo de mérito artístico, que nesta gravação específica beira o sobre-humano, permeia todas os registros do Amadeus, porque está no sangue, na formação artística deles. Sempre há momentos maravilhosos, soluções musicais, fraseado, balanço, num nível que os quartetos modernos não têm.

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Então, tentando resumir minha papagaiada:

O instrumento não pode se dissociar do canto. O som chapado, buscando antes o volume e depois o timbre, é e sempre será artisticamente inferior.

A educação musical "top" hoje privilegia, na maior parte das escolas, o sonzão. Em consequência a arte está sendo deixada de lado.

O tipo de sonoridade dos quartetos de cordas modernos reflete esta tendência. As pessoas querem ouvir na sala de concerto tudo com o mesmo volume que ouvem no seu aparelho de som de 600 W RMS na sua casa. Mas não se dão conta do que perdem com esta exigência. Ganham o som de engenheiros, e não o de músicos.

Ah, ciclos completos de Beethoven não ouvi tantos quanto você, mas ouvi bons trechos de quase todos que você citou. Me surpreendeu positivamente você citar o Húngaro (se for o antigo, não sei se existe um quarteto moderno com este nome), mas falta ouvir o Guarneri.

E Beethoven reprovaria boa parte da sua lista, sim. Porque, por mais que digam que na época dele o som dos instrumentos era diferente, porque o processo de modernização estava em curso, etc., o que é verdade, ele é da época em que o violino era cantado, chorado, se buscavam timbres, e certamente ele exultaria ao ouvir Norbert Brainin.

E um PS pro compadre Amancio: O Shumsky foi um excepcional violinista, mas não é o exemplo mais bem-acabado de som da golden age, e os alunos dele não entenderam algumas coisas de som dele, com certeza... Smile

Abraços.


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Amancio



Registado em: Segunda-Feira, 6 de Novembro de 2006
Mensagens: 1102
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MensagemEnviada: Qui Abr 02, 2009 8:42 am    Assunto: Responder com Citação

Sarastro escreveu:
Amancio, estava prestes a comprar esta gravação de Mahler que você mencionou. Com seu aval, fico até mais animado em adquiri-la sem tê-la ouvido previamente.

Vai com fé, irmão!

Paulo Egídio escreveu:
E um PS pro compadre Amancio: O Shumsky foi um excepcional violinista, mas não é o exemplo mais bem-acabado de som da golden age, e os alunos dele não entenderam algumas coisas de som dele, com certeza... Smile

Risos. Very Happy


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Ricardovsky



Registado em: Segunda-Feira, 6 de Novembro de 2006
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MensagemEnviada: Qui Abr 02, 2009 3:13 pm    Assunto: Responder com Citação

Vou correndo ouvir feliz da vida a minha integral dos quartetos de Beethoven com o Amadeus, a única integral dos quartetos de Beethoven que fiz questão de comprar!!! Very Happy

Bem, agora também tenho a integral com o Quarteto Guarneri, que está na Beethoven Edition da Brilliant, mas confesso que ainda não ouvi devidamente. Mas tive que me segurar na poltrona na interpretação deles da Grande Fuga.


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IvanRicardo



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MensagemEnviada: Qui Abr 02, 2009 10:30 pm    Assunto: Responder com Citação

Excelente postagem, Paulo Egídio. Uma aula musical, sem dúvida. Um trecho, em particular, me chamou a atenção: “Mas não é só a beleza de som, é o valor artístico, as nuances absurdas, aquelas coisas que estúdio nenhum produziria, o cara canta com o instrumento”. Seu raciocínio, então, completou-se da seguinte maneira: “Este tipo de mérito artístico, que nesta gravação específica beira o sobre-humano, permeia todos os registros do Amadeus, porque está no sangue, na formação artística deles. Sempre há momentos maravilhosos, soluções musicais, fraseado, balanço, num nível que os quartetos modernos não tem.”

Será? Eu gosto demais de música, mas não sou fã de nenhum músico (intérprete, obviamente). Entenda: beleza de som, nuances absurdas, soluções musicais, fraseado e balanço não garantem, em hipótese alguma, BELEZA MUSICAL. Música, pra mim, tem um sentido mais amplo, não o sentido de tocar, interpretar, executar, mas o sentido abstrato do belo, que está acima de tudo isso.

Como assim? Você não pode garantir que os quatro melhores instrumentistas do mundo formem o melhor quarteto do mundo, é lógico. Pois te digo: nunca pensei que os quartetos de Beethoven fossem tão bonitos. O Melos, o Emerson e o Kodaly desvendaram coisas que com o Amadeus eu não conseguiria encontrar. Eles me fizeram emocionar mais, relaxar mais, penetrar mais profundamente no universo musical. Enfim, me deixaram mais feliz. Mas lógico, gosto e gosto e isso não se discute. Só acho uma pena você não se interessar muito por eles.


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Pádua Fernandes



Registado em: Terça-Feira, 7 de Novembro de 2006
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MensagemEnviada: Sex Abr 03, 2009 1:18 am    Assunto: Responder com Citação

Para chegar à abstração do belo, pessoas como eu precisam da concretude do som. Por isso, dou muita importância aos intérpretes. O trabalho deles é muito difícil, ainda mais no repertório em que a busca do belo acarreta grandes dificuldades técnicas na execução, como várias vezes é o caso de Beethoven.


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Paulo Egídio



Registado em: Quinta-Feira, 16 de Novembro de 2006
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MensagemEnviada: Sex Abr 03, 2009 8:07 am    Assunto: Responder com Citação

IvanRicardo escreveu:
Excelente postagem, Paulo Egídio. Uma aula musical, sem dúvida. Um trecho, em particular, me chamou a atenção: “Mas não é só a beleza de som, é o valor artístico, as nuances absurdas, aquelas coisas que estúdio nenhum produziria, o cara canta com o instrumento”. Seu raciocínio, então, completou-se da seguinte maneira: “Este tipo de mérito artístico, que nesta gravação específica beira o sobre-humano, permeia todos os registros do Amadeus, porque está no sangue, na formação artística deles. Sempre há momentos maravilhosos, soluções musicais, fraseado, balanço, num nível que os quartetos modernos não tem.”

Será? Eu gosto demais de música, mas não sou fã de nenhum músico (intérprete, obviamente). Entenda: beleza de som, nuances absurdas, soluções musicais, fraseado e balanço não garantem, em hipótese alguma, BELEZA MUSICAL. Música, pra mim, tem um sentido mais amplo, não o sentido de tocar, interpretar, executar, mas o sentido abstrato do belo, que está acima de tudo isso.

Como assim? Você não pode garantir que os quatro melhores instrumentistas do mundo formem o melhor quarteto do mundo, é lógico. Pois te digo: nunca pensei que os quartetos de Beethoven fossem tão bonitos. O Melos, o Emerson e o Kodaly desvendaram coisas que com o Amadeus eu não conseguiria encontrar. Eles me fizeram emocionar mais, relaxar mais, penetrar mais profundamente no universo musical. Enfim, me deixaram mais feliz. Mas lógico, gosto e gosto e isso não se discute. Só acho uma pena você não se interessar muito por eles.


Ivan,

Em primeiro lugar eu tenho os ciclos completos do Emerson e Melos pra Beethoven, mais o Melos completo pra Schubert, a "Morte e a Donzela" com o Emerson, boa parte dos quartetos de Beethoven com o Kodaly e o Alban Berg, e outros. Não vou citar todos.

Tentando ir ao cerne da sua última mensagem: É fato, eu sou instrumentista. Eu passo a vida tentando chegar no nível do dedo mínimo dos pés destes caras. E isto me leva a admirar muito a qualidade de execução das obras, e enxergar a interpretação por um prisma muito diferente.

Esta apreciação da música "pela música", que alguns apreciadores dizem conseguir com certas gravações, me perdoe, é meio falaciosa. Não há dúvida que sem os compositores não haveria música, mas sem os intérpretes a apreciação musical ficaria restrita ao universo dos músicos que pudessem ler a partitura e imaginar a música que está ali. Como eu estudei pra isto e consigo fazê-lo, eu "enxergo" coisas nas interpretações que você nem imagina. Se você busca o "sentido abstrato do belo", está perdido ouvindo música, vá buscar isto em artes plásticas. Smile

Nenhum destes quartetos que gravam Beethoven têm a intenção de penetrar na mente dele. Tudo que você ouve são filtros de outras pessoas para a música de Beethoven. Você não está ouvindo Beethoven "puro", isto não existe.

"Gosto não se discute"? Mais ou menos. Eu estudo, tenho um critério objetivo, baseado em um fato histórico e estético: A música instrumental deriva do canto. Há obras na música contemporânea nas quais eu vejo que a estética sonora é diferente, mas a música "histórica" tem que ser analisada sob este prisma. A técnica moderna de violino privilegia muito o sonzão em detrimento do som "cantado". Beethoven cresceu dentro da estética do som cantado, assim ele não imaginava os quartetos dele sendo interpretados pelo tipo de som chapado que caracteriza os grupos modernos. O "vigor beethoveniano" não foi criado dentro deste tipo de som, ele não o imaginava. Assim estas interpretações não podem a priori ser vistas como algo que Beethoven apreciaria, visto que não era o som que ele tinha em mente (mesmo surdo, ô, coitado) quando escreveu o op. 130.

Assim, seu senso estético está em xeque. Smile

------------------------

Vá lá, não leve tudo que escrevi acima absolutamente ao pé da letra. Mas tem coisas pra pensar.

Abraço.


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Paulo Egídio



Registado em: Quinta-Feira, 16 de Novembro de 2006
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MensagemEnviada: Sex Abr 03, 2009 12:18 pm    Assunto: Responder com Citação

Pensando um pouco melhor nesta frase abaixo,

IvanRicardo escreveu:
Eu gosto demais de música, mas não sou fã de nenhum músico (intérprete, obviamente). Entenda: beleza de som, nuances absurdas, soluções musicais, fraseado e balanço não garantem, em hipótese alguma, BELEZA MUSICAL. Música, pra mim, tem um sentido mais amplo, não o sentido de tocar, interpretar, executar, mas o sentido abstrato do belo, que está acima de tudo isso.


Incontáveis vezes eu vi um intérprete genial, fosse numa gravação ou numa performance ao vivo, ou algum maestro com quem trabalhei, me levarem a admirar de modo diferente alguma passagem de uma obra. Vou citar apenas uma: Há um momento em uma sinfonia de Mozart, movimento final, com uma passagem típica de transição, piano,, em diálogo nas cordas, que eu tocara 3 ou 4 vezes e nunca soara nada demais.

Um dia toquei esta sinfonia regida pelo Karabtchevsky. MEU CARO, você não sabe o que ele descortinou naquela passagem simplesmente pedindo que fizéssemos um "decrescendo" naqueles compassos, pra desembocar no forte súbito depois. A passagem ganhou vida. Talvez o próprio Mozart não tivesse pensado naquele decrescendo, mas ficou sublime, realçou a idéia musical.

Ivan, você não faz idéia do quanto está equivocado com esta idéia de "sentido abstrato do belo". Os intérpretes geniais descortinam as obras para os reles mortais como você ou eu, e muitas vezes para os próprios autores. Dependemos deles para chegar a realmente apreender a música, mesmo eu, como instrumentista. A gente passa a vida estudando os princípios que uma escola de interpretação rege para determinados compositores. Estas escolas foram criadas por gênios, a quem seguimos humildemente. É possível que Karabtchevsky tenha aprendido com alguém aquele descrescendo. Entende?

Então a coisa é muito mais ampla do que "sentido abstrato do belo". Ouça o som, cara, entre mais fundo do que isto de "música pura", que não existe.

Abraço.


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IvanRicardo



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Localização: Gravatá-PE

MensagemEnviada: Sex Abr 03, 2009 11:12 pm    Assunto: Responder com Citação

Na verdade, Paulo Egídio, para que eu pudesse compreender melhor ou mesmo concordar com tua maneira de pensar fosse necessário eu aprender cientificamente a música.

De fato, surpreende-me muito o fato de uma mesma composição, mesmo sendo executada à risca com a partitura, pudesse me causar sensações ou “imagens” distintas.

Podemos conhecer exatamente o que produziu Da Vinci, Shakespeare ou Michelangelo, mas parece-me que para a arte musical a coisa não é assim tão segura. Ta certo que temos acesso às partituras, mas fazendo uma rápida analogia com a arte literária é como se para cada frase de um romance de Kafka o tradutor fizesse modificações ao seu modo, para ficar mais bela ou intrigante. Isso verdadeiramente não seria uma coisa boa, mas na verdade todos os tradutores fazem isso, de modo mais ou menos evidente, sendo que a nossa sorte é que temos os originais.

Pelo que eu venho tentando entender, os originais da música (sua partitura) não é muito suficiente para “termos” a música. Não tenho a mínima noção de teoria musical, mas sei que ler uma partitura não causa a mesma sensação que ouvir.

Paulo, você e eu possuímos visões diferentes dessa arte. Embora eu reconheça seu enorme conhecimento musical, percebo que teu estudo poderá te levar à prepotência. Não sei qual filósofo falou isso, mas teve um que humildemente declarou que quanto mais buscava o conhecimento mais longe dele ficava. Engana-se você (eita, até parece que estamos brigando, rsrsrs...) quando diz que eu me equivoco ao buscar o “sentido abstrato do belo”. Engana-se porque este é o único propósito da música de Beethoven. E por que um “sentido abstrato do belo”? Porque a beleza da música não é concreta como um quadro ou uma flor. Eu considero um dos ápices da beleza musical um determinado momento da Cavatina do Quarteto Op.130, momento este que faz lembrar alguém soluçando após chorar, mas a visão de alguém chorando não me trás à memória beleza alguma, apenas tristeza. A dor na música muitas vezes se transforma em algo profundamente belo.

Então como ficam as coisas? Eu sei que é impossível encontrarmos a visão exata do compositor para sua obra. Concordo quando você diz que o que ouvimos são filtros de outras pessoas para a música dele, e que nunca ouviremos o Beethoven “puro”. Mas acompanhe o seguinte: você acha que Mozart aprovaria a “redescoberta” de uma imagem mais surpreendente daquele trecho da sinfonia? Eu acredito que sim, embora ache que os gênios tem mania de pensar diferente da gente, rsrsrs. Se você responde como eu, você pode se contradizer se disser que jamais Beethoven admiraria o jeito “não-cantável” de tocar do Emerson.


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Amancio



Registado em: Segunda-Feira, 6 de Novembro de 2006
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MensagemEnviada: Seg Abr 06, 2009 9:04 am    Assunto: Responder com Citação

Sobre a "pureza" da música: acredito que isso só faria sentido se os compositores escrevessem música já pensando numa maneira "fixa" de ser tocada, não deixando liberdades para os intérpretes. Mas o próprio Mozart deixou uma famosa carta/partitura para uma aluna, mostrando como ela deveria realmente tocar a partitura (ou seja, com as ornamentações que NÃO estavam escritas no original). A própria definição da cadência de concerto já incentiva o intérprete a compor (ou improvisar) sobre os temas da obra.

Do contrário estaríamos próximos de concluir que a interpretação ideal é aquela que os próprios compositores deixaram (ou deixariam). E aí ficaríamos com aquelas gravações márromenos de Rachmaninoff e Stravinsky...


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Pádua Fernandes



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MensagemEnviada: Seg Abr 06, 2009 4:17 pm    Assunto: Responder com Citação

E do Villa-Lobos...


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Amancio



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MensagemEnviada: Ter Abr 07, 2009 9:42 am    Assunto: Responder com Citação

Mas ainda assim poderíamos escolher entre o Boulez de 1960 e o de 1990... Razz


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Pádua Fernandes



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MensagemEnviada: Ter Abr 07, 2009 1:01 pm    Assunto: Responder com Citação

Sim, Amancio, Boulez é muito melhor maestro do que Stravinsky e Villa-Lobos foram.


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