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Para tocar piano do séc.XX: Almeida Prado, Villa e Bartok

 
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Laura



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MensagemEnviada: Ter Dez 05, 2006 7:20 am    Assunto: Para tocar piano do séc.XX: Almeida Prado, Villa e Bartok Responder com Citação

Do jornal "O Estado de São Paulo" de 3/12/2006:

Obras de exercício e composição de Almeida Prado, Villa-Lobos e Bela Bartok são essenciais para uma formação sem naftalina

João Marcos Coelho

O que têm comum a Cartilha Rítmica para Piano de Almeida Prado, o Guia Prático de Villa-Lobos e o Mikrokosmos de Bela Bartok? Os três constituem maravilhosas introduções às linguagens pianísticas do século 20, ferramentas indispensáveis para todo pianista que deseja abandonar a formação naftalina do passado e ingressar na complexidade da música do presente. A Cartilha, lançada no Brasil há seis meses, já teve sua primeira edição esgotada e deve funcionar daqui para a frente como companheira de estrada de todo estudante de piano (o livro de partituras organizado por Sara Gandelman é acompanhado de um CD onde a pianista Sarah Cohen interpreta a Cartilha). O segundo e o terceiro estão sendo simultaneamente lançados em gravações do selo Naxos: nove dos onze cadernos do Guia Prático aparecem em sua forma original pela primeira vez sob os dedos competentes de Sonia Rubinsky, no quinto volume de sua integral; e o pianista húngaro Jeno Jandó faz uma leitura estimulante dos seis volumes do Mikrokosmos de Bela Bartok em álbum duplo também da Naxos.

Pela ordem, o Mikrokosmos constitui a melhor cartilha para dedos e ouvidos se habituarem às sonoridades da música da primeira metade do século 20. Suas 153 peças foram escritas por Bartok entre 1926 e o final de sua vida. Lá está o resultado de um trabalho sistemático na coleta do multifacetado folclore da Europa central e do leste e sua transformação em arquétipos de modelos composicionais. A gravação de Jando é excelente e recomendável.

Já a Cartilha Rítmica de Almeida Prado, como ele mesmo diz, é uma seqüência do Mikrokosmos. Também organizada por dificuldade técnica, aplica-se a facilitar a compreensão das músicas da segunda metade do século 20. “Ela surgiu comigo na sala de aula.Deve ser utilizada no dia-a-dia do professor com o aluno, como se faz com o Czerny, mas eu já coloco dissonâncias, para o estudante habituar-se com a textura contemporânea. Bartok não chegou a Messiaen, Stockhausen ou Boulez, e é isso que faço nesta Cartilha”, diz o compositor.

Ele enfatiza a predominância do ritmo: “Acho que é o que mais faz falta na formação do pianista hoje. Faço contraponto de tempos, as chamadas quiálteras, muito presentes em Villa e Charles Ives. Mas também superponho tempos e mostro as métricas grega, hindu e africana, que aprendi com Messiaen.” Aliás, Almeida Prado queixa-se muito de que se estuda basicamente para tocar a música do passado. “Em 1971, Nadia Boulanger já dizia que não conseguíamos deixar de nos impressionar com a Sagração da Primavera de Stravinsky, porque ainda sequer havíamos chegado, em termos de linguagem e ouvido, a 1913, data da estréia da obra.”

Por seu próprio isolamento, pianistas sofrem mais da síndrome do passado. Quase sempre são formados para interpretar a música do passado, pois é ela que constitui repertório dos concursos de piano e também da vida musical no planeta. Funciona como um dominó: como é formado e tem ouvidos só para o passado, ele fará do ontem seu prato de resistência - e por tabela reforça no público a sensação de que a música é coisa de museu, do passado. E não viva, pulsante.

Sonia Rubinsky, que há anos toca uma excelente integral da obra para piano de Villa-Lobos para o selo Naxos, está lançando o volume 5 com nove dos onze livros do Guia Prático de Villa-Lobos. “Pela primeira vez, o Guia é gravado na ordem original concebida pelo Villa para o editor Max Eschig, de Paris”, diz a pianista. Na verdade, o Guia Prático, como lembra Almeida Prado, originou-se de volumes de canções folclóricas brasileiras harmonizadas para coral a quatro vozes e utilizadas na disciplina canto orfeônico nas escolas. A matéria-prima: 137 cantigas de roda do imaginário brasileiro. Nos cinco volumes havia de tudo: piano solo, harmonizações a duas vozes, coral a quatro vozes e voz/piano. Em 1932, Villa montou grupos de cinco ou seis cantigas, escreveu-as para piano e separou-as em dez álbuns, publicados pela Max Eschig; o 11º foi publicado em 1949, formando o conjunto das 60 peças da versão pianística.

Em geral, os pianistas têm feito seletas dessas peças, em geral curtíssimas. Miniaturas adoráveis, exigem muito do intérprete, pois concentram em algumas dezenas de compassos todo um mundo, como gosta de dizer Sonia Rubinsky. Pela primeira vez o Guia surge em sua inteireza. E é evidente que, ouvindo-se o conjunto, modifica-se a maneira pela qual devemos considerá-lo. Vasco Mariz escreve que Villa não teve “pretensões de criar peças de concerto”. Pode não ter tido a intenção, mas produziu vinhetas com consistência muito maior. Mais do que pecinhas de circunstância, muitas têm status semelhante, por exemplo, às ‘pecinhas’ das Cenas Infantis de Schumann.

E este, sem dúvida, é o maior mérito desta gravação. Ao restituí-las na ordem original, Sonia as faz crescer muito. Até porque estes anos todos de convivência com a obra do Villa a transformaram numa pianista muito especial neste repertório - como prova o Prêmio Carlos Gomes, que ela acaba de receber, ou a distinção da revista inglesa Gramophone, que escolheu este CD como um dos dez melhores lançamentos internacionais do mês de setembro .

Quando fala do Guia, Almeida Prado não economiza: “Villa fez uma verdadeira enciclopédia da música brasileira.” E Sonia confessa que no início considerou que o Guia tinha muito a ver com o Mikrokosmos. “Mas depois desfiz esta impressão: quando ouvimos todo o Guia, temos uma impressão muito maior. Villa transpõe o ambiente cultural brasileira para a música. A genialidade dele está na ambientação das peças. Schubert faz isso com o lied: ele pega a letra e a ambienta musicalmente. É como uma litografia de Picasso, daquelas da série do Don Quixote, onde com apenas uma linha contínua o pintor constrói todo o desenho com o mínimo de elementos.”

Agora, é esperar dos candidatos a pianistas que mergulhem no universo das linguagens da música do século 20; e, do público, que ouça com ouvidos despreconceituosos tanto o Guia Prático quanto o Mikrokosmos. E aguardar o sétimo volume da integral de Villa-Lobos de Sonia Rubinsky, que ela vai gravar em 2007 e onde registrará os livros 10 e 11 do Guia Prático, além de outras vinte peças originalmente descartadas pelo Villa na edição francesa. Enquanto isso, o sexto volume, já gravado, e que inclui a obra-prima pianística do Villa, o Rudepoema, será lançado no primeiro semestre do ano que vem.




Editado pela última vez por Laura em Ter Dez 05, 2006 3:58 pm, num total de 1 edição
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(berber)



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MensagemEnviada: Ter Dez 05, 2006 3:20 pm    Assunto: Responder com Citação

FINALMENTE!!!!

Finalmente alguem esta' prestando atencao a musica contemporanea! Que beleza!!!


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Pádua Fernandes



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MensagemEnviada: Ter Dez 05, 2006 3:35 pm    Assunto: Responder com Citação

Berber,
não seja injusto. Há outros pianistas brasileiros que estão atentos à música contemporânea. Veja, por exemplo, o que a pianista Gilda Oswaldo Cruz está gravando pela Biscoito Fino. Também por essa gravadora, saíram vários discos de música brasileira por Miguel Proença. De uma geração mais nova, podemos lembrar, entre outros, de Sérgio Monteiro.


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Laura



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MensagemEnviada: Ter Dez 05, 2006 4:03 pm    Assunto: Responder com Citação

O que mais chama a atenção é que alguém, finalmente, lembra das dificuldades dos pianistas em tocar música composta nos últimos 100 anos. Porque não adianta passar dia e noite tamborilando escalas e Czernys para se alcançar algum som aceitável em Villa -Lobos. Certo, Mestre Berber? Wink


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MensagemEnviada: Ter Dez 05, 2006 4:46 pm    Assunto: Responder com Citação

Exatamente, laura. nao estou dizendo que ninguem presta atencao na musica contemporanea como pianistas, mas como professores.

Se uma escala nao tem o "dedilhado correto", o aluno fica perdido! Pegue uma escala de re' maior com sol sustenido no meio e muita gente vai se assustar.

A musica contemporanea tem que sair do escuro, nao so' nas performances, mas no ensino tambem.


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Pádua Fernandes



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MensagemEnviada: Ter Dez 05, 2006 10:41 pm    Assunto: Responder com Citação

Berber,
ok. Então, o ensino de música no Brasil continua sendo um grave obstáculo contra a música no/do Brasil?


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MensagemEnviada: Ter Dez 05, 2006 10:56 pm    Assunto: Responder com Citação

Obvio que sim.
Voce acha que o ensino musical no Brasil e' bom? E' quase inexistente.


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Pádua Fernandes



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MensagemEnviada: Qua Dez 06, 2006 12:10 am    Assunto: Responder com Citação

Mas isso não é privilégio da música. A educação no Brasil é, em regra, um horror.


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Laura



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MensagemEnviada: Qua Dez 06, 2006 2:26 pm    Assunto: Responder com Citação

Verdade seja dita: os violonistas, em termos de estudos "modernos" para seu instrumento, são privilegiados. Além de Villa-Lobos, há todos aqueles compositores espanhóis fantásticos!
Enquanto isso, os pianeiros do mundo inteiro contam com Bartok e, quando conhecem (como a grande maioria dos conservatórios brasileiros), com Villa-Lobos. Almeida Prado ainda permanece escondido.


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Leonardo T. de Oliveira



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MensagemEnviada: Qua Dez 06, 2006 2:43 pm    Assunto: Responder com Citação

Prokofiev também, pra quem pode. X)



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Leonardo T. Oliveira
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~MARCOS~



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MensagemEnviada: Sex Dez 08, 2006 5:49 pm    Assunto: Responder com Citação

Laura e Amigos:

Tive a oportunidade de ler o artigo mencionado (também de um excelente texto sobre Joyce & Proust, além de outro, de Daniel Piza) e achei muito interessante, ainda por Sônia Rubinsky gravar a integral do Guia Prático desconhecida.

Embora não seja o piano meu instrumento, menciono uma citação de Coppey, já em 1867:

Les Études, proprement dites, sont d'invention moderne. Il y a un demi-siècle environ, les études de Cramer mirent en vogue ce noveau genre de composition, qui, en principe, doit présenter, dans un cadre restreint, des difficultés toutes spéciales. Depuis cette époque, des pianistes, d'un rare mérite, ont marché sur les traces de ce maître célèbre, mais quelquefois en modifiant à dessein le caractère primitif de l'œuvre qu'ils s'étaient proposée pour modèle, et en donnant au mot Étude une signification plus large et plus étendue.
(...) Quoi qu'il en soit, il faut recconaître que l'extension de ce genre a aidé beaucoup à l'enseignement du piano et que sour le titre d´etudes, si modeste en lui-même, les grands pianistes de votre époque ont produit leurs plus belles inspirations.


Sempre defendi a utilização de estudos de músíca contemporânea, com a intenção de o estudante se familiarizar com a harmonia, como disse Almeida Prado. A música, é preciso ser algo vivo. O passado é bom, mas temos que enxergar e sentir o presente...

Em tempo: a citação foi digitada manualmente por mim, claro. Foi extraída do livro. Dificilmente encontrarão o texto na internet, creio eu...


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Laura



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MensagemEnviada: Sáb Dez 09, 2006 10:32 am    Assunto: Responder com Citação

Marcos, obrigada pela transcrição. Agora, esse Coppey, pelo visto, desconhecia Bach. Ou, ao menos, todo o seu vastíssimo repertório de "estudos", que não foram batizados assim, mas que foram compostos para o aprimoramento técnico de músicos.


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~MARCOS~



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MensagemEnviada: Sáb Dez 09, 2006 2:44 pm    Assunto: Responder com Citação

Laura escreveu:
Marcos, obrigada pela transcrição. Agora, esse Coppey, pelo visto, desconhecia Bach. Ou, ao menos, todo o seu vastíssimo repertório de "estudos", que não foram batizados assim, mas que foram compostos para o aprimoramento técnico de músicos.


De nada! Por ser um livro essencialmente didático, ele mencionou apenas aquele compositor. Jamais ele desconhecia Bach, isso eu posso garantir...


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