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"Batendo as cinzas"
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Pádua Fernandes



Registado em: Terça-Feira, 7 de Novembro de 2006
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MensagemEnviada: Qui Jan 25, 2007 11:35 am    Assunto: Responder com Citação

Carlos Pianovski escreveu:
Nunca antes um Tristão sofreu tanto para morrer!


Pianovski, talvez não: o primeiro Tristão sofreu muito por morrer.


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fanermaluco



Registado em: Terça-Feira, 7 de Novembro de 2006
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MensagemEnviada: Qui Jan 25, 2007 1:50 pm    Assunto: Responder com Citação

Algumas curiosidades instrumentais:
1) As quiálteras do tema da "tocha" ("immer bewegter", que começam ainda como desenvolvimento do tema dois do prelúdio meio compasso antes da frae de Isolda "Die im Busen mir die Glut entfacht;-...", mas só se afirmam como tais em "Die mir als Tag die Seele lacht; (etc), que são DOBRADAS pelos violoncelos e violas (e que NINGUÉM quer mostrar, mesmo sendo tal linha muito mais do que uma mera figuração )apareceram?

2)A passagem textural mais complexa da ópera, os 4 temas que tocam quando Tristão canta "Was dich umgliss mit hehrster Pracht", que contém os temas:a)Dia (flautas e oboés/b)"""Paixão""" (var do """Mtv Amor""") (violinos e violas)/ c) as quiálteras derivadas do "...hei! Unser Held Tristan.." (violinos) e as do mesmo "Mtv amor", como ficou?

3) e as versões alongadas do mtv do Dia no alerta da Brangäne? E as modulações extremas desta passagem soaram coerentes?

Por último...ele (Segerstam) transformou o clímax do final ("Welt-Atems...") naquela parede de metais, ou deu para ouvir os trêmolos das cordas?


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Carlos Pianovski



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MensagemEnviada: Qui Jan 25, 2007 4:04 pm    Assunto: Responder com Citação

Que tremenda desgraça, perdi a mensagem que escrevi!!!! Bom, vamos tentar fazer tudo de novo:

I) Sergio, obrigado! Participarei com gosto do tópico sobre o Tristan tão logo eu volte a ter acesso às minhas gravações (o que só ocorrerá em meados de fevereiro). Mas minha participação se dará muito mais para aprender com você e com Andr ... digo, fanermaluco, do que, propriamente, para dar "palpites".

II) Pádua, essa eu não sabia. Você fala em sentido metafórico ou real?

III) Salve, fanermaluco! Não chego, obviamente, a esse seu nível de refinamento analítico, mas vou tentar responder dentro das limitações da minha capacidade de análise e da minha memória:

"As quiálteras do tema da "tocha" ("immer bewegter", que começam ainda como desenvolvimento do tema dois do prelúdio meio compasso antes da frae de Isolda "Die im Busen mir die Glut entfacht;-...", mas só se afirmam como tais em "Die mir als Tag die Seele lacht; (etc), que são DOBRADAS pelos violoncelos e violas (e que NINGUÉM quer mostrar, mesmo sendo tal linha muito mais do que uma mera figuração )apareceram?"

Não sei. Aliás, nunca havia prestado atenção nisso (o que somente seria possível, creio eu, com uma análise muito atenta da partitura, coisa que não tenho conhecimento musical para fazer - nem, neste momento, tempo para aprender a fazer. No futuro, que sabe). Quando voltar ao Brasil correrei às gravaçoes para ver se alguém faz como você descreveu.

"A passagem textural mais complexa da ópera, os 4 temas que tocam quando Tristão canta "Was dich umgliss mit hehrster Pracht", que contém os temas:a)Dia (flautas e oboés/b)"""Paixão""" (var do """Mtv Amor""") (violinos e violas)/ c) as quiálteras derivadas do "...hei! Unser Held Tristan.." (violinos) e as do mesmo "Mtv amor", como ficou?"

Aqui eu lembro de algo: faltou transparência suficiente à orquestra para que se precebesse à articulação/sobreposição dos temas. Muito eloqüente, mas, de fato, pouco refinado. É ... talvez nem toda a beleza da construção orquestral wagneriana tenha se apresentado. Mas, diga-me sinceramente: seria essa meta verdadeiramente possível?

"e as versões alongadas do mtv do Dia no alerta da Brangäne? E as modulações extremas desta passagem soaram coerentes?"

Depende do que se pode reputar como coerência. Digamos que para um ouvinte diletante, sem conhecimentos sobre arquitetura musical, que baseia sua apreciação apenas na repetida audição/comparação de gravações (e que não tem tido muito tempo ultimamente nem para fazer isso), sim, foi coerente. Mas seria valiosa alguma observação sua sobre aquilo que se deve notar com mais atenção nessa passagem.

"Por último...ele (Segerstam) transformou o clímax do final ("Welt-Atems...") naquela parede de metais, ou deu para ouvir os trêmolos das cordas?"

Na altura do "klinget, Heller schallend" a orquestra chegou, por alguns poucos compassos, a oferecer a impressao é de que as coisas desandariam para um final monocromático e unidimensional. Felizmente, porém, isso não se confirmou, e na explosão e arrefecimento no "Welt-Atems" em diante os naipes eram bastante perceptíveis (aliás, se houvesse prevalecido de modo opressivo a sonoridade dos metais a interpretação delicada da conatora teria sido sufocada, o que não ocorreu).

Abraços

Pianovski


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fanermaluco



Registado em: Terça-Feira, 7 de Novembro de 2006
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MensagemEnviada: Qui Jan 25, 2007 5:15 pm    Assunto: Responder com Citação

Obrigado mesmo! Vou arriscar e baixar do opera Share. Se quiser os links, me avisa.

Grato!

O Tristão do bernstein, apesar do infame Peter ohne Hoffnung, é o único com autoridade e densidade nestas questões

Schönberg contava uma história (não sei se vou acertar ou não...) de que um regente (seria o Weingartner?) estava passando pela rua e ouviu, de dentro de um teatro (??!!) um ensaio e, sendo este de uma passagem harmonicamente muito complexa de uma dada peça, irrompeu adentro da sala e exclamou: "este regente entende de harmonia!" Detalhes aparentemente insignificantes de balanço instrumental podem, como no caso do Tristão, fazer diferença em considerá-lo uma peça coerente e orgânica e uma colcha de remendos, e isso se percebe claramente mesmo na audição mais emocional Um exemplo: quando o Kurwenal termina a sua excitação, pouco antes do início do 1° mon´logo do Tristão, há uma frase de clarinete (uma escala cromática), que tem q ser ressaltada, para que a transição entre os 2 "números" soe orgânica


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Carlos Pianovski



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MensagemEnviada: Qui Jan 25, 2007 5:35 pm    Assunto: Responder com Citação

Caro André, por nada!
E, por favor, não deixe de postar suas impressões aqui! Será muito valioso poder verificar se minhas impressões quase intuitivas de "escutador" batem em alguma coisa com uma análise sua.


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Bruno Gripp



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MensagemEnviada: Qui Jan 25, 2007 6:44 pm    Assunto: Responder com Citação

Faner,
Essa récita já caiu na roda do operashare? Shocked


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Pádua Fernandes



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MensagemEnviada: Qui Jan 25, 2007 9:07 pm    Assunto: Responder com Citação

Carlos Pianovski escreveu:

II) Pádua, essa eu não sabia. Você fala em sentido metafórico ou real?



A realidade de Wagner não é a metáfora? Bem, mas o pobre tenor morreu fora dela também. Ludwig Schnorr, que teve sua mulher, Malvina, como Isolde, morreu um mês depois da última apresentação.
Cosima escreveu ao Rei Ludwig que a arte do Wagner "é um religião; seus seguidores são mártires". Foi uma perda para o compositor, que contava com o Schnorr para cantar o Siegfried.
O interessante é que o espírito do tenor passou a mandar recados para Wagner!

Editando para incluir a foto do tenor, caracterizado como Tristan, junto com a esposa na vida real e na ópera. Segundo li na Wikipedia, é possível que ele tenha morrido de tifo ou de meningite, ou outra doença infecciosa, e não do esforço:

"Sein früher und mysteriöser Tod machte ihn zur Legende - und wurde lange als Folge der riesigen Anstrengungen angesehen, die Wagner seinen Sängern, und insbesondere dem Sänger des Tristan, abverlangte.
Die heutige Forschung geht allerdings eher davon aus, dass die Todesursache wahrscheinlich eine Infektionskrankheit wie Typhus oder Meningitis gewesen sein dürfte."


http://de.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Schnorr_von_Carolsfeld


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fanermaluco



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MensagemEnviada: Sex Jan 26, 2007 7:31 am    Assunto: Responder com Citação

Pode colocar no balaio aí: Windgassen (morto de ataque cardíaco-cantou o papel mais de 200vezes; Gösta Winbergh e, em Siegfried, Heinz Kruse.


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fanermaluco



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MensagemEnviada: Sex Jan 26, 2007 7:35 am    Assunto: Responder com Citação

Sim! Del Monaco que, antes do seu horrível acidente, fora convidado a aceitar cantar o Tannhäuser e o Rienzi com o Wieland (o 1° em Bayreuth), recusou o Tristão por causa do 3° ato...e olha q até este acidente, o homem era um leão...


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fanermaluco



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MensagemEnviada: Sex Jan 26, 2007 7:39 am    Assunto: Responder com Citação

Bruno, aceite RW como seu salvador...Wagner é panteísta, deixe-se levar...Vc quer o bem, eu sinto!! Very Happy


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fanermaluco



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MensagemEnviada: Sex Jan 26, 2007 7:41 am    Assunto: Responder com Citação

RW oferece perdão até àqueles que declararam ser o 1/ ato do Parsifal (maior obra do mestre...) remedio contra a insônia...a misericórdia do Mestre é como o Mar!! Very Happy


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Carlos Pianovski



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MensagemEnviada: Sáb Fev 03, 2007 8:46 pm    Assunto: Responder com Citação

La Fille du Régiment não é, propriamente, a obra-prima de Donizetti. Ao menos para o meu gosto, apesar de conter coisas interessantes, há melhor música – e melhor comédia – em Elixir do Amor e, sobretudo, em Don Pasquale. Isso para não falar em Lucia de Lamermoor e em Ana Bolena (e, aqui, a referência vale, também, para a música e para a comédia). Por isso, sinto-me até um tanto constrangido em afirmar que esta foi a melhor montagem de ópera que assisti nesses quase dois meses de velho mundo. Sim, as óperas em Viena, além figurarem entre as mais fantásticas partituras de todos os tempos, tiveram performances de excelente nível, apesar dos deslizes e insuficiências de um ou outro cantor. O Wozzeck de Lisboa, em uma produção do Festival de Aix-en-Provence regida por Eliahu Inbal, foi uma bela surpresa, tanto musical quanto cenicamente – além de não ter contado com dissecação de cadáveres, vísceras e vômitos espalhados pelo palco, como na produção que, simultaneamente, acontecia em Madrid, com “régie” vocês sabem de quem ... Em Paris, nos Contos de Hoffmann, apesar da divertida Olympia de Patrícia Petibon e das interessantes performances de Frank Ferrari como Lindorf/Coppelius/Miracle/Dapertutto, Ekaterina Gubanova como Musa/Nicklause e, sobretudo, de Annette Dasch como Antonia, a alternativa que encontraram para substituir o desgraçadamente gripado Rolando Villazón foi de uma infelicidade sem par, arruinando a performance.
Essa produção de La Fille du Régiment, entretanto, contou com todos os ingredientes para uma performance do mais alto nível, superando inclusive as evidentes deficiências dramáticas da ópera. A encenação de Laurent Pelly (acho que é o mesmo sujeito que fez a Platée que você viu em Paris, Bruno), sem as invencionices de gosto duvidoso que se vêem por aí (como “Die Entführung aus dem Hurenhaus”, “Ballo nel WC” ou “Lohengr-in-der-Kindergarten”), conseguiu recriar teatralmente a ópera sem desvirtuá-la, cabendo ao “régisseur”, em boa parte, o notável êxito dessa montagem. Tiradas simples mas eficazes, pelo bom humor e pela surpresa que causam, permearam toda a ópera (como os homens vestidos de empregada doméstica fazendo uma “faxina coreografada” no início do segundo ato, ou Tonio entrando sobre um tanque de guerra na casa da Marquise, ou, ainda, “le chant du coq” ao final da ópera, enuquanto ao fundo palco, ao invés da bandeira da França, desce um painel de um galo cantando para o sol). A participação especialíssima da comediante Dawn French como a Duquesa Crackentorp – cuja presença de palco, suficiente para despertar o riso, foi um espetáculo à parte – e seu “francês” grotesco permeado por divertidas tiradas em um inglês, digamos, coloquial (com legendas em francês no alto do palco!) também contribuiu para o resultado teatral exemplar obtido por Pelly.
Os personagens característicos foram magnificamente interpretados por Felicity Palmer (La Marquise de Berkenfeld) – belo volume e graves excelentes, além de bom desempenho como atriz –, Donald Maxwell (Hortensius) e o grande Alessandro Corbelli.
A regência vibrante e precisa de Campanella sublinhou muito bem o desempenho dos cantores e construiu magistralmente as cenas de conjunto.
Em uma peça como essa, entretanto, tudo isso seria secundário se o casal de protagonistas não fosse de primeiro nível. La Fille é uma “ópera de cantores”: se o casal Marie e Tonio se sair bem, a récita é um sucesso. Caso eles se saiam mal, não há regência inspirada ou direção cênica genial que salvem a ópera do desastre.
Mas a récita foi um sucesso.




Editado pela última vez por Carlos Pianovski em Dom Fev 04, 2007 9:28 am, num total de 1 edição
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Bruno Gripp



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MensagemEnviada: Sáb Fev 03, 2007 10:04 pm    Assunto: Responder com Citação

Pianovski,
Pelly é um gênio cômico. É dele a Platée montada em 2000 e reprisada em 2002 em Paris e também é dele o Amor pelas Três Laranjas da ópera real holandesa recentemente editado pela TDK, de excelente bom gosto e muito bom humor. Essa Fille deve ter sido maravilhosa.

saudaçòes invejosas
Bruno


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Carlos Pianovski



Registado em: Terça-Feira, 14 de Novembro de 2006
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MensagemEnviada: Dom Fev 04, 2007 9:27 am    Assunto: Responder com Citação

Nathalie Dessay é uma artista sensacional. Trata-se de cantora de raro virtuosismo, emissão vibrante e segura, bonito timbre, voz leve mas de grande expressividade e extensão, sobretudo no registro agudo (seus mi bemóis correram soberanos todo o teatro), invejável carisma e charme irresistível – que atrai para si todas as atenções quando está em cena, mesmo sendo feiinha de doer. Sua Marie em nada lembra a maior referência nesse papel nas gerações anteriores, a lendária Joan Sutherland. Ao contrário da interpretação doce e bem comportada da diva australiana, a Marie de Dessay soa debochada, “moleque”. Uma bela opção, sobretudo diante do fato de que Dessay tem voz mais clara e sem o mesmo veludo de Sutherland. Isso, naturalmente, faz com que árias como, por exemplo, “Il faut partir” possam soar menos, digamos, tocantes. Mas como se trata de uma montagem que investe tudo no caráter de comédia da peça (sobretudo a personagem título) – e como o desempenho vocal de Dessay mesmo nessas passagens beira a perfeição – a maior dramaticidade seria, nesse caso, um “minus”.
Impressiona a facilidade com que Dessay canta as passagens de coloratura e a bravura com que enfrenta os agudos (e os emite com perfeição). Seu “Au bruit de la guerre” foi um belo cartão de visitas do que se ouviria ao longo da noite: canto belíssimo, com ornamentos perfeitos (e, algumas vezes, utilizados de modo a oferecer um sentido humorístico à performance) e agudos impecáveis, em uma interpretação de caráter marcial e heróico, perfeitamente adequado ao “mise-en-céne” em que, com bravura militar, Marie passa a ferro as ceroulas de todo o regimento ...
Um ou outro pequeno defeito na coloratura só se ouviu em alguns poucos momentos, em meio às inúmeras estripulias acrobáticas que Pelly impôs à artista, correndo e rodopiando pelo palco, virando a cabeça alucinadamente para um lado e para o outro, rolando pelo chão ou sendo carregada, pelo coro.
E que bela dupla ela formou com “Don Diego” Florez! O tenor peruano teve uma performance exemplar, no mesmo nível obtido por Dessay. Sim, obviamente cantou os nove dós no “pour mon âme” com a facilidade de quem está simplesmente a respirar. Florez canta os dós em stacato (como, aliás, ao que consta, manda a partitura), com “precisão cirúrgica” – “a laser”, na feliz expressão de Dessay em uma entrevista. O dó final foi longamente sustentado. Menos do que o jovem Pavarotti, porém mais do que nos vídeos do próprio Florez que rolam pela Internet – o que talvez se deva ao fato de que essa performance dará origem a um DVD, a ser lançado em breve. A voz, apesar de pequena, é muito bem projetada e soa lindíssima, cintilante, sendo manejada com verdadeira arte. O tenor sabe valorizar a linha melódica, com fraseado de muito bom gosto, além de saber fazer os jogos de “chiaro/oscuro” que o bel canto exige. Enfim, é um diamante bem lapidado. Permitam-me dizer que, até por isso, o ponto alto da performance de Juan Diego Florez não foi seu exemplar “pour mon âme”, mas, sim, o “Pour me raprocher de Marie”, cantado em “piano” e "pianissimo", com um andamento bastante lento – que Florez usou para valorizar ao máximo cada frase musical – em que ficaram patentes o controle e a elegância da emissão desse cantor. Perto do final da ária, um brilhante agudo seguido de uma frase de incrível doçura em pianíssimo.
Juan Diego Florez parace ser, de fato, cantor da mesma cepa de grandes tenores como Alva, Kraus, Blake ou Matteuzzi. É de se esperar, porém, – até para a sua saúde vocal – que ele não se deixe enredar pelo estúpido rótulo de “sucessor de Pavarotti” (afirmado, lamentavelmente, pelo próprio tenor italiano). São vozes muito diferentes. Enquanto Pavarotti foi um tenor lírico com uma estrutura vocal especial, que lhe permitiu interpretações difíceis de superar de personagens de Donizetti e Bellini, bem como de heróis românticos (ou nem tanto, como o Duque de Mântua) de Verdi e Puccini – chegando a abordar com dignidade papéis que, prima facie, não lhe seriam adequados, como Radamés – Florez é um típico “tenore di grazia”, que dificilmente terá bom êxito artístico fora do bel canto. Como ele mesmo afirmou em entrevista para a TV inglesa, não há como compará-lo a Pavarotti, uma vez que, enquanto este era um tenor com “mais corpo”, ele, Florez, é um cantor “mais leve”. A frase é verdadeira, qualquer que seja a interpretação que se dê a ela. Espero, sinceramente, que Florez estivesse a se referir às vozes.




Editado pela última vez por Carlos Pianovski em Dom Fev 04, 2007 9:34 am, num total de 1 edição
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Carlos Pianovski



Registado em: Terça-Feira, 14 de Novembro de 2006
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MensagemEnviada: Dom Fev 04, 2007 9:30 am    Assunto: Responder com Citação

Bruno, de fato, genial é o adjetivo que merece a encenação de Pelly. Foi, com toda justiça, aplaudidíssimo ao final, após ser puxado ao palco por Dessay. Fiquei com ainda mais vontade de ver a Platée em vídeo. Tratarei de comprar.


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