As Sonatas para piano de Beethoven

(berber) · Enviada: Qui Mar 08, 2007 7:49 pm Assunto:

E aqui esta' um video desse "monstro"

Movimento 1
http://www.youtube.com/watch?v=IP26Uj46kSc

Movimento2
http://www.youtube.com/watch?v=PouSiJaWA58

Movimento3
http://www.youtube.com/watch?v=6crq0-6Ct9I

Movimento 4 (Introducao)
http://www.youtube.com/watch?v=O8wwCnT-WpQ

Movimento 4 (Fuga)
http://www.youtube.com/watch?v=wlypXoYiw30

Divirtam-se!

Mário · Enviada: Ter Abr 10, 2007 9:39 am Assunto:

ixi, eu tinha postado outra mensagem, mas deu erro. Question

berber, não querendo ser muito chato, mas cadê as outras? Sad

e como alguém postou lá atrás, vou copiar o tópico também.

(berber) · Enviada: Qua Abr 18, 2007 1:37 am Assunto:

Gente, perdoem-me pelo sumico.
Estive em New York ate' ontem, e tenho muitas coisas a contar, mas no devido tempo. Vou voltar as sonatas na Quinta feira e acabo com elas logo logo - afinal ja' passou da hora de comentarmos sobre todas as sonatas, ne'?
So' faltam 3....

(berber) · Enviada: Sex Abr 20, 2007 6:59 pm Assunto:

Sonata Op. 109

E voltando as sonatas de Beethoven, vamos falar da Op. 109. Essa e' a mais famosa das ultimas sonatas. Existem varias gravacoes e interepretacoes dessa sonata. E' uma peca mais lirica e intima, e talvez por isso tem um apelo grande.
Essa sonata tem tres movimentos, sendo que o final e' um tema com variacoes. Existem varias versoes que afirmam que Beethoven compos o primeiro movimento como uma peca independente, mas na verdade ninguem sabe ao certo a origem dessa sonata.
O primeiro movimento e' muito lirico, com um fluxo constante de semicolcheias, criando o tema principal. Logo depois beethoven traz uma passagem muito expressiva (adagio espressivo), quase improvisatorio e cheio de arpejos explorando os extremos do teclado. Logo depois, beethoven usa o temoa principal para compor o desenvolvimento. As partes da sonata nao sao tao definidas, e um ouvinte desatento nao vai perceber as mudancas subitas relacionadas a forma do movimento. E' mais uma caracteristica das ultimas pecas de Beethoven, que usa o fluxo continuo para "arredondar" as divisoes entre a musica e criar uma unidade.
O segundo movimento e' daqueles que acorda quem adormeceu durante o primeiro. Muito energetico, e' um movimento que exige uma precisao muito grande do pianista. Nao pode ser tocado muito rapido (senao perde a tensao) nem muito lento (senao perde o "momento"). Beethoven usa o tema inicial (melodia simples de 4 compassos) e desenvolve ao longo do movimento por meio de polifonia, oitavas, etc. E mesmo quando o "volume" decresce, a tensao ainda se faz presente. A explosao final termina o movimentode uma forma abrupta, mas previsivel.
O terceiro movimento, vem na forma mais tradicional - um tema e variacoes. O tema e' bem simples e vem num "andante molto cantabile ed espressivo." A primeira variacao traz ornamentos e um ritmo mais proeminente no baixo, criando uma valsa. A segunda variacao fragmenta o tema em semicolcheias e pausas, num mosaico de sons intercalado com uma passagem mais lirica. A terceira variacao e' mais energetica e vem num Allegro vivace. Nessa variacao, Beethoven usa escalas e notas de passagem, explorando a progressao harmonica do tema, ao inves de sua melodia. A variacao seguinte (quarta) traz de volta o andamento lento do tema e tem uma caracteristica mais polifonica, com vozes apresentando as ideias seguidamente. A variacao 5 vem numa textura polifonica, e lembra um pouco o segundo movimento. A variacao final traz no inicio o tema de volta. Beethoven entao comeca a "acelerar" a musica, adicionando notas enter cada tempo. A musica permanece no mesmo andamento, mas o acompanhamento vai mudando de colcheias, a semicolcheias, a fusas ate' virar um trinado. E que trinado! Durante duas paginas Beethoven testa a resistencia do pianista com um trinado continuo, enquanto a melodia e acompanhamento sao apresentados ao mesmo tempo. A sonsta termina de uma maneira simples e sutil, como um suspiro.
A carga emocional aliada a facilidade de compreensao dos temas dessa sonata fazem da Op.109 uma das mais belas e tocadas sonatas de Beethoven.

Amancio · Enviada: Sex Abr 20, 2007 11:36 pm Assunto:

De todas as sonatas que eu conheço, essa é a mais linda de todas. Aquela segunda variação ali, a que traz o tema todo fragmentado e envolto em pausas, lembra bastante o primeiro tema do primeiro movimento. E este primeiro movimento é, talvez, a forma-sonata mais genial de todas as que eu conheço.

(berber) · Enviada: Dom Abr 22, 2007 8:44 pm Assunto:

Amancio, eu tambem gosto muito dessa sonata. Vc tem uma gravacao predileta? Nao encontrei nenhum video decente online para colocar aqui...

(berber) · Enviada: Dom Abr 22, 2007 9:55 pm Assunto:

Sonata Op. 110

Bom, chegamos na minha sonata favorita. Entre todas as 32, essa e' a que esta' mais relacionada comigo. Toquei-a ainda no Brasil e tenho um carinho muito especial por ela.

Essa Sonata foi composta em 1821 e nao foi dedicada a ninguem, o que e' curioso, afinal Beethoven sempre dedicava suas obras a patronos e amigos. Talvez essa sonata tenha sido tao especial, que ele, Beethoven nao quis dividi-la com ninguem, enfim....

A sonata tem movimentos mais ou menos definidos, mas Beethoven diluiu a forma sonata a tal ponto que e' como se fosse um movimento so'.
O primeiro movimento comeca com uma introducao em acordes, como um coral e logo apresenta uma melodia linda e simples, acompanhada de acordes na mao esquerda. Esse e' o primeiro tema, que se desenvolve em la bemol maior. As nuances sao bem sutis e o pianista que quiser "inventar" vai estragar tudo. Ao final do tema, uma cascata de fusas passeia pelo teclado de cima a baixo criando a transicao entre temas. Essa parte deve ser tocada levemente, p que e' dificil de ser feito na velocidade. Logo depois Beethoven apresenta mais uma melodia simples em oitavas quebradas. A tensao aumenta um pouco com trinados no baixo ate' que e' resolvida alguns compassos mais tarde. O final da Exposicao traz uma passagem ascendente simples que termina num acorde de mi bemol maior. Simples, calmo e bonito.
O inicio do desenvolvimento traz uma modulacao imediata que muda o clima completamente com uma so' nota. Depois da conclusao em mi bemol, Beethoven "desce" um tom e, de uma maneira incrivel, inicia o desenvolvimento com um re' bemol no baixo junto de outro no agudo - Para mim uma passagem magica. O que se segue e' um desenvolvimento que explora primeiro tema, sendo que o acompanhamento vem em forma de escalas, criando uma sensacao de polifonia muito interessante. O movimento continua, trazendo de volta o primeiro tema, transicao, etc. ate' a coda final, onde o metarial da transicao (fusas) aparece de novo para terminar com o primeiro movimento. Uma curiosidade que sempre passa despercebida nas inumeras gravacoes que eu conheco. No final do movimento, Beethoven apresenta o tema da fuga. Ele aparece meio escondido, assim como nao quer nada, mas esta' ali, anunciando que uma grande esta' por vir....
O segundo movimento e' um Allegro Molto, que tem basicamente a forma de um scherzo (ABA). Alem disso, traz dificuldades enormes para o pianista. O movimento comeca com uma serie de acordes, criando um tema energetico e marcial. As repeticoes sao tao bem trabalhadas que passam quase despercebidas. A segunda parte do movimento e' a mais dificil, com saltos de duas oitavas na mao direita. Nao contente com a dificuldade desses saltos, Beethoven ainda complicou exigindo que o pianista cruzasse as maos ao realizar os saltos. Antes dos saltos, a mao direita esta' tocando notas abaixo da mao esquerda. Alem disso, a dinamica colocada pelo compositor (f/pp) exige ainda mais do pianista.
E so' para completar, o interprete tem que realizar essa passagem quatro vezes, cada uma com notas diferentes.... Mesmo assim e' um prazer tocar - e ouvir - essas passagens.
O movimento termina com a primeira sessao de volta, e uma Coda que dilui a tensao e prepara a entrada do movimento final.
O Adagio que se segue e' de uma intimidade incrivel. Comeca como de fosse um improviso ao piano e com um recitativo "sem tempo", afinal Beethoevn nao dividiu-o em compassos. Quando finalmente adivisao em compassos aparece, Beethoven traz uma das mais belas paginas ja' escritas. O Arioso dolente faz qualquer um deixar o que esta' fazendo e ouvir com o coracao aberto. A melodia siples na mao direita e' acompanhada por acordes que apresentam as suas proprias nuances. nao tenho muito como descrever a beleza dessas paginas, mas so' posso recomendar que oucam esse movimento...
O final do arioso traz uma sequencia de oitavas que prepara a fuga. A fuga a tres vozes e' magistral. O tema e' simple, composto de quartas ascendentes, mas o tratamento que Beethoevn da' a essa fuga e' incrivel. O tema aparece em oitavas e intercalado, com um "moto perpetuo" de colcheias unindo as secoes da musica. A tensao crece ate' o final da fuga, e explode num arpejo desecendente em mi bemol. Aqui mais uma vez Beethoven traz outras daquelas modulacoes magicas, mas dessa vez e' um semitom abaixo, criando a atmosfera para o segundo arioso, que vem em sol menor.
Se o primeiro arioso ja' e' de tirar o folego, esse segundo e' para matar de vez.
Aqui, Beethoevn nao so' traz a melodia de volta, mas a "embeleza" com notas de passagem e appogiaturas. O mais incrivel dessa passagem sao as pausas entre as notas da melodia. Beethoven colocou mais musica nessas pausas que muitos outros compositores em obras inteiras. Quando o segundo arioso terminda, Beethoevn traz uma segunda fuga. Na verdade nao e' uma fuga tao massiva quanto a primeira, e' mais um "fugatto", mas o interessante e' que o tema da primeira fuga vem invertido nessa segunda fuga. A textura polifonia se dissolve numa coda impressionante, que usa o tema da fuga para terminar com a sonata.
Sou muito suspeito para falar, mas acho essa a mais bonita de todas as Sonatas, com uma unidade de temas e movimentos perfeita.

Amancio · Enviada: Seg Abr 23, 2007 12:18 am Assunto:

(berber) · Enviada: Seg Abr 23, 2007 2:19 pm Assunto:

Apostando as fichas no Arrau, nao tem como perder.

Amancio · Enviada: Seg Abr 23, 2007 7:07 pm Assunto:

Não sei não... Estou aprendendo a ouvir a Patética com ele, eu estava acostumado com mais energia e levei um choque ao ouvi-la tão light.

Leonardo T. de Oliveira · Enviada: Seg Abr 23, 2007 8:08 pm Assunto:

Faleeei? Faleeei?

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Leonardo T. Oliveira

(berber) · Enviada: Seg Abr 23, 2007 9:37 pm Assunto:

Mas existe um universo de diferenca entre a Patetica e a 110, ne'?

Amancio · Enviada: Seg Abr 23, 2007 10:42 pm Assunto:

Perfeitamente! Wink

Leonardo T. de Oliveira · Enviada: Sáb Abr 28, 2007 11:13 pm Assunto:

Acho que o momento do tópico me fez redescobrir as sonatas Op. 109 e 110..., coisa linda, meu Deus! Me lembrei que o que sempre me impressionou nelas, sheesh, foi o poder de concisão: como acreditar que a Op. 110 só tem em média 15 minutos?! Uma música que diz tanta coisa, ser afinal de pequeno porte! A Op. 109, é curioso, eu sempre achei entre as mais difíceis de digerir! Vocês não acham que ela é de uma sutileza muito mais despojada de apelos imediatos que qualquer outra sonata? Talvez ela não tenha pontos de gravidade tão pontuados como em outras sonatas..., fora o seu Scherzo robustão. Mas hoje sequer consigo preferir a Op. 110 a ela. Acho interessante perceber nessas sonatas algo de "prosaico" entre as suas divisões na forma-sonata, que são em geral muito mais amenas! Beethoven mostra muita intimidade com a forma. E, finalmente, as codas! A da Op. 110 é pra mim uma coda emblemática! A da Op. 109 traz um trinado crescente ao evoluir com o clímax do encerramento da obra! Amancio, o Arrau deve se dar muito bem nessas sonatas sim... Lembro que o Gilels toca a fuga do Op. 110 muito lenta, e acaba levando a coda junto - o que acaba soando bem diferente do Schnabel!

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Leonardo T. Oliveira

Leonardo T. de Oliveira · Enviada: Sáb Abr 28, 2007 11:15 pm Assunto:

Ah, a Op. 110 tem um momento engraçado no terceiro movimento, onde o pianista insiste em um mesmo acorde dez vezes seguidas...

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Leonardo T. Oliveira

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