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O inacreditável Quinteto de Schumann

 
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IvanRicardo



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MensagemEnviada: Qui Dez 09, 2010 9:58 pm    Assunto: O inacreditável Quinteto de Schumann Responder com Citação

Eu não sei ao certo as causas que levaram Robert Schumann a se internar num manicômio, mas, segundo li por aí, um dos motivos seria uma perturbação mental que, dentre outras coisas, o fazia ouvir a nota “lá” por todo lugar, e isso o incomodava que era uma barbaridade. Pudera.

Se essa história realmente for verdadeira então é melhor eu ir me preparando. E talvez comigo a coisa possa ser pior. Pois, contrariando todas as minhas expectativas a respeito da produção musical deste compositor, o Quinteto em Mi Bemol Maior – opus 44 – vem consumindo meu juízo a ponto de eu não simplesmente ouvir a nota lá por aí afora, mas todo esse quinteto por todos os cantos e até dentro da geladeira.

Incomparavelmente superior a qualquer composição de Schumann que eu tenha escutado antes, o grande problema dessa obra é que ela é tão fascinante e arrebatadora desde seu início até o fim que eu realmente posso garantir que sou incapaz de ouvir só um pedaço, e isso acaba por me fazer perder a hora do trabalho, esquecer o jantar, entre outras coisas.

Ele foi escrito durante o mês de outubro de 1842, e apresenta a raríssima formação de quarteto de cordas convencional (dois violinos, viola e violoncelo) mais um piano. Não me recordo se existe outra peça similar anterior, já que o quinteto “La Truite” (1819) de Schubert apresenta um contrabaixo em lugar de um violino.

Gostaria que os amigos aqui iniciassem uma discussão mais decente sobre essa inacreditável composição desse músico alemão. Digo mais decente porque não é justo que se fale sobre ela em meio a tantas baboseiras escritas por mim logo acima. E digo inacreditável porque de tudo o que já ouvi de Robert Schumann foi a única coisa que realmente me impressionou. É sem dúvida uma das criações musicais que eu mais admiro, e eu poderia citar aqui centenas de adjetivos elogiosos para ela. Eu só tenho uma coisa a lamentar: é uma pena que não seja de Beethoven...


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Amancio



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MensagemEnviada: Sex Dez 10, 2010 7:36 am    Assunto: Responder com Citação

Não conheço esse Quinteto de Schumann, mas vou fazer um esforço para ouvi-lo.

Porém, posso te garantir que a formação tradicional de um Quinteto de Piano e Cordas é exatamente essa que vc falou, um quarteto de cordas acrescido de um piano. Existem várias obras para essa formação, Brahms Op.34 talvez seja a mais famosa (e na minha opinião, a mais bela), Dvorák Op.81 (que já é um nº2, não conheço o quinteto nº1), Shostakovich, Borodin, e por aí vai. Por outro lado... não conheço outro quinteto com a mesma formação do da Truta de Schubert, vc sabe de mais algum?



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Paulo Egídio



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MensagemEnviada: Sex Dez 10, 2010 6:02 pm    Assunto: Responder com Citação

Não conhece, compadre? É um espetáculo. Tem uma gravação com o quarteto Guarneri e o Rubinstein de tirar o fôlego.

Na música de câmara de Schumann eu tenho um xodó, o primeiro trio. Acho um colosso, quiçá maior do que este quinteto.

Só que o Ivan citou algo realmente curioso: estou tentando lembrar de um quinteto com piano anterior ao Schumann, e confesso que não estou encontrando. Quartetos com piano existem vários, mas quinteto... E eu ouvi uma vez uma obra pra mesma formação da Truta numa Oficina de Música, mas nem numa sessão de regressão vou lembrar o nome do autor (que, se não me engano, era autora).


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Ricardovsky



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MensagemEnviada: Sáb Dez 11, 2010 12:25 am    Assunto: Responder com Citação

Acho esse quinteto fantástico! Talvez seja a maior obra de Schumann, juntamente com o concerto para piano, que também adoro.

Não o ouço há um tempão, mas vou ouví-lo, com todo o prazer, para expor melhor minhas impressões. A gravação que possuo é bem conceituada. Trata-se de um cd tradicional da Naxos, mas realmente muito bom. Ei-lo:

Kodaly quartet (Jenö Jando, piano)

Esses solistas começam o primeiro movimento numa verdadeira explosão de entusiasmo.


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Ricardovsky



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MensagemEnviada: Sáb Dez 11, 2010 8:51 am    Assunto: Responder com Citação

Tenho uma revista Classic Cd nacional (número 17), que tem uma matéria sobre esse quinteto de Schumann de autoria de Michael Tanner(como tenho saudades dessa revista, que não vingou como qualquer revista de arte no Brasil). Se alguém quiser a matéria, posso digitalizar e mandar por e-mail. É muito legal. Como não sei fazer como a Phoebe, que coloca os textos no liquidificador e joga dentro do computador, vou passando, com minhas palavras, um resumos das informações que se encontram na matéria, de acordo com sua relevância.

O quinteto foi composto em outubro de 1842, quando Schumann tinha 32 anos, e é, segundo a revista, sua mais bela de suas obras de câmara. Um dato impressionante é que o compositor escreveu essa bela obra em menos de três semanas! Em sua primeira execução, a parte do piano ficou a cargo, logicamente, de Clara Schumann, mas, na segunda execução, como Clara estava doente, ninguém menos do que Mendelssohn foi o intérprete ao piano. E foi o grande Mendelssohn que sugeriu que Schumann modificasse o terceiro movimento (Scherzo). O segundo trio do Scherzo, de grande beleza, surgiu desse conselho.

Schumann, ao que parece, inspirou-se no quinteto "A truta" de Schubert, mas, enquanto "A Truta" possui a combinação do piano com um violino, um contrabaixo, uma viola e um violoncelo, o quinteto de Schumann é o PRIMEIRO a utilizar a combinação tradicional do quarteto de cordas (dois violinos, viola e violoncelo) com um piano.

Segundo a revista, as quatro melhores gravações, dentre as muitas excelenetes que existem, são as seguintes:

1º lugar (A revista recomenda efusivamente esta gravação)- Beaux Arts Trio (Manahem Pressler, piano; Isidore Cohen, Dolf Batthelheis, violinos; Samuel Rhodes, viola; Bernard Grrnhouse, violoncelo). Philips.

2º lugar- Alberni Quartet (Thomas Rajna, piano). CRD.

3º lugar- Primrose Quartet (Jesús-Maria Sanromá, piano). Biddulph.

4º lugar- Kodály Quartet (Jenö Jandó, piano). Naxos. Meu cd!

5º lugar- Guarnieri Quartet (Artur Rubinstein, piano). RCA. A gravação que Paulo Egídio mencionou.

Agora, vocês estão vendo o que me inspirou a comprar o meu cd da naxos, considerado o melhor custo-benefício dentre as gravações apresentadas. Pessoal, há muita coisa interessante nessa revista, inclusive sobre a música, em si, o que ficaria esquisito para um leigo, como eu falar, por isso, repito, quem quiser a matéria me passe um e-mail. Há comentários sobre cada gravação apresentada.


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IvanRicardo



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MensagemEnviada: Sáb Dez 11, 2010 6:41 pm    Assunto: Responder com Citação

Para Amancio:
O quê? Como é que é? Você não conhece ainda o Quinteto de Schumann? Como pode??

Paulo:
Ele é mesmo um espetáculo, e também vou conhecer esse trio que você falou.

Xará:
Que coincidência! Também conheci essa obra pela Naxos, mas comprei o CD por conta do Quinteto op. 34 de Brahms, que é estupendo, mas essa obra de Schumann foi que roubou todas as minhas atenções.
E até que meu lado crítico não está tão mal, minha gravação preferida é mesmo a da Philips que você citou:



De onde Schumann tirou tanta inspiração de uma só vez? Depois de Beethoven, no terreno camerístico pouca coisa se escreveu comparável a esse Quinteto, e, sem nenhum exagero, deve ser colocado lado a lado às melhores chamber musics de Johannes Brahms.


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Paulo Egídio



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MensagemEnviada: Sex Dez 31, 2010 7:51 pm    Assunto: Responder com Citação

Ivan, pra não perder o bonde da conversa, o trio nº 1 de Schumann é razoavelmente bem gravado, mas eu tenho apenas dois registros:

Um excepcional, com Jacques Thibaud ao violino, Alfred Cortot ao piano e, bom... Pablo Casals. Triozinho de m$%#¨, né?

Só que a outra gravação é um colosso: Szeryng, Fournier e Rubinstein. É dos meus discos preferidos, uma das coisas mais notáveis que escutei na vida. Os três dão um show do primeiro ao último compasso. Registro quase do mesmo nível no meu coração do Quinteto de cordas de Schubert com Pablo Casals e o Quarteto Végh.


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Amancio



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MensagemEnviada: Dom Jan 23, 2011 11:45 am    Assunto: Responder com Citação

Pessoal,

Comecei ontem a ler um livro da dra. Ana Lúcia Altino Garcia intitulado O Quinteto para Piano e Cordas no século XIX (graças ao Fernando Randau, obrigado!). O destaque do livro é uma reconstrução feita pela autora do Quinteto de Brahms Op.34 na sua versão original, para dois violoncelos (quero dizer, 2 violinos, viola, 2 violoncelos, como o famoso Schubert em Dó Maior), mas ainda não cheguei lá. O começo do livro é dedicado aos quintetos de piano e cordas pré-Brahms, e aí ela traça um histórico do gênero, começando por...

1) Luigi Boccherini! Quando ele ainda trabalhava para o Frederico o Grande, da Prússia, ele escreveu dois conjuntos de 6 quintetos cada, o Op.56 (1797) e o Op.57 (1799), para piano, 2 violinos, viola e violoncelo. Antes de Boccherini outros compositores já haviam escrito obras para esta formação, e aí a dra cita Antonio Soler, Holzbauer e Johann Christian Bach, porém nestes anteriores o piano tinha um papel mais de basso continuo. Nos 12 quintetos de Boccherini, a coisa é mais equilibrada.

2) O Príncipe Louis Ferdinand da Prússia era pianista e sobrinho do Frederico o Grande, e com certeza conheceu os Op.56 do Boccherini na corte do tio. Em 1803 ele escreveu seu Quinteto para Pianoforte com acompanhamento de dois violinos, viola e violoncelo Op.1, onde o piano tem um papel de maior destaque do grupo. O quinteto é em Dó menor.

3) E chegamos ao Schumann, que conhecia a obra de Ferdinand e o considerava "o romântico da era clássica" (!!). Schumann escreveu seu quinteto em 1842, e várias características foram "herdadas" da obra de Ferdinand (o livro se estende citando-as).

Entre Ferdinand e Schumann, vários outros quintetos foram escritos: Ferdinand Ries (1808), John Field (1815), Johann Cramer (1817 e 1823), F. Kalkbrenner (1817), C. Valentine Alkan (1823) e Anton Reicha (1826). Depois de Schumann, então, a lista continua por mais 5 páginas parando em 1904...



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Amancio



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MensagemEnviada: Dom Jan 23, 2011 11:51 am    Assunto: Responder com Citação

Quanto à formação do Quinteto de Schubert, a dra também cita sua origem. A obra foi encomendada pelo violoncelista Sylvester Paumgartner, que solicitou ao Schubert escrever "como o de Hummel em Mi b Maior, Op.87 (1802), um favorito de Paumgartner e seus amigos, com o contrabaixo no lugar no segundo violino". Além de Hummel e Schubert, Ries também escreveu um quinteto para a mesma formação, em 1815.



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IvanRicardo



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MensagemEnviada: Dom Jan 23, 2011 9:08 pm    Assunto: Responder com Citação

Valiosas informações, Amancio. Mas você não tá esquecido de conhecer essa obra não, né?

Ei, Paulo, chama o cara aí! Wink


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Amancio



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MensagemEnviada: Seg Jan 24, 2011 9:45 am    Assunto: Responder com Citação

Não, não esqueci não! Smile Mas essas coisas demoram pra cair a ficha, às vezes meses, às vezes anos.



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IvanRicardo



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MensagemEnviada: Seg Jan 24, 2011 6:55 pm    Assunto: Responder com Citação

Amancio escreveu:
Não, não esqueci não! Smile Mas essas coisas demoram pra cair a ficha, às vezes meses, às vezes anos.


O quê? Passar anos sem conhecer essa obra sensacional? Pô, faz de conta que é de Mahler!

P.S. Na realidade, eu não posso falar muita coisa não. Mais da metade dos meus CDs eu nunca ouvi.


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IvanRicardo



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MensagemEnviada: Sex Fev 04, 2011 9:58 pm    Assunto: Responder com Citação

Não há qualquer outra coisa que eu possa oferecer. Mischa Maisky e Martha Argerich se juntam a uma turma de orientais e executam com muita decência essa obra-prima do repertório camerístico. Deixem todos os vídeos carregarem para começar a ouvir. Não permitam que uma suposta lentidão da internet interfira na extraordinária coesão desta obra. Após os aplausos da platéia, a vontade é de ouvir tudo de novo.

1. Allegro brillante:
http://www.youtube.com/watch?v=wevDhfYKZDQ

2. In modo d'una marcia (Un poco largamente):
http://www.youtube.com/watch?v=0mksDpO5Zx4

3. Scherzo (Molto vivace):
http://www.youtube.com/watch?v=l5Cd3gZPnGw

4. Allegro, ma non troppo:
http://www.youtube.com/watch?v=DXe_1AWETIU

Boa audição!


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