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Wagner e oMito

 
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fanermaluco



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MensagemEnviada: Qui Nov 09, 2006 1:24 pm    Assunto: Wagner e oMito Responder com Citação

O OURO DO RENO OU O PODER E A VÃ GLÓRIA DOS DEUSES

REFLEXÕES SOBRE OS MITOS E SEUS SIGNIFICADOS

POR LYNN SNOOK

O homem e a sua experiência dos poderes primordiais, segundo uma antiga crença, impelido para a vida pela vontade dos deuses e, portanto, tornado vitima da própria vida, seu abandono em servidão neste mundo onde não pode acumular nada a não ser culpa – isso é o que Richard Wagner descreve no seu drama cósmico-mítico. Da sua biografia somos informados que esse conceito intelectual não foi originalmente pensado para ter uma tal abrangência, que ele não pensava atingir tais profundidades religiosas, mas os poderes intrínsecos da obra aumentaram o seu próprio escopo: enquanto trabalhava na “Morte de Siegfried”, ele descobriu no elemento arquetípico a imagem trágico-heróica. Isso deu acesso a ele às fontes míticas das quais tudo o que é destinado à humanidade emerge. Esse mesmo impulso que moveu Fausto na sua busca e na sua demanda pelos princípios, levou o poeta e compositor Richard Wagner, com sua ambição irrequieta, sua irreprimível procura por significado e redenção, para o passado primordial, do trágico fim do seu herói até os seus começos brilhantes, de lá ainda para a sua própria origem divina e, com isso, causando a conjuração de todas as sombras, vindas das profundezas, que desafiavam a vida deste herói.

O processo intelectual do mito contém uma transmutação da focalização de distâncias, do próximo ao infinito, do profano ao religioso. Visões de ambivalência temporal emergem de imagens. “A Morte de Siegfried” – “O Crepúsculo dos Deuses” – ganhou por necessidade um drama precedente (“O Jovem Siegfried”), a fim de revelar como a sua qualidade heróica se desenvolveu no ambiente selvagem. E para explicar porque ele cresceu nesse ambiente, um drama completo também se tornou necessário: o fim trágico dos pais do herói e da Valquíria que foi condenada a uma existência humana por ter se apiedado dos infelizes amantes, mesmo com o decreto impiedoso de Wotan e de Fricka. Porém, para prover completamente “o grande universalismo de todos os mitos legítimos”, que se revelaram a Richard Wagner nos seus estudos, teria que haver, como ele mesmo disse, “um prelúdio de relevância nas origens: o roubo do ouro do Reno”. Na sua empresa, para compor uma ópera sobre a tragédia do que é heróico, nascera uma epopéia tetralógica do “princípio e do fim do mundo”.

“A história simbólica que fala dos princípios, que nos narra sobre mitologias de todas as eras é a tentativa de uma consciência humana pré-científica, infantil mesmo, de solucionar problemas e enigmas com os quais mesmo a nossa consciência desenvolvida não é de modo nenhum capaz de lidar”, conforme nos explica Erich Neumann, na sua “História das Origens da Consciência”. Nosso intelecto, cultivando uma resignação derivada da percepção crítica, pode estar certo em qualificar essa questão sobre os primórdios, irrespondível e portanto não científica, mas a alma que refuta todo aprendizado e é inflexível em face da auto-crítica da consciência, uma vez mais e sempre nos propõe essa questão como sendo essencial para o seu próprio ser.

Para o homem primitivo - como para todo ser que ainda não despertou para a sua própria consciência e responsabilidade – as experiências espiritual e mundana coincidem. Mas a sua existência como homem na sua integralidade, que original e alternadamente o assomava como uma energia vital sombria, protetora ou ameaçadora, era dividida em elementos contrastantes através da sua própria experiência, bem como pelo processo de desenvolvimento inerente à sua própria natureza humana. No curso desse processo, sem que ele se tornasse consciente disso, deuses luminosos e sombrios da natureza se desenvolveram dos deuses demoníacos primordiais; conceitos metafóricos dos poderes da vida e da morte tornaram-se fórmulas religiosas para ampará-lo em sua vida - padrões modelares ou, como a psicologia profunda os têm chamado desde C.G.Jung, arquétipos de energias simultaneamente cósmicas e espirituais. Na alma do homem a infinidade dos céus, da terra e do mundo subterrâneo está em casa. Este estatuto psicológico do universo é confirmado pela moderna psicanálise, a qual observa diariamente através da terapia que o ser humano é governado pelas mesmas leis do cosmos divino, ou como diz Jung: ”Sua alma contém todas as imagens das quais os mitos sempre foram feitos” - e ainda continuam a serem criados. Antes de ter sido capaz de postular intelectualmente a questão da sua própria existência, o indivíduo respondeu metaforicamente a questão sobre a origem e a natureza da terra, com símbolos formados no desenvolvimento da sua própria consciência, enquanto que estes ganharam substância da matriz arquetípica primordial da sua experiência psíquica. Ainda inconsciente de si mesmo, sendo um com o mundo, vivendo em uma pequena comunidade, identificando-se com o que é humano – e continuando a assim ser identificado – “seu próprio desenvolvimento como o desenvolvimento do mundo, identificando as suas (do homem) próprias imagens com o firmamento estrelado, e seus próprios conteúdos como deuses cósmico-criadores” (Erich Neumann).

Karl Kerényi diz em seu livro “O Significado dos Deuses: “A Mitologia fala das origens. Os deuses são origens, bem como os heróis, na medida em que são ancestrais, fundadores (heróis-culturais) e modelos. Eles não precisam necessariamente ser modelos só no sentido positivo, deuses e heróis são modelos em todas as qualidades. Os mitos sempre criam precedências como ideais e como garantia de continuação”. Na sua “introdução à essência da mitologia” ele diz:”A mitologia funda, é o fundamento; ela não responde realmente a questão do ‘por que?’ mas sim a do ‘de onde?’ Ela não declara meras causas, mas sim declara materiais ou condições primordiais que nunca envelhecem, nunca se tornam irrelevantes, mas que provém exordia (origem). Estes materiais e condições formam o fundamento do mundo, visto que tudo descansa sobre eles...Onde o filósofo penetraria o mundo físico que o circunda a fim de ser capaz de dizer o que realmente é verdadeiro, o mitólogo retorna a tempos primordiais a fim de dizer o que originalmente era. Para ele os primórdios são a verdade”.

“Agora providencies tu para compreenderes profundamente o que os cérebros humanos não possam abarcar!”, diz Mefistófeles ao aluno curioso sobre o estudo da metafísica, quando representava a Fausto. Ele também diria isto à pesquisa mítica contemporânea. Mesmo assim, o espírito que sempre nega não somente fala a verdade – do seu próprio jeito ele realmente e sempre o faz assim – mas ele quase chega a ser filantrópico! Ele fornece um aviso com a receita. E


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MensagemEnviada: Qui Nov 09, 2006 1:25 pm    Assunto: Responder com Citação

esta receita - que no entanto não pretende ser o único possível curso a ser tomado – quando aplicada à esfera mítica diz: ”Cuidado – símbolo! Cuidado – só para uso interno! A seguinte tentativa de uma interpretação esta fadada a ter seu significado neste espírito; ela não quer dizer “este é o jeito dela!’ mas sim ‘Isto faria sentido e seria assim compreensível!’”

Visto que o conteúdo mítico só pode ser ele próprio expresso simbolicamente, ele só pode ser feito compreensível para o intelecto somente como símbolo. Aqui começa a dificuldade, no entanto, visto que um símbolo é tão ambíguo e ambivalente que a uma interpretação pode ser associada uma seguinte e uma outra seguinte a esta; somente mais uma, e uma interpretação, e uma completa contradição com a 1ª interpretação pode surgir.É precisamente a essência do símbolo que é multifacetada e aberta a muitas interpretações; mais do que estimular pensamentos e fantasias gráficas, o símbolo estimula sensações e sentimentos, os quais quanto mais inconscientes tais permanecerem, mais vigorosas serão suas energias liberadas, sendo que tal fermentação pode ser criativa e /ou destrutiva. Sendo assim, o conhecimento intelectual não é suficiente para compreender a linguagem simbólica das imagens. Visto que tal linguagem simbólica é uma consequência da intuição psíquica,
ela somente é acessível através do instinto psíquico e deve ser compreendida de um modo afim. E é aí que a pesquisa científica começa – na mitologia comparativa, antropologia e filologia e, por último mas não menos importante, pela psicologia, com a sua interpretação dos sonhos e seu entendimento das funções da alma. A Psicanálise contemporânea tem um quinhão importante de responsabilidade neste contexto, visto que ela reconhece a objetividade psíquica nas dimensões míticas como representação simbólica do estado inconsciente e destes processos dinâmicos os quais, latentes em cada ser, irrompem espontaneamente, para o melhor o para o pior.

“Quem pode dizer de onde as lendas originalmente vieram – das alturas ou dos abismos?”, pergunta Thomas Mann na sua trilogia sobre o José bíblico. Wagner responde esta questão com seu gênio teatral, nascido do conhecimento intuitivo, demonstrando que, em ambos os planos, os processos mutuamente causam e compensam-se uns aos outros. Acima e abaixo – estas são, portanto, as cenas apropriadas para os princípios desta tragédia universal, que é gerada pela óbvia incompatibilidade destas duas esferas.

Há um contraste natural entre as profundezas crepusculares do Reno, o aspecto sombrio do Nibelheim e os brilhantes reinos superiores dos deuses. No entanto, não há uma fronteira marcada; existem conexões e meios de comunicação. Alberich se esforça para cima – os raios do sol incidem no meio do rio e desvendam os segredos ocultos daquele – Wotan desce com Loge para o domínio dos anões – Alberich tem que emergir para a luz e retornar novamente para as profundezas e o lamento das filhas do Reno pelo ouro perdido pode ser ouvido pelos deuses quando estes cruzam a ponte do arco-íris a fim de se elevarem eles próprios acima do seu já alto nível natural. Quando sobe o pano, mostrando as águas do Reno, os gigantes, já sob as ordens de Wotan, já estão construindo o castelo. Wotan dorme enquanto trabalham. conseqüentemente o deus não sabe que, neste meio tempo, o ouro está sendo roubado. Há uma concordância mágica entre os vários planos do mundo mítico da imaginação, onde cada processo inicia o outro. Uma coisa influencia a outra, e o que factualmente acontece simultaneamente em vários níveis se desdobra seqüencialmente na ação cênica como um leque que se abre.

A famosa tríade em Mi bemol maior soa em antecipação, a fim de estabelecer um clima básico, elementar, de uma sagrada profundidade e de atemporalidade para tudo o que esta sendo visto e encenado; seus princípios são imperceptíveis, como a própria eternidade mesma, cujos princípios são inimagináveis e incompreensíveis. Contudo, neste mesmo momento, quando o estado de equilíbrio penetra a consciência, o acorde contido se parte em notas individuais formando uma melodia. Algo irrompeu no estado absoluto do vácuo e quer se tornar um acontecimento, ou seja, o tempo começa a fluir quando esta tríade começa a fluir, os sentidos adormecidos despertam e animam as profundezas amorfas. As trevas transformam-se em alva perante o olhar, noturnamente cegado, que começa a perceber figuras nas sombras, manifestações de sentimentos fluentes, encarnações da vida. São formas femininas, em parte animais, em parte humanas, com belas faces e suaves, fluentes movimentos de peixes. Por ser o canto harmonioso delas tão atraente, este desperta no seu ouvinte o desejo de imergir no elemento delas e ser por elas amado. Tais seres míticos abundam em todos os mares e rios de todo o mundo: ninfas, náiades, sereias, nereidas e oceânides são os nomes mais comuns dados a elas. São manifestamente belas, onde quer que representem o bem-estar estético do auto-abandono perante as correntes refrigerantes e restaurativas da existência. E, não importa a linguagem que cantem, cantam e fazem música a perfeição, seduzindo aqueles que as ouvem para que se entreguem; e qualquer um que sucumbe à sedução delas é atraído nas profundezas delas, e “nunca mais é visto...”

A mesma coisa é verdadeira para o Reno o qual, a longo do tempo, foi brindado com cada vez mais destes seres, atingindo assim fama mundial através da saga, da canção folclórica e do turismo “romântico”. No entanto nas esferas míticas um rio, independentemente do seu nome e lugar, é considerado como a corrente da própria vida, como elemento de um sentimento que começou a se agitar, mas ainda jaz parcialmente adormecido. O trio de filhas do Reno têm o mesmo significado da tríade em mi bemol maior; enquanto que o “1” é uma unidade independente, e o “2” é um par auto-suficiente de contrastes, o “3” quebra as estruturas, estimula a inquietude criativa, que é inerente ao caráter lúdico das filhas do Reno. Seus espíritos elevados e seu sedutor jeito malicioso mostram que não são deusas, mas sim espíritos da natureza, com toda a falta de entendimento das suas origens como criaturas, filhas de um pai demoníaco, cujos segredos elas próprias não entendem, mas parcialmente entregam no seu jeito superficial, expondo assim o objeto da sua guarda a conjecturas estranhas e ao roubo: desejáveis, mas, no final das contas mantenedoras descuidadas do seu dote, o tesouro dourado das profundezas.

Ainda não há seres humanos para se envolverem com as filhas do Reno, a natureza ainda está só; pois os deuses, gigantes e anões que estão para além do Reno também são incorporações formativas das forças naturais que agem e funcionam dentro da sua esfera cósmica. Para capacitar a metamorfose, a dinâmica da existência força estas incorporações formativas além das suas fronteiras, a fim de refinar a sua espécie. Wotan, demônio dos ventos e da ira, o qual evoca as


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MensagemEnviada: Qui Nov 09, 2006 1:26 pm    Assunto: Responder com Citação

paixões ou a inquietude criativa, bem como a alegria do combate e o conflito mortal, alcançou a supremacia na hierarquia da natureza da mitologia nórdica sob determinados estímulos, tais como a capacidade de diferenciação expandida e a capacidade sublimatória. Na imaginação mítica ele se tornou a encarnação idealizada de tudo o que é irracional e magnificamente espontâneo - um violento adventício básico. Aquele que uma vez foi o líder da legião selvagem, deixou bem para trás de si suas origens demoníacas, depôs o seu sombrio poder ctônico, perdendo assim sua sombra da qual Alberich cresceu, o Rei dos Anões, o Espírito Negro.
Para que ele não devesse ser nada a não ser um espírito de luz, Wotan empenou-se em conquistar sabedoria, humildade e a aprender o significado do auto-sacrifício. Visto que ele próprio era o deus supremo, estava só eu seu empenho. Do “Poema rúnico de Odin” no “Edda” em versos pode se ver como ele se auto-infligiu uma ferida e enforcou-se no Freixo do Mundo em solidão e auto-negação – sendo, nesta sua aceitação de sofrimento um exemplo divino de sofrimento:

“Cônscio estou de que pendi
da ventosa Árvore,
lá balançando, no total de 9, por 3 noites;
Cutilado com uma lâmina
sangrenta, para Odin,
Eu mesmo um sacrifício para mim próprio;
Atado naquela árvore, cujas raízes correm
para não se sabe, onde.


Enquanto Odin jazia em meditação, ouviu as vozes secretas das profundezas e, gemendo, com a cabeça pendida, escutou o sibilar que tomou para si na forma rúnica, caindo então da árvore; cortou uma lança do Freixo do Mundo, onde gravou as runas como uma forma de pacto com as leis da natureza, e a reteve desde então como a haste do mundo. E, visto que o novo deus tomara posse do conhecimento dormindo nas raízes mais profundas do Freixo, estabelecendo-o assim como a própria lei dele (do deus), o próprio Freixo começou a fenecer.

Mas Wotan, o provedor da lei, tornou-se ele próprio o 1º a violá-la. A experiência dele de sofrimento e sacrifício empalideceu na crescente radiância dos seus céus. Outros deuses se juntaram a ele e, a medida em que Wotan se inebriava com seu próprio poder, sua antiga obstinação tinha re-emergido.

Para ele mesmo manter-se como poder divino, Wotan fez pactos irresponsáveis com outros poderes da natureza, sem disso estabelecer uma relação com as profundezas prolíficas, com as trevas férteis. Com sua natureza ensandecida, vigorosa, arrebatada mesmo, ele permaneceu inconstante, sendo que sua própria inquietude e falta de confiança, causaram-lhe o temer por sua própria supremacia, até que conjurou a visão de uma fortaleza que representaria sua glória como divino agitador e estrategista, bem como lhe oferecendo proteção contra a “Cobiça da Noite”. Wotan não percebeu que o superestimar da batalha e o seu desdém dos poderes subterrâneos, com suas leis materiais, provocou inimizade nas profundezas. Alberich, o demônio da noite, o sombrio alter ego de Wotan (i.e., seu reverso psicológico), senhor dos poderes inatos à matéria, os quais ascendem e recuam, ascende da sua sinistra esfera, cobiçoso por conquista.Ele é impelido acima, para o reino onde tudo flui, onde ele descobre as cintilantes ninfas no”crepúsculo do rio. Deliciado e cheio de desejo, ele corteja em vão as donzelas aquáticas. Aos olhos delas, ele é um “lânguido diabrete”, incapaz de se soltar numa torrente de emoção, esquecendo qualquer objetivo e alvo, incapaz de amar, despreparado para as alegrias do amor. A terceira ninfa o reconhece 1º :”Guardai o tesouro; o Pai nos alertou de um tal inimigo’. Ela também percebe o “olhar penetrante” dele, a má natureza e a cobiça dele, sua “barba hirsuta”, sua sensualidade, sua “forma de sapo” – a antiga criatura de sangue-frio do pântano, a qual não pertence à água fresca. Então riem as ninfas do “lânguido anão” e zombam dele por que não pode nadar e brincar com elas. “Somos isentas de fraude e fiéis ao cortejador que se apodera firmemente de nós”. Isto transforma a cobiça do anão em raiva: ”Meus membros queimam-se e incandescem-se numa chama ardente! Ira e paixão me revolvem o espírito selvagem e poderosamente! Enquanto ris e mentis, em luxúria estou sedento de vós, e uma de vós a mim cederá!”. “Se este punho pegasse uma delas!...”. O desejo sexual não poderia tomar uma forma mais repelente e idiota do que está. Sendo espiritualmente desprovido de talento, incapaz de se equiparar à graça e ao talento das ninfas, Alberich só provoca nelas frivolidade.

Subitamente contudo, o até então indefinível, vago mundo dos sentimentos passa a brilhar. “O sol que desperta sorri nas profundezas”, e diverte-os da tola escaramuça. O sol – o símbolo da suprema consciência do mundo – ilumina a “Estrela das profundezas”: o sentimento se torna luz, e esta clarificação e fundação da conscientização do sentimento provoca ânimo e traz felicidade. O reflexo dourado do sol faz as ninfas parecerem ainda mais desejáveis, e esta luz também poderia transfigurar Alberich – mesmo fazendo ironia, elas falam a verdade – se ao menos ele fosse capaz de render-se a si mesmo completamente à beatitude em auto-oblívio. Mas o desamorável não tem o entendimento do poder espiritual, sublimado do sentimento no que diz respeito a um amor altruísta e sem egoísmo. Ofuscado pelo refulgir do ouro, ele tenta descobrir para que uso prático ele pode ser empregado. A sábia 3ª ninfa conta a ele as palavras do pai delas:”Aquele que do Ouro do Reno forjasse um Anel conquistaria a herança do mundo, pois o Anel lhe concederia poder ilimitado”. Esta sentença soa oracular; como todo conhecimento das profundezas, qualquer um pode interpretá-lo para si mesmo no modo mais apropriado a si. A Natureza Inconsciente tem este conhecimento dentro de e concede o poder e o contentamento na vida, para que as criações dela cresçam e se aperfeiçoem elas próprias. Este impulso vital é a riqueza e o tesouro da própria natureza que deseja ser elevado para dentro da consciência, ainda que ninfas e dragões dêem o melhor de si para guardá-lo. O reluzir do Ouro nas profundezas é somente um vislumbre do seu valor. uma sugestão da sua energia imaterial e ideal. que só pode ser percebida por aqueles que conscientemente se concentram no valor que eles assim desejam conquistar para si mesmos o presenteá-lo ao mundo.Em qualquer hipótese, tais indivíduos conquistam o mundo neste processo, quer através de energia criativa, quer através do amor que a tudo abrange.


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MensagemEnviada: Qui Nov 09, 2006 1:27 pm    Assunto: Responder com Citação

Alberich, no entanto, só consegue pensar em “Poder incomensurável”, como só assim pode dentro do seu próprio escopo e interpreta “a riqueza do mundo” de modo material. A 2ª sentença oracular parece ser ainda mais apropriada à natureza de Alberich. Como poderia ser ele capaz de diferenciar entre renunciar ao “poder do Amor” e renunciar ao “Prazer” a fim de conquistar o amor puro? Ele crê que precisa renunciar ao amor em sua totalidade, visto que só compreende o que é barganha e nunca entenderá o que é abnegação, transmutação psíquica e o verdadeiro significado do sacrifício. Em fúria cega e inveja de toda alegria jocosa e de toda beleza inútil, que é auto-suficiente, ele amaldiçoa tudo sobre o que o amor é baseado, acreditando-se ele próprio triunfante quando grita:”Extinguirei a vossa luz!”. Tudo aquilo que é livremente dado aos que amam, ele crê poder tomar pela força, roubando assim a energia da vida destinada a propósitos mais elevados a fim de transferi-la para as suas próprias profundezas; seu poder cego, até então desprezado e escarnecido, é transformado numa fanática diligência de esforço de ganho da ansiada dominação do mundo. Em termos básicos, Alberich age segundo sua natureza, intuitivamente realizando, em sua perversão do Amor, aquilo que foi iniciado nas alturas sublimes.
O que ocorre neste meio tempo nas esferas mais luminosas não é menos grotesco. Wotan dorme a fim de sonhar: “Portão e porta guardam o salão sagrado da minha alegria: a honra humana, o eterno poder, eleva-se à fama eterna!”. Que tipo de Deus é este, que dorme nesta elevada esfera, a fim de não ter que arbitra o que está acontecendo?! Fricka, sua esposa, guardiã do casamento desperta-o, e o sacode do “engano dos sonhos”; “Levanta-te, esposo, e considera!”. è ela que agora reconhece com horror toda a extensão das cruéis negociatas que Wotan dela escondeu a fim de evitar conflito. Mas agora, ele tem que ouvir as reprimendas dela:”ò sorridente e criminosa leviandade! desamorável frivolidade! Soubesse eu do teu contrato, teria impedido a fraude”!. Por outro lado, foi exatamente Fricka que estimulou Wotan a construir o Wallhall, destinado a proporcionar ao irrequieto errante, sempre em busca de contentamento, a possibilidade dele mesmo encontrar-se em comunhão com ela. “Mas tu só pensastes em defesas e arsenal. Este altaneiro castelo só foi erigido para instigar tempestades de insatisfação... pelos joguetes inúteis de poder e domínio porias em jogo o amor e o valor feminino?” Wagner enfatiza o fato de que a preocupação de Fricka é justificada, introduzindo juntamente com as perguntas angustiadas de Fricka, o tema “somente aquele que renunciar ao poder do amor...” cantado pelas ninfas, sugerindo assim que Wotan também renunciou ao amor,visto que ele – em seu próprio jeito – o entendeu tão erroneamente como Alberich. Obviamente Wotan não tem a intenção de abrir mão da presença feminina, quer de Fricka ou Freia, sua “bela cunhada”, mas acaba por não perceber que o Walhall, como meio de consolidação do seu poder, está fadado a aliená-lo de tudo o que é feminino. Portanto, a tentativa dele de auto defesa é injusta: “Para conquistar-te como esposa, empenhei um de meus olhos; quão tolamente me repreendes!”. O Deus, em retorno pelo direito de beber da fonte de Mimir, a própria fonte mesma da sabedoria abaixo das raízes do freixo do mundo, empenhara um de seus olhos. Assim o narra o “Edda” islandês, uma das poucas testemunhas escritas da mitologia nórdica. Este evento simboliza o fato de Wotan, juntamente com o olhar exterior para os eventos do mundo, tivera que ter o olhar interior a fim de atingir a introvisão da estrutura íntima da natureza, cuja sabedoria é mais profunda e abrangente do que o entendimento intelectual, limitado pelo ego. Wagner, que estudou todos os mitos até então existentes, e teve que tirar suas próprias conclusões de eventos paralelos, mais uma vez e sempre revestidos em novos aspectos, para que pudesse incorporá-los em seu próprio poema, não falseou as implicações psicológicas, mas sim as delineou de modo ainda mais preciso. A medida que ele compreendeu intuitivamente o significado original dos mitos tradicionais, ele foi capaz de permutar um símbolo contra o outro: especificamente representar Fricka como recompensa a Wotan por ter bebido da fonte de Mimir, visto que ela, antiga deusa da natureza, assim como uma das muitas encarnações da figura da Grande Mãe (imagem dominante em todos os inícios mitológicos), representa a sabedoria natural e a razão. Fricka juntou-se a Wotan como esposa, mas o que ela representava permaneceu fora da consciência dele; o seres masculino e feminino não alcançaram uma união em amor: Wotan permaneceu o “Rude Selvagem”.

O Walhall era intrinsecamente uma retirada frente a consequência da realidade, uma falha em sublimar, uma barricada do “Self” contra a integralidade da vida –nenhuma fortificação para a manutenção da totalidade dos valores da vida! – Como Wotan foi incapaz de realizar uma metamorfose espiritual começou assim, com a construção do Wallhall, a mentalidade teutônica e o Desastre. A entrada dos deuses no Wallhall é a origem da tragédia tetralógica, na qual Wagner, com introvisão psicológica, desvenda o tortuoso desenvolvimento e inevitável declínio da imagem nórdico-germânica da divindade.

O castelo de Wotan agora assoma acima das nuvens como símbolo visível da beligerância desafiadora masculina. um gigantesco engano que esconde o quão dividido este deus está dentro de si mesmo. Naturalmente só gigantes seriam capazes de construir este castelo rochoso, pois Wotan desejou dar poderes à força bruta e não à inteligência. Gigantes são as forças inconscientes da natureza e, portanto, muito mais antigas do que todos os deuses de todo o mundo. Comparando as usas genealogias míticas, encontram-se onde quer que haja estórias de batalhas nas quais os deuses têm de derrotar os gigantes a fim de afirmarem-se. Muitos foram mortos ou banidos para o mundo subterrâneo, mas sempre permanecera, em numero suficiente para continuar a formar obstáculos maciços e obstinados. mas também p/ formar reforços. Nos mitos nórdicos é primariamente Thor (Donner ou Donar) , ele mesmo ainda um meio-gigante, que têm as maiores confrontações com eles - freqüentemente, contudo, na companhia de Loki, cuja astúcia vem resgatá-lo em muitas aventuras. Também há gigantes fêmeas, cruéis e belas; e as belas têm, às vezes, sorte o bastante para serem amadas por um dos deuses. Tal anedotário mitológico reflete a experiência de que não é sempre o mais esperto que ilude os gigantes simplórios, visto que os próprios gigantes se permitem serem controlados e explorados por uma força superior a qual eles, ao seu modo, reconhecem.

Fasolt e Fafner representam o bem e o mal, lados naturais do seu rude poder, lado este mostrado por eles grosseiramente quando passam a ganhar superioridade moral. Acena dos gigantes é tanto cômica quanto medonha, quer no diálogo verbal, quer no musical. Enquanto a única questão é conquistar Freia, Fasolt, o gigante de boa índole, é o negociador. Jovialmente, e com um senso de justiça tocante (que os deuses subestimam em detrimento deles mesmos), Fasolt relembra a Wotan o acordo entre eles. A recusa do temerário deus magoa o gigante, enquanto que em Fafner esta recusa só desperta desdém e malignidade. Fafner e mais calculista do que seu irmão, quer tomar Freia dos deuses por que sabe que assim afetará o próprio cerne da vida destes, enquanto que seu irmão só a considera sob uma luz sentimental, considerando-a como o tipo certo de aconchegante relaxamento para a crueza do seu modo de vida e um conforto para o


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MensagemEnviada: Qui Nov 09, 2006 1:28 pm    Assunto: Responder com Citação

próprio Fasolt, quando este estiver enfadadoconsigo mesmo. Fasolt venera a beleza e o que é gentil, e Wagner o provê, eqüitativamente e sem ironia, com uma brilhante linha melódica realmente bela, tal como proveniente de uma canção de amor, enquanto o gigante justifica sua própria exigência: “...conquistar uma mulher a qual, deleitosa e gentil, viva conosco, pobres coitados...”. Isto é vergonhoso para os deuses e irritante para Fafner, que súbita e brutalmente “quebra” o clima: “Cessa tua tagarelice inútil!”. Fafner é seguro de si mesmo e de que está c/ a razão; tal ironia trágica, que corre pela ação como um filete, desde este momento em diante até a catástrofe culminante do final do “Crepúsculo”, quando Loge a confirma.

Wotan espera impaciente por seu astuto amigo, enquanto que ele e sua corte são reduzidos a uma caricatura de sua própria arrogância devido a conduta suspeitosa para com os gigantes. Loge é a encarnação da inteligência impulsiva nascida de um entusiasmo fogoso, a qual Wotan uma vez descobriu nas consumidoras e iluminadoras chamas do fogo, fazendo-a encarnar, a fim de ligá-la a si mesmo e tê-la à sua disposição, sem, contudo, elevá-lo à mesma eminência dos outros deuses; Loge não se tornou um ideal ou um componente dentro da ordem divina, e mesmo na forma divina ele permaneceu sendo um elemento transitório, o qual, como sempre, está ao mesmo tempo em casa em toda parte e em lugar nenhum. “Minha índole me impele às profundezas e às alturas”, diz ele, portanto, de si mesmo. Mas enquanto que ele ilumina as situações onde quer que vá, ele sempre traz a Wotan, de quem é mensageiro, uma extensão da esfera de conhecimento deste. Loge é o elo ativo entre todas as esferas, através do que, como o é natural do próprio elemento fogo, ele impetuosa e bravamente estimula o intercâmbio de forças entre elas e uma contra a outra. No entanto ele mesmo, com sua natureza bruxuleante, nunca pode tomar partido de nada nem ninguém, visto que sempre tudo vê de todas as perspectivas. Moralmente indiferente, ele responde ao bem com o bem e ao mal com o mal; torna-se irônico logo que se encontra numa posição de dominância; abusa de quem não o enfrenta bravamente, mas nunca calunia; e quando Donner e Froh o atacam, em vaidade e estreiteza de espírito, ele astutamente se defende: “Para ocultarem sua própria vergonha, os tolos me ofendem”. É, afinal de contas, da própria natureza de Loge fazer tornarem-se conscientes sentimentos, pensamentos e eventos, os quais até então estavam encobertos na treva, i.e., inconscientes, e assim trazer à luz não somente as coisas agradáveis, mas também todas as contradições. Se, como diz o ditado, “não saiba a tua destra o que a tua mão esquerda faz”, então loge é o portador de conhecimento entre as duas, neste processo revelando a verdade desconfortável. Por isso, “A ingratidão é sempre a recompensa de Loge”, i.e., daqueles privados de visão interna. Só Wotan é amistoso para com ele, somente o deus supremo busca o seu auxílio, e tem sido capaz até agora de confrontá-lo – isto é, enquanto ele não tiver de temer nada das descobertas de Loge. Contudo agora, que wotan tenta usar a inteligência de Loge de um modo enganoso, fica envolvido nas contradições reveladas a ele por Loge, mas na sua vaidade e na sua tolice da cobiça por poder, ele tenta empurrar a culpa para Loge. Wotan não quer mais admitir que só ele é responsável pelos critérios, julgamento e decisão, e começa um perigoso jogo suicida, o qual ele finalmente perderá; ele quer a verdade de Loge e, ao mesmo tempo, um meio anti-ético de contornar a verdade - aqui, no entanto, loge está além dos seus limites. Ele tem clarividência para perceber coisas antes que sejam percebidas por outros, mas não é um conselheiro maquinador ou malevolente como Loki, que aparece no “Edda”.

Com Loge, Wagner criou uma figura cênica particularmente fascinante do arcaico e imortal material no qual as características arquetípicas de logi e Loki, que são a chama, são combinadas. Portanto Loge preserva uma personalidade livre de malícia e iniqüidade; ele é menos ambiguamente iridescente do que Loki o qual, embora constantemente disponível para conselho e ação, , indiretamente torna-se por duas vezes o assassino de Baldur, arranjando o atentado ao mesmo e impedindo a salvação deste do Reino dos mortos. Apesar disso, a comparação entre Loki e Loge é ainda assim muito instrutiva num estudo do drama musical de Wagner, no qual a propensão destrutiva e suicida da religião germânica um pressuposto para uma nova vida, leva à catarse. Loge é de longe mais ponderado e digno do que Loki, seu protótipo tradicional no “Edda”. É dada no poema “Os discursos desdenhosos de Loki” rédea solta à malevolência com a qual o deus/elemento gosta de desenterrar faltas ocultas; lá, ele admite: “Trago aos excelsos deuses desprezo e ódio, e misturo malícia na cerveja deles...e não fico sem respostas”. O fato de que ele odeia “Aqueles que vivem nos céus” é, neste poema, o efeito de uma era na qual os deuses já estão vivendo no Walhall. Quando Loki uma vez postou sua cabeça numa aposta temerária com anões, e perdeu, ele tentou dissuadi-los da sua situação tão astutamente que os anões, na ira deles, costuraram a boca de Loki, a qual tão notória era por suas calúnias. mas ele rápida e novamente arrancou a costura. Loki tinha uma boa esposa e bons filhos junto dela, mas a natureza híbrida dele tornou-lhe possível mudar tanto sua forma quanto seu sexo. Assim, uma vez ele transformou-se em uma égua a fim de fugir com uma garanhão, do qual necessitava um gigante para a construção do Wallhall. Sem seu cavalo mágico, o gigante não pôde terminar a construção do Walhall no tempo determinado, perdendo assim Freia, a qual lhe tinha sido prometida como recompensa. Esta aventura enganosa e a infidelidade para com a sua própria mulher significaram o fato de que Loki pôde trazer para casa Sleipnir, o Corcel de 8 patas, e dá-lo a Wotan. “Tal é a verdade – desejas ouvir mais?” é o refrão dos “Breves ditos da profetiza”, que encontram-se no “Edda” poético, no qual é dado uma alerta sobre a precária posição dos deuses em “profético ânimo oracular e em tons de Órgão apocalípticos”, como o caracterizou o editor dos poemas. No décimo primeiro verso lê-se: “Loki devorou o coração / que jazia nos carvões; / meio queimado ele encontrou / o coração de uma mulher;/ Loki foi fertilizado / por esta hedionda mulher; / desde então, p/ o mundo / vieram todos os lobos”. Tal mulher foi a giganta Angrboda, que devorava seres humanos, e que tinha sido queimada pelos deuses, mas cujo coração permaneceu não destruído no seu poder fertilizante, dando assim Loki à luz à mais medonha progênie, a que foi então responsável pelo fim dos deuses: Fenriswolf, Mitgardschlange e Hel.

no seu aspecto mais luminoso, Loki tem relação arquetípica com o Deus olímpico,o absolutamente clássico mensageiro Hermes. no mais sombrio ele pertence a os “Tricksters” e aos agitadores proscritos, aos demônios de todos os tipos, e o Loge de Wagner ficaria pasmo se ele realmente tivesse que conhecer esta parentela. Ele nem mesmo herdou a arte da dissimulação e da falsidade destes seus primos. Loge sempre diz a verdade, pelo menos para os deuses, fazendo-se assim impopular, pois nunca é capaz de ficar calado. Somente no nibelheim ele pratica, pela imposição de Wotan, a arte do subterfúgio, e um tipo de retórica que não se distancia muito da mentira quando ele adula Alberich. Wagner não somente deu a este astuto e impetuoso personagem um nome mais suave do que o do seu equivalente mítico, bem como o proveu


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MensagemEnviada: Qui Nov 09, 2006 1:30 pm    Assunto: Responder com Citação

com circunstâncias atenuantes, privando-o da sua independência, antes que ele pudesse encher-se de veneno e tornar-se demasiadamente malicioso, transformando-o novamente em um elemento, a fim de usá-lo dramatúrgica e psicologicamente – o que dá no mesmo aqui – de uma maneira diversa da narrativa mítica. Foi também por causa de Loge, e portanto com a ajuda de Loge, que Wagner ignorou com grande audácia a antiga idéia religiosa do Ragnarok, i.e.,o fim pré-determinado dos deuses, descobrindo uma nova concepção, a qual se ombreia à tradicional em beleza poética e em gráfico poder mítico. Assim não é mais a cria de Loge que destruirá deuses e mundos, mas o seu fogo, que Wotan aguarda como sua própria redenção. “Fazer arder a eles que uma vez me submeteram, em vez de com os cegos inerme perecer, ainda que fossem dos deuses os mais divinos...não penso ser isso idiota...meditarei sobre tal...quem sabe o que faço?”. Com tais considerações Loge permanece na retaguarda, segregando-se dos deuses, ele os fará arder e os consumirá quando não for mais o comparsa compulsório de Wotan, mas sim o aliado de Brünnhilde e se “Apossar do coração dela como fogo adiante”; quando ele for a “morte chamejante do amor sorridente dela”, pelo que a flama do seu “morrer no espírito da vida” trará redenção através da catástrofe.

Quer sejam eles chamados Loki, Loge, Hermes ou Mercúrio, estas figuras representam a mesma função do desenvolvimento emocional-eruptivo do ego; elas representam, a lógica das inferências psíquicas, em contraste com o pensamento conceitual com sua lógica abstrata, primeiramente desenvolvida pela humanidade num estágio posterior de consciência, e que extirpou a mitologia junto com a filosofia. Enquanto Wotan ouve Loge, é na realidade o próprio conhecimento de Wotan que lhe é revelado, O errar de Loge pelo mundo é a própria busca de Wotan de uma saída para o seu dilema fatal. O relatório detalhado de Loge confirma o que ele já sabe, mas o que até então ele tinha se recusado a admitir: o preço do Walhall é a perda do gozo da vida baseada nos sentimentos, da presença arrebatadora e rejuvenescedora de Freia. E quando Loge louva “O valor e o deleite femininos” calorosamente, com todo o seu ser e entusiasticamente diz: ”nas Águas, na Terra e no Ar ninguém abrirá mão do Amor e do q. é feminino”, ele certamente não o diz ironicamente; o relato reflete o próprio surto de emoção de Wotan e com o qual Loge de bom grado concorda. Loge se entusiasma com tudo que vem ao seu encontro, quer seja verdade ou engano, mas até aqui o deus decide onde jaz a proeminência. Wotan é o fôlego com o qual Loge fala; ele provê o vento que atiça o fogo de Loge, a vontade de Wotan determina o sentido para o Bem o para o Mal. Como Loge patrocina a causa das Filhas do Reno, aparece o 1º sinal de desarmonia. Mas Loge é bastante flexível para esquivar-se e para induzir o “Altivo filho da luz” para acompanhá-lo na sua incursão (pilhagem).


A fim de evitar o caminho através do Reno – Wotan também tem uma consciência culpada para com as Filhas do Reno – o Deus precisa atravessar a “fenda de enxofre”, i. e., através de uma garganta perversa, desonesta, a fim de alcançar o Nibelheim. A “Terra noturna dos Nibelungos” representa os incontáveis poderes formativos no contínuo processo de crescimento e deterioração das esferas vegetal e mineral, e aqui, nestas profundezas, não é feita distinção entre vida e morte. No passado, estes “despreocupados ferreiros” tinham criado “refinadas bijuterias para si mesmos” e “riam prazerosamente...”, côo o relata Mime. Aos olhos de Loge o Ouro era também pouco mais do que uma bagatela: “é um brinquedo nas profundezas da águas, para dar prazer às crianças que riem”. Aqui, como lá, filhos da natureza eram felizes, enquanto pudessem eles mesmos deleitar-se em seu elemento e alegremente trabalharem, sem serem feitos instrumentos de algum propósito alheio. “O Formar e Re-Formar – a eterna diversão do eterno Espírito”, é como Goethe denomina a essência e a aparente superabundância da natureza, cujo ventre é ao mesmo tempo berço e túmulo. No Nibelheim Alberich destruiu a criatividade despreocupada; seu roubo acrescentou o Padrão-Ouro do sentimento ao Padrão-Ouro das posses materiais, mas este recíproco aumento de valor teve um efeito negativo: no seu ódio fanático e na sua cobiça de poder, Alberich teve sucesso em forjar o anel como um círculo vicioso da sua própria energia. Assim, com esta concentração de poder e capacidade divinatória ele pode descobrir “onde uma nova fulguração se oculta nas fendas”, podendo submeter todos os anões ao seu domínio, que agora servem a ele com a sua habilidade e diligência “sem pausa nem repouso”. Isto não é cultivar a natureza, mas sim explorá-la, e um abuso da sabedoria criativa da mesma. Alberich emprega de modo sinistro a arte de camuflagem da natureza destinada a proteger os animais, plantas e rochas de olhos cobiçosos: Mime, o mestre ferreiro, tem que forjar o elmo mágico de acordo c/ as instruções de alberich, o que dá a ele a capacidade de mudar sua forma a vontade. E agora, com a ajuda do Anel e do elmo mágico, os tesouros do Nibelungo aumentam e com eles cresce um sentimento de poder e culpa profunda em Alberich, o que faz com que ele branda o chicote a fim de manter os seus escravos em medo e pavor, e assim suprimir o seu próprio medo e culpa. Com a ajuda do Elmo mágico, o sonho de todos os malevolentes, ele pode se esconder e atacar, de modo covarde, do lugar onde estiver oculto; ele pode assumir qualquer posição a fim de se fazer invulnerável; mas ele só estará a salvo daqueles da sua espécie, pois o anel somente materializa as potencialidades do seu dono em plena realização e, com o elmo mágico, ele só pode dar forma exterior a qualidades previamente existentes na sua pessoa. De início, Alberich teme e intuitivamente tenta afastar os invasores da esfera superior, mas quando eles adulam a vaidade do anão, ele esquece da superioridade deles e o fato de que podem perceber sua mente. Ele imagina que pode se disfarçar e impressioná-los e, contudo, ele se mostra meramente no que ele é: um pequeno sapo rastejante de sangue frio, inflado pela sua auto-importância em se tornar um dragão – um astuto habitante dos pântanos, mas para alguém que quer ficar acima dos pântanos ele é o equivalente de um personagem que pode ser sobrepujado em astúcia. Com o seu desafio, Loge provê o exemplo mais simples de psicologia de personalidade, a qual é recorrente em todas as partes do mundo em mitos e contos de fadas. Até mesmo um pequeno gato-de-botas a pratica a fim de derrotar o mago perverso e canibal, e conquistar os tesouros para o seu mestre.

O espírito das sombras deve ser feito cativo e forçado a emergir para a luz, de modo que se possa dele tomar os seus tesouros, mas, fora isso, a existência do Anão, plena de ódio, não preocupa o despótico espírito da Luz subseqüentemente: “Exijo o Anel! Faça o que quiser da sua vida!”. Um senso de responsabilidade e justiça é somente uma desculpa inconsistente para tal exigência. As ameaças de Alberich não amedrontam, pois o anão não admite que o anel foi criado através da inveja das sombras pela luz e através do ódio a tudo o que é ideal e divino. Totalmente arrebatado e com cobiça pelo aumento de poder, Wotan apossa-se do Anel como um louco – e junto com o Anel a maldição do mesmo: ”...que a magia dele engendre morte a quem o usar! ...Quem quer que o possua que o consuma por atormentar-se e quem


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MensagemEnviada: Qui Nov 09, 2006 1:31 pm    Assunto: Responder com Citação

não o possua, que seja roído pela inveja! Todos cobiçaram a sua posse, mas do seu gozar não haverá nenhum proveito!”. Wotan recusa-se a acreditar que “O Senhor do Anel do Anel será escravo!”. Enquanto Freia é medida através do ouro, a mania do Deus persiste.

Mas o poder de fascinação do Anel imediatamente se torna evidente, pois agora os gigantes ficam possuídos de um desejo insaciável pelo objeto. Novamente Loge apela em vão pelas filhas do Reno, e os deuses pedem em vão pelo retorno de Freia, mas Wotan se torna ainda mais inflexível do que os gigantes, até que a própria terra seja sacudida e o poder inerente a ela seja convocado das profundezas: “E, contudo, as fontes sempre te dizem a verdade!”, diz também Möricke no seu poema “A Meia-Noite”: o tempo em que noite e dia estão num estado de equilíbrio. A Antiga poesia nórdica retratou 3 nornas sentadas à margem da fonte do Urd e murmurando a sabedoria das eras para aqueles que estavam preparados para ouvi-la. Mas agora, no momento de perigo extremo, quando o deus esta traindo o seu próprio paraíso, o próprio solo parte-se em pedaços. Erda alerta Wotan sobre a maldição do Anel: “...para uma irredimível destruição (perdição) a posse do anel te consagra...ouça-me! Tudo que existe, se acaba. Um dia sombrio desponta para os deuses. Aconselho-te, evita o Anel!”. Tal alerta finalmente faz Wotan cair em si: ele desiste do Anel, e com ele a sua obsessão por propriedade. Mas de agora em diante ele meditará em aflição e medo. Este é o início do fim dos deuses...parece que o vergonhoso resgatar de Freia ainda continua a paralisar o senso de justiça de Wotan e o julgamento dele, pois, em vez de resolver a disputa dos gigantes, em vez de providenciar que a justiça fosse feita ao mais fraco e sensível, o deus se afasta desdenhosamente e permite a Fafner matar o seu irmão na sua presença. Contudo esta prova direta do “Poder da Maldição” o afeta profundamente, afinal de contas – quase que em demasia – e a irreverência de Loge não é conforto para a plenitude das suas apreensões, odeus não mais pode rir com ele! Agora somente os outros deuses são capazes de tirá-lo do seu ânimo sombrio, Donner finalmente pode mais uma vez brandir o seu famoso martelo Mjöllnir, que tantas vezes despertou a inveja dos gigantes, para concentrar toda a contrariedade que jaz no ar e dispersá-la c/ trovões e relâmpagos. O irmão gêmeo de Freia, Froh, fornece a gentil e fertilizadora chuva como um fim pacífico para a tempestade divina através da qual, na luz do Sol poente, forma-se a ponte do Arco-íris para o Castelo. Wotan o saúda solenemente; o aspecto da fortaleza o conscientiza do maligno preço pelo qual ele pagou a constução.

Os deuses perderam os grandes tesouros da natureza e o poder de usá-los. Atado pelos seus próprios acordos, Wotan não pode tirar o ouro de Fafner – e a idéia de quem possa realizar a façanha de redenção lhe ocorre: um herói com uma espada! Ele ainda não o diz assim em muitas palavras, mas o motivo da espada, que soa pela 1ª vez na orquestra, sugere-o: o 1º herói deve aparecer na terra e a 1ª espada, que o deus transmitirá a ele como posse como símbolo do poder do intelecto. Com ela o herói deve dviiidir, julgar e decidir tudo o que não é decidido, o que é contraditório em si mesmo, e estiver confuso pela ambigüidade. No entanto é também esta arma que no final das contas, destruirá a haste da autoridade divina. Mas Wotan não saberá disto até que o tenha causado para si mesmo. Até isto acontecer, este pensamento do herói lhe dá uma nova coragem, juntamente com o nome do castelo: Walhall – salão dos futuros heróis que tombarão Por ele em combate e que devem sustentar (favorecer) sua glória. Na entrada dos deuses no Walhall Loge hesita, pois ele vê mais adiante ainda no futuro: “Eles se apressam para o seu fim, os que, em quimera, se julgam fortes em sua resistência”. Que ele gostaria de se transformar de novo em (seu) elemento é – psicologicamente falando – o próprio desejo de Wotan. Ele gostaria, embora inconscientemente, de excluir Loge do Walhall, a fim de não ser mais irritado por ele na sua condição de deus da guerra e pai dos eróis. No Edda é relatado que Thor teve de ficar para trás na travessia da ponte, por medo de que seu martelo fosse pesado demais para a estrutura espectral da ponte. Wagner, no entanto, fortaleceu-a com tanto Patos a ponto de permitir ao seu deus do trovão passar por ela.

Com sua nova esperança conquistada, Wotan pisa na ponte: ela temporariamente a faz transpor os seus conflitos e preocupações. Ela dirige-se através do vale do Reno, do qual o som do canto das Filhas do Reno pode ser ouvido. Ele não quer ouvi-las, contudo. E pela última vez Loge dá expressão poderosa a um pensamento arrogante em seu nome: “O ouro não mais brilha em vós, donzelas! Doravante vos exponham ao novo refulgir dos deuses!”. A idéia de que o “poder eterno da honra masculina e fama” deva doravante ofuscar o sol é pra elas uma cruel zombaria, a qual a promessa destas filhas do amor pode somente se opor do seu próprio jeito: “Só o que é caro e verdadeiro jaz nas profundezas; falso e covarde e que se rejubila aí nas alturas!”. “Nas alturas” é para elas agora o lugar onde o seu lamento é afogado pela autoritária e pomposa confiança no Walhall. As “malditas náiades” foram fraudadas, ao lhes tirar o mais puro tesouro delas, sacrificado a um mundo poderoso, onde a ênfase é demasiada e fortemente colocada na coragem masculina. E se o mundo teve alguma vez considerado novamente sobre o destino delas, então suspirou com elas – mas somente nos seus sonhos.


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