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Autor Mensagem
Amancio
MensagemEnviada: Qua Nov 10, 2010 2:19 pm    Assunto:

Agora com imagens e sons!
http://euterpe.blog.br/analise-de-obra/tchaikovsky-fala-sobre-sua-quarta-sinfonia
Amancio
MensagemEnviada: Seg Ago 23, 2010 9:35 am    Assunto:

... o que faz pleno sentido, se lembrarmos que tipo de obras Wagner gostava de compor! (Até as aberturas das óperas são programáticas).
Pádua Fernandes
MensagemEnviada: Seg Ago 23, 2010 1:32 am    Assunto:

Se a "análise" na carta é a busca do programa extra-musical, Tchaikovsky é, também nesse ponto, um antípoda de Wagner, que buscava esse tipo de programa até nas sinfonias de Beethoven!
Amancio
MensagemEnviada: Qua Ago 18, 2010 10:01 am    Assunto:

Isso é bem interessante de discutir.

Como analista, eu não poderia concordar com o compositor... a não ser que ele estivesse (e está) falando de outro tipo de análise musical, ou melhor dizendo, uma análise "extra-"musical. Nadezhda perguntou se havia um "programa" na sinfonia, e Tchaikovsky tentou descrever esse programa usando palavras descritivas, não técnicas. A análise que os técnicos costumam fazer hoje em dia é mais estrutural, nós falamos em primeiros e segundos temas, que a transição deriva de um material do primeiro tema, e é modulação pra cá e pra lá, etc. Toda vez que a gente toca no lado subjetivo, dizendo que tal tema é "triste", já já aparece um ouvinte dizendo que não acha o tal tema triste mas sim sonhador. É desta particularidade que Tchaikovsky está falando. Se a música é instrumental e não tem um programa definido, qualquer descrição extra-musical será subjetiva e imprecisa.
Pádua Fernandes
MensagemEnviada: Qua Ago 18, 2010 5:38 am    Assunto:

A música instrumental não pode ser analisada??? Concorda com essa afirmação do compositor, Amâncio?
Amancio
MensagemEnviada: Ter Ago 17, 2010 10:44 pm    Assunto:

"Não lhe posso dizer nada mais, querida amiga. acerca da sinfonia. Minha descrição naturalmente não é nem clara nem satisfatória. Mas é esta a particularidade que tem a música instrumental - ela não pode ser analisada. Como disse Heine: Onde cessam as palavras, começa a música".

A carta ainda prossegue com observações acerca de Florença e de uma visita ao teatro cômico popular. Quando ia colocá-la no correio, hesitou um pouco, arrependendo-se de ter sido tão específico e detalhado. Acrescentou um post-escrito:

"PS: - Quando me dispunha a fechar esta carta, pus-me a lê-la toda e fiquei apreensivo com o programa caótico e incompleto que lhe estou mandando. Pela primeira vez na minha vida tentei encerrar dentro de palavras e frases meus pensamentos e sensações musicais. Não fui feliz. No inverno passado eu estive muito abatido todo o tempo em que escrevi essa sinfonia, que é um eco fiel dos meus sentimentos naquela época. Mas somente um eco. Como é que uma pessoa poderá reproduzir claramente em linguagem definida o que lá está em música? Não sei. Grande parte já esqueci. Só fica comigo uma impressão geral das minhas intensas experiências, povoadas de aflição. Estou muitíssimo ansioso por saber o que dirão da minha composição os meus amigos de Moscou."


Carta de Tchaikovsky a Nadezhda Filaretovna Frolovskaya von Meck. Março de 1879.
(páginas 198 a 201 da biografia "Tchaikovsky", de Herbert Weinstock)
Amancio
MensagemEnviada: Ter Ago 17, 2010 10:37 pm    Assunto:

"O segundo movimento da sinfonia exprime uma outra fase de anseios. É o sentimento de melancolia que a envolve à tardinha quando você senta só, fatigada do trabalho. Você pegou num livro, mas ele caiu das suas mãos. Aparece um mundo de memórias. E você está triste porque tanta coisa já passou. É agradável recordar-se a gente da mocidade e sentir saudades do passado, mas não há desejo de começar de novo. A vida fatigou-a completamente. É agradável descansar e lançar um olhar para trás. Muitas coisas nos esvoaçam pela memória. Houve momentos felizes quando o sangue moço fervia e a vida era aprazível. Houve também momentos de pesar, de perda irreparável. Tudo coisa remota, do passado. É ao mesmo tempo triste e um tanto doce perder-se a gente no passado.

O terceiro movimento não exprime sensações definidas. É um caprichoso arabesco, são fugidias aparições que passam pela imaginação quando uma pessoa começou a beber um pouco de vinho e está principiando a experimentar a primeira fase da embriaguez. A alma não está feliz nem triste. Você não está pensando em nada; a imaginação está completamente livre e por alguma razão começou a pintar imagens curiosas... Entre estas você subitamente se lembra de alguns mujiques numa patuscada e de uma modinha de rua. Depois algures, a distância, vai passando uma parada militar. São estas as disparatadas imagens que nos passam pela cabeça quando vamos começando a adormecer. Nada tem de comum com a realidade, são extravagantes, exóticas, incoerentes.

Quarto movimento. Se você não pode descobrir em si mesma razões para ser feliz, olhe para os outros. Saia e misture-se com o povo. Veja com que gosto se divertem, como se entregam à mais viva alegria! O quadro de um passatempo popular num dia feriado. Você mal teve uma oportunidadezinha de se esquecer de si mesma e mais uma vez aparece o infatigável Destino e a faz lembrar de si. Mas os outros não prestam atenção a você. Nem ao menos se viram, não olham sequer para você, não reparam em que você está só e triste. Oh como estão alegres! Quão afortunados são com as suas emoções diretas e não complicadas! Censure-se a si mesma e não diga que o mundo todo é triste. Existem alegrias fortes e simples. Aprenda a extrair felicidade das alegrias dos outros. A vida afinal de contas é tolerável.
Amancio
MensagemEnviada: Ter Ago 17, 2010 10:28 pm    Assunto:

"No entando, eis-me metido numa terrível divagação que me afastou da resposta que lhe deveria dar. Em nossa sinfonia há um programa. Quero dizer que me é possível delinear com palavras o que ela tenta exprimir e a você, e só a você, quero e posso comunicar a significação do todo, bem como a das seções separadas. É claro que só posso fazer isso em termos gerais.

A introdução contém o germe da sinfonia inteira, inquestionavelmente sua idéia central:

<partitura - início do 1º mov, metais>

É isto o Destino, a força fatal que empece o nosso impulso para a felicidade, que ciosamente vigia para que a paz nunca seja completa ou sem nuvens, que nos pende sobre a cabeça como a espada de Dâmocles e constantemente, inflexivelmente envenena a alma. É invencível, não pode ser dominado. O homem tem de submeter-se a ele e apelar para fúteis anseios.

<partitura - 1º mov, 1º tema (cordas)>

O sentimento de desconsolo e de desespero torna-se cada vez mais forte, mais consumidor. Não seria melhor afastar-nos da realidade e mergulhar em sonhos?

<partitura - 1º mov, 2º tema (fagotes ou clarinetes?)>

Oh que alegria! Apareceu uma doce e meiga visão. Um ser bendito, luminoso passa voando e faz sinais com a mão, apontando para algum lugar.

<partitura - 1º mov, 3º tema (violinos)>

Que coisa maravilhosa! Como já se perde ao longe o som importuno do primeiro tema do Allegro. Pouco a pouco os sonhos envolveram completamente a alma. Tudo o que era lúgubre jaz no esquecimento. A felicidade está aqui, está aqui!

Mas qual! Tudo eram sonhos apenas e o Destino nos acorda rudemente.

<partitura - 1º mov, entrada do desenvolvimento (metais)>

E assim toda a vida é uma incessante mudança entre a dura realidade e visões fugidias e devaneios alegres. Não há porto. Somos batidos pelas ondas de um lado para outro até o mar nos tragar. É esse, aproximadamente, o programa do primeiro movimento.
Amancio
MensagemEnviada: Ter Ago 17, 2010 10:18 pm    Assunto: Tchaikovsky: Carta a Nadezhda von Meck (Quarta Sinfonia)

"Pergunta-me você se essa sinfonia tem um programa definido. Em resposta a essa espécie de questão a propósito de uma sinfonia, eu geralmente respondo que não, nenhum. E é realmente muito difícil responder a uma pergunta destas. Como pode uma pessoa exprimir as sensações indefiníveis que experimenta enquanto escreve uma composição instrumental que não tem assunto definido? É um processo puramente lírico. É uma confissão musical da alma, que está cheia até a borda e que, fiel à sua natureza, se descarrega através de sons da mesma maneira que um poeta lírico se exprime através da poesia. A diferença está no fato de que a música é muito mais rica em recursos de expressão e é um meio mais sutil para o qual se podem transladar os mil momentos mudáveis das disposições da alma. Em geral a semente de uma futura composição aparece de repente e inesperadamente. Se o terreno está apto - isto é, se existe a disposição para trabalhar - ela cria raízes com força e rapidez assombrosa, rompe através da superfície, deita ramos, folhas e finalmente flores. Somente por essa metáfora consigo dizer alguma coisa do processo criador. O grande problema é que a semente apareça num momento favorável; o resto se desenvolve de per si. Debalde eu tentaria exprimir com palavras essa ilimitada sensação de ventura que me invade quando uma idéia nova desabrocha dentro de mim e começa a tomar forma definida. Então esqueço tudo e procedo como um demente. Tudo dentro de mim principia a palpitar e estremecer: não chego bem a iniciar um esboço e já as idéias se sucedem, se atropelam. No meio deste processo mágico muitas vezes sucede que uma interrupção partida de fora me vem despertar do meu estado sonambúlico: alguém toca a campainha, entra um criado ou um relógio dá as horas, lembrando-me que é tempo de parar. É verdadeiramente horrível essa espécie de interrupção. Algumas vezes ela quebra a inspiração durante um tempo considerável e tenho de procurá-la outra vez, frequentemente em vão. Num tal caso a fria razão e os conhecimentos técnicos tem que ser concitados para prestar seu concurso. Até com os maiores mestres muitas vezes há momentos em que a sequência orgânica se parte e tem-se que fabricar uma juntura hábil de modo que as seções apresentem o aspecto de unidade. Mas isto não pode ser evitado. Se o estado da mente e de alma a que chamamos inspiração durasse sem interrupção muito tempo, nenhum artista poderia sobreviver. As cordas se partiriam e o instrumento se reduziria a fragmentos. Já é uma boa coisa se as idéias centrais e o padrão geral de uma composição vierem sem intensa atividade mental, surgindo como um resultado daquela força sobrenatural e inexplicável que chamamos inspiração.

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