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[quote="(berber)"][size=18][b]Sonata Op. 110[/b][/size] Bom, chegamos na minha sonata favorita. Entre todas as 32, essa e' a que esta' mais relacionada comigo. Toquei-a ainda no Brasil e tenho um carinho muito especial por ela. Essa Sonata foi composta em 1821 e nao foi dedicada a ninguem, o que e' curioso, afinal Beethoven sempre dedicava suas obras a patronos e amigos. Talvez essa sonata tenha sido tao especial, que ele, Beethoven nao quis dividi-la com ninguem, enfim.... A sonata tem movimentos mais ou menos definidos, mas Beethoven diluiu a forma sonata a tal ponto que e' como se fosse um movimento so'. O primeiro movimento comeca com uma introducao em acordes, como um coral e logo apresenta uma melodia linda e simples, acompanhada de acordes na mao esquerda. Esse e' o primeiro tema, que se desenvolve em la bemol maior. As nuances sao bem sutis e o pianista que quiser "inventar" vai estragar tudo. Ao final do tema, uma cascata de fusas passeia pelo teclado de cima a baixo criando a transicao entre temas. Essa parte deve ser tocada levemente, p que e' dificil de ser feito na velocidade. Logo depois Beethoven apresenta mais uma melodia simples em oitavas quebradas. A tensao aumenta um pouco com trinados no baixo ate' que e' resolvida alguns compassos mais tarde. O final da Exposicao traz uma passagem ascendente simples que termina num acorde de mi bemol maior. Simples, calmo e bonito. O inicio do desenvolvimento traz uma modulacao imediata que muda o clima completamente com uma so' nota. Depois da conclusao em mi bemol, Beethoven "desce" um tom e, de uma maneira incrivel, inicia o desenvolvimento com um re' bemol no baixo junto de outro no agudo - Para mim uma passagem magica. O que se segue e' um desenvolvimento que explora primeiro tema, sendo que o acompanhamento vem em forma de escalas, criando uma sensacao de polifonia muito interessante. O movimento continua, trazendo de volta o primeiro tema, transicao, etc. ate' a coda final, onde o metarial da transicao (fusas) aparece de novo para terminar com o primeiro movimento. Uma curiosidade que sempre passa despercebida nas inumeras gravacoes que eu conheco. No final do movimento, Beethoven apresenta o tema da fuga. Ele aparece meio escondido, assim como nao quer nada, mas esta' ali, anunciando que uma grande esta' por vir.... O segundo movimento e' um Allegro Molto, que tem basicamente a forma de um scherzo (ABA). Alem disso, traz dificuldades enormes para o pianista. O movimento comeca com uma serie de acordes, criando um tema energetico e marcial. As repeticoes sao tao bem trabalhadas que passam quase despercebidas. A segunda parte do movimento e' a mais dificil, com saltos de duas oitavas na mao direita. Nao contente com a dificuldade desses saltos, Beethoven ainda complicou exigindo que o pianista cruzasse as maos ao realizar os saltos. Antes dos saltos, a mao direita esta' tocando notas abaixo da mao esquerda. Alem disso, a dinamica colocada pelo compositor (f/pp) exige ainda mais do pianista. E so' para completar, o interprete tem que realizar essa passagem quatro vezes, cada uma com notas diferentes.... Mesmo assim e' um prazer tocar - e ouvir - essas passagens. O movimento termina com a primeira sessao de volta, e uma Coda que dilui a tensao e prepara a entrada do movimento final. O Adagio que se segue e' de uma intimidade incrivel. Comeca como de fosse um improviso ao piano e com um recitativo "sem tempo", afinal Beethoevn nao dividiu-o em compassos. Quando finalmente adivisao em compassos aparece, Beethoven traz uma das mais belas paginas ja' escritas. O Arioso dolente faz qualquer um deixar o que esta' fazendo e ouvir com o coracao aberto. A melodia siples na mao direita e' acompanhada por acordes que apresentam as suas proprias nuances. nao tenho muito como descrever a beleza dessas paginas, mas so' posso recomendar que oucam esse movimento... O final do arioso traz uma sequencia de oitavas que prepara a fuga. A fuga a tres vozes e' magistral. O tema e' simple, composto de quartas ascendentes, mas o tratamento que Beethoevn da' a essa fuga e' incrivel. O tema aparece em oitavas e intercalado, com um "moto perpetuo" de colcheias unindo as secoes da musica. A tensao crece ate' o final da fuga, e explode num arpejo desecendente em mi bemol. Aqui mais uma vez Beethoven traz outras daquelas modulacoes magicas, mas dessa vez e' um semitom abaixo, criando a atmosfera para o segundo arioso, que vem em sol menor. Se o primeiro arioso ja' e' de tirar o folego, esse segundo e' para matar de vez. Aqui, Beethoevn nao so' traz a melodia de volta, mas a "embeleza" com notas de passagem e appogiaturas. O mais incrivel dessa passagem sao as pausas entre as notas da melodia. Beethoven colocou mais musica nessas pausas que muitos outros compositores em obras inteiras. Quando o segundo arioso terminda, Beethoevn traz uma segunda fuga. Na verdade nao e' uma fuga tao massiva quanto a primeira, e' mais um "fugatto", mas o interessante e' que o tema da primeira fuga vem invertido nessa segunda fuga. A textura polifonia se dissolve numa coda impressionante, que usa o tema da fuga para terminar com a sonata. Sou muito suspeito para falar, mas acho essa a mais bonita de todas as Sonatas, com uma unidade de temas e movimentos perfeita.[/quote]
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Mensagem
Novaes
Enviada: Sáb Mar 29, 2008 9:54 am
Assunto:
O Ricardovsky menciona a gravação da Waldstein de Gulda, a qual eu já admiti como sendo a interpretação ideal até o dia em que analisei com mais critérios a partitura.
Gulda é, em metade de seus momentos, um de meus pianistas preferidos. Adoro o que ele faz com o cravo bem temperado, criando toques muito distintos entre os prelúdios e as fugas, mas principalmente na beleza das fugas. Já na Waldstein de Beethoven, penso que ele extravazou demais a sua loucura (quem já o viu deve saber do que falo), principalmente no rondó. O rondó em sua gravação é "virtuosissíssimo", mas o efeito final não corresponde e em alguns dos temas ele não consegue a clareza nas notas e o ouvinte se perde no encadeamento da peça. Um exemplo é o tema que começa no compasso 62, creio que seja o segundo tema a aparecer no rondó.
Enfim, ele tem seus momentos desagradáveis, mas ainda assim possui o mérito de seus momentos de genialidade que fazem valer a pena ouvir as sonatas e tudo o mais.
Fiquem bem.
Pádua Fernandes
Enviada: Qui Mar 27, 2008 3:03 pm
Assunto: Re: Dois ou três?
Juarez escreveu:
Este aqui seria o segundo?
Nos reviews da Amazon um cara diz que ele gravou três, e que este acima seria o terceiro...
Sim, essa é outra das encarnações da segunda integral. Ele
quase
gravou três... A primeira tentativa, leio nas notas à integral que tenho, compreendeu gravações feitas entre 1926 e 1945, em discos de 78 rotações, mas não chegou ao fim. Na década de 50, vinda a era do LP, ele completou a integral em mono cuja capa indiquei acima; só em 1995 elas foram relançadas, em cd.
A capa que você indicou é das gravações em estéreo, ou seja, a segunda integral que ele completou, a mesma de que Ricardovsky fala logo acima, em outra encarnação discográfica: as gravadoras gostam de mudar projetos gráficos.
Uma terceira integral viria somente em nova encarnação do próprio Kempff.
Ricardovsky
Enviada: Qui Mar 27, 2008 1:59 pm
Assunto:
Caro Juarez,
Esta é a integral das sonatas que possuo com Kempff, que, creio eu, é a segunda integral dele:
As gravações, em estéreo, são de 1964 e 1965. A caixa possui 9 cds que são, na minha opinião (há gente que não gosta da interpretação), uma viagem ao paraíso. Trata-se do tipo de interpretação de Beethoven que eu gosto: meticulosa e sem excessos. A Waldstein e a Apassionata têm uma interpretação ímpar, sendo minhas gravações preferidas dessas sonatas (a op. 111 prefiro o Schnabell da Integral Beethoven da Brilliant Classics), mas afirmo, se você deseja um Beethoven cheio de "páthos", não procure Kempff, apesar dele não ser desprovido, de modo algum, de paixão, sendo, na verdade, contido em prol de uma beleza sensorial mais detalhista. A transição do segundo para o último movimento da Waldstein é feita com um aumento lento e gradativo da altura do som, coisa que não vi ainda em outros intérpretes, pelo menos, não da mesma maneira (isso é imperceptível em Bakhauss e não é tão claro no Gulda). Já o primeiro movimento da Apassionata possui alguns toques rápidos e vibrantes por trás de um andamento sereno, que, infelizmente, por meu desconhecimento de técnica pianística, não posso precisar direito o que é, só poderia mostrar o que quero dizer com a música tocando. Bem, é isso. No caso de você preferir um Beethoven mais poderoso e enfático, basta ouvir as também excelentes interpretações de Gulda ou Baremboin (esses "descem" o dedo
).
Esta caixa possui vários comentários na Amazon. A maioria do pessoal a adora, mas você perceberá que não se trata de uma unanimidade, uns não a apreciam.
Serviço completo: eis o link para compra do box pela Amazon com as respectivas resenhas (enfatizo que não pesquisei preço, acho até que o box deve estar mais barato em outras lojas):
http://www.amazon.com/Beethoven-Complete-Sonatas-Ludwig-van/dp/B000001GCC
Na Amazon, de 29 comentadores, 23 deram nota máxima ao box (5 estrelas), um sujeito deu 4 estrelas, outro deu 3 estrelas, três deram 2 estrelas e um maluco deu apenas 1 estrela, recomendando a integral de Jeno Jando pela Naxos. Nada contra Jando, pianista que gosto muito, mas ele vai ter que comer muito feijão ainda para chegar ao nível de Kempff.
Juarez
Enviada: Qui Mar 27, 2008 1:24 pm
Assunto: Dois ou três?
Este aqui seria o segundo?
Nos reviews da Amazon um cara diz que ele gravou três, e que este acima seria o terceiro...
Pádua Fernandes
Enviada: Qua Mar 26, 2008 3:45 pm
Assunto:
Exatamente, Kempff gravou duas integrais: a primeira, na década de 50, a segunda, na de 60. O segundo foi gravado em som estéreo.
Esta é a capa do primeiro ciclo:
O segundo foi lançado também pela DG.
Juarez
Enviada: Qua Mar 26, 2008 11:22 am
Assunto: Kempff
Alguém sabe se o Kempff possui dois ciclos das sonatas de Beethoven? Pensei só haver um, mas, faz algum tempo, ouvi duas gravações dele de uma mesma sonata e que me pareceram ligeiramente diferentes.
Laura
Enviada: Sex Mar 14, 2008 11:09 am
Assunto:
Bruno Gripp escreveu:
...Mas essas palestras do Schiff, um dos meus pianistas vivos preferidos, são sensacionais, muito obrigado!
Também quero agradecer o Novaes. Esse link é o máximo! Schiff analisando todas as sonatas p/ piano de Beeth e ainda por cima dando umas canjas!
Repito aqui pra quem ainda não acessou:
http://music.guardian.co.uk/classical/page/0,,1943867,00.html
Bruno Gripp
Enviada: Ter Mar 11, 2008 11:38 pm
Assunto:
Aliás, tem uma passagem linda no Dr. Fausto, um dos poucos trechos verdadeiramente memoráveis dessa romance que é um fracasso, que o narrador faz uma longa digressão sobre o último movimento daquela que é, secretamente, a sonata preferida de todos, ie. a op. 111.
Mas essas palestras do Schiff, um dos meus pianistas vivos preferidos, são sensacionais, muito obrigado!
Bruno Gripp
Enviada: Ter Mar 11, 2008 11:33 pm
Assunto:
Novaes escreveu:
Mas gostei de ele atribuir falas à melodia de alguns dos temas, por exemplo tem uma sonata em que o tema "fala": "lud-wig-van-bee-tho-ven".
Acho muito possível mesmo, lembre-se da sonatada Les Adieux, que na partitura original está escrito em cima das primeiras notas: Le-be Wohl, que é o tema do primeiro movimento, duas semínimas comuns e uma semínima pontuada, aliás, é uma peça linda e estou completamente apaixonado por ela.
Laura
Enviada: Ter Mar 11, 2008 3:30 pm
Assunto:
É possível ouvir esse Paul Lewis tocando a op.111
de gratis
na Deutsche Welle:
http://www.dw-world.de/dw/article/0,2144,2762774,00.html
Novaes
Enviada: Sáb Fev 16, 2008 7:26 am
Assunto:
Que bom! O link é
http://music.guardian.co.uk/classical/page/0,,1943867,00.html
Fiquei bastante cético em relação ao andamento que ele impõe a algumas sonatas, Principalmente a Op.27 No.2.
Mas gostei de ele atribuir falas à melodia de alguns dos temas, por exemplo tem uma sonata em que o tema "fala": "lud-wig-van-bee-tho-ven". O engraçado é que toda vez que eu as ouço agora, não consigo parar de pensar nas supostas falas.
Amancio
Enviada: Sex Fev 15, 2008 10:50 am
Assunto:
Novaes escreveu:
Como eu não sei se posso postar links aqui, sugiro apenas que utilizem sites de busca com os termos Guardian Unlimited Schiff.
Pode postar sim sim!
Novaes
Enviada: Sex Fev 15, 2008 9:23 am
Assunto:
Ahoy! Pensei em compartilhar com vocês algo que encontrei pesquisando sobre as sonatas de Beethoven. No site Guardian Unlimited há gravações de uma exposição do Andras Schiff sobre as 32 sonatas de Beethoven, algo intitulado de Lecture Recital. Está em inglês, e Schiff tem um humor um tanto ácido e maldoso quando se refere a alguns pianistas, compositores ou críticos. Ainda assim é uma publicação das idéias que formam a interpretação de um pianista renomado sobre Beethoven e acho que vale a pena conhecer.
Como eu não sei se posso postar links aqui, sugiro apenas que utilizem sites de busca com os termos Guardian Unlimited Schiff.
Fiquem bem!
(berber)
Enviada: Seg Fev 04, 2008 6:41 pm
Assunto:
Se foi aluno do Brendel, pode colocar ai que deve saber tocar as sonatas de Beethoven...
Pádua Fernandes
Enviada: Seg Fev 04, 2008 3:19 pm
Assunto:
Laura escreveu:
Genteenn! Qui qui eu ovui no rádio! Um cara chamado
Paul Lewis
tocando a no.10, op.14/2, de um jeito FANTÁSTICO! E vejam que, como eu toco essa sonata, tratei de ouvir com trocentos intérpretes.
Quem é esse? Berber, vc conhece? Vi que ele gravou a integral de sonatas de Beethoven pelo selo Harmonia Mundi e que é/foi pupilo de Alfred Brendel:
O Schubert dele também me agrada bastante. Veja que ele não estará por aqui nos próximos meses:
http://www.harmoniamundi.com/others/artistes_agenda.php?artist_id=1744
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