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[quote="Amancio"]Final de ano, tradicional amigo secreto em família, sacumé... Bota-se como limite o valor de um "CD bão" e vamo-que-vamo. Quando se pega uma pessoa fácil de presentear (e este "fácil" é relativo), escolhe-se alguma coisa do agrado e a felicidade alheia é quase certa. Na minha família, apenas eu e meu tio gostamos "profissionalmente" de música clássica, então quando a gente se pega é super divertido. A gente sabe o que cada um gosta e tem acesso fácil à coleção do outro - presente na mosca! Mas quando outra pessoa me pega... xiiii... prefiro até que nem pensem em CD de presente. Não foi o caso deste ano. Mas, boa idéia, em vez de me dar um "Clássicos inesquecíveis" ou a "Sinfonia do Novo Mundo" com o Anton Peanut (copyright Doctor Marianus), me dera dois vale-CDs de R$ 15,00 cada. A primeira pergunta que me fiz foi: e existe CD custando R$ 15,00? A segunda pergunta foi pior: onde exatamente fica esta loja? A terceira foi o pesadelo: e se lá a seção de clássicos só tiver os "Clássicos Inesquecíveis", "André Rieu" e "Andréa Bocceli"? Bom... Passei os dias entre o Natal e hoje pensando num novo Madredeus, ou no Sargent Peppers que falta pra minha coleção de Beatles, sei lá, vamos ver. E lá fui eu hoje para o centro, atrás da loja. Achei. Lojinha grande, estoque variado. Perguntei pra moça a pergunta fundamental: posso trocar os dois vale-CDs por um CDzaço de 30 pila? Sim. Então beleza. Achei a seção de clássicos, e como eu imaginava tinha os clássicos dos clássicos, tudo misturado: Carmina Burana, Adagio de Albinoni, Os Mais Belos Clássicos. André Rieu, André Rieu, André Rieu, André Rieu, (putz como tem CD desse cara, deve vender bastante), André Rieu, André Rieu. Boccelli. Placido Domingo cantando árias famosas. Kenny G. Enya. Orquestra Tabajara. Yo-yo Ma tocando picadinhos (hmmm, 32 pila, deixa separado ali pra qualquer emergência..). E... Naxos! Obaaaaa! Naxos! Vou procurar aquelas coisas que eu sempre quis comprar e não tinha coragem, uns compositores modernos, mais um pouquinho de Cage, ou Bomtempo, ou... Acorda, véi! Os Naxos que tem aqui são Carmina Burana, Bolero de Ravel, Caprichos de Paganini, muitos Bach, muitos Mozart (pena que, por causa das CBE e CME, não agüento mais ouvir só Bach e Mozart). Voltei na vendedora: "vc tem Madredeus?". Ela sorri, "não". Decerto muita gente pergunta. Voltei na seção de clássicos. Te Kanawa cantando Canteloube (quem?) e Bachianas 5 do Villa, com Jeffrey Tate e English Chamber, Double Decca. Hmmm.. CD com aparência de que está há mais de 5 anos aqui, mas, dos males o menor. "Quero este", disse pra vendedora. Paguei só R$ 6,90 de diferença, por mais ruim que seja esta gravação pelo menos vou me divertir com o português da neo-zelandesa e conhecer um compositor novo. Aliás, nunca ouvi falar deste Canteloube, será que ele é da renascença? Talvez um romântico perdido, como o Hahn ou Lalo, ou aquele outro que compôs lieder.. esqueci o nome do sujeito.. enfim... melhor me certificar que os CDs estejam ok aqui dentro da caixa. E não é que a caixa se desfaz na minha mão? Sem me mover, levanto os olhos pra vendedora e digo, "a caixa está quebrada, vc pode trocar pra mim?". Ops, claro! Vem comigo! E lá atrás da lojinha a moça desmonta a caixa branca do Double Decca (tchau, caixinha branca!) e pega um "genérico" da prateleira. Ihh, problemas: a capa do verso não cabe na caixinha, o formato das caixas é diferente. Disse pra moça, não liga não, deixa que em casa eu corto a capa (ugh!) e encaixo. Obrigado, feliz ano novo, pra vc também, sorrisos, tchau. Aí no carro fui ouvir a Te Kanawa, vamos ver se valeu R$ 6,90. Orquestra de cellos realmente orquestra. Villa escreveu para 8 cellos, deve ter uns 16 ou 24 nessa gravação. Voz super pesada, super melada... hmmm... é... vale pela diversão do português. "Canta Juratiiii...."[/quote]
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Laura
Enviada: Dom Jan 14, 2007 1:21 pm
Assunto:
...e eu achei que alguém ia lembrar de Barthes (Fragmentos de um Discurso Amoroso).
Phoebe
Enviada: Dom Jan 14, 2007 12:50 pm
Assunto:
Ao escrever pensava mais na economia das trocas simbólicas, que é aliás o nome de um livro do P.Bordieu, que é um pensador ... interessante, de quem lí alguma coisa, há muitos e muitos anos atrás.
Mas o Randau deve estar mais up to date.
FernandoRandau
Enviada: Dom Jan 14, 2007 12:33 pm
Assunto:
Apenas reafirmando o que o Pádua escreveu acima, a partir das sugestões de Mauss - que afinal ficaram incompletas - surgiu todo um movimento nas ciências sociais que vêm tomando força, o "anti-utilitarismo" e sobre esse
fenômeno social total
que é o dar-receber-retribuir, enfim.
Por sinal, um dos livros mais revitalizadores dessa idéia Alain Caille e Jacques Godbout, chamado "O Espírito da Dádiva" faz referência direta numa parte sobre os amigos secretos e a troca de presentes no natal em geral. Mas enfim, é o tipo de tema que não estudo mais, muito totalizante isso...
Porém o ensaio de Mauss é lindo, brilhante, e já assisti pesquisas aplicando a dádiva nas igrejas neopentecostais de comunidade que me pareciam ótimas...
Saudações,
Pádua Fernandes
Enviada: Dom Jan 14, 2007 2:56 am
Assunto:
Phoebe e Leonardo,
vocês estão a pensar em Marcel Mauss? No início do ensaio sobre a dádiva, há um poema arcaico escandinavo que vale a pena citar em época de presentes:
Os homens generosos e valorosos
têm a melhor vida;
não sentem temor algum.
Mas um poltrão tem medo de tudo;
o avarento sempre teme os presentes.
É claro que, numa economia que não tem mais o escambo por base, o papel da dádiva é bem diferente da dos povos melanésios e polinésios referidos na obra de Mauss. Mas o próprio antropólogo estende, na conclusão, alguma das análises aos tempos atuais. E diz, por exemplo, que o direito previdenciário inspira-se ainda na dádiva.
Para terminar, que dormirei, uma citação, agora do próprio Mauss:
Se as coisas são dadas e retribuídas, é porque
se
dão e
se
retribuem "respeitos" - podemos dizer igualmente "cortesias". Mas é também porque as pessoas
se
dão ao dar, e ,se as pessoas
se
dão, é porque
se
"devem" - elas e seus bens - aos outros. (Sociologia e Antropologia, edição da Cosac & Naify, p. 263)
Vitinho
Enviada: Qua Jan 03, 2007 3:44 pm
Assunto:
Nos Amigos Secretos que vocês participam não há uma listinha de desejos ou algo parecido??
Felizmente no que eu participo em família tem uma "listinha do que dar"; e alguns (como eu) arriscam uma "listinha do que jamais dar".
Particularmente eu amo ganhar cd de presente. É o tipo do presente que realmente me deixa muuuito feliz
. Mas, confesso que para alguém da minha família acertar algo para me dar é realmente muito difícil.
Eu até pensei em indicar um cd que queria bastante e que tem na Internet, mas desisti da idéia pois o único da família que está realmente familiarizado com compras no mundo virtual sou eu!
Para não passar pelo situação de ganhar um vale-presente (ou até mesmo o dinheiro in cash), eu desisti de indicar algo no mundo virtual.
Königin der Nacht
Enviada: Qua Jan 03, 2007 3:40 pm
Assunto:
(berber) escreveu:
Prefiro um presente sem logica, mas vindo do coracao do que o "presente perfeito" dado por obrigacao.
O problema é que o presente dado por obrigação nunca é "o presente perfeito"... Afinal de contas, alguém que compra o presente "por obrigação" não sai por aí procurando o "presente perfeito". Compra qualquer coisa mais impessoal, mesmo.
(berber)
Enviada: Qua Jan 03, 2007 2:55 pm
Assunto:
Estive lendo o topico e acho que uma coisa passou longe. O que aconteceu com "O que vale e' a intencao"? A ideia de presentear e' dar algo a alguem que vc goste. E' a acao que conta, nao o presente em si, certo? Ou estou falando besteira?
Amigos secretos de escritorio sao meio falsos ja' que obrigam as pessoas a se presentearem.
Prefiro um presente sem logica, mas vindo do coracao do que o "presente perfeito" dado por obrigacao. Tanto que nao dei nenhum presente pro pessoal da loja esse ano.
Leonardo T. de Oliveira
Enviada: Qua Jan 03, 2007 1:46 pm
Assunto:
Phoebe escreveu:
Essa linguagem dos presentes, de fato, mereceria um estudo aprofundado. Em Antropologia , em sociedades outras isto já foi extensivamente estudado; na nossa parece que não.
Mas ói que..., a tal da Teoria da Dááádiva... Vamos chamar o Randau.
Phoebe
Enviada: Qua Jan 03, 2007 8:03 am
Assunto:
Às vezes a gente erra feio...
Essa linguagem dos presentes, de fato, mereceria um estudo aprofundado. Em Antropologia , em sociedades outras isto já foi extensivamente estudado; na nossa parece que não.
Creio que acabou ficando restrito aos que se dedicam às relações diplomáticas, chefes de cerimonial e coisas semelhantes; tido, enfim, como uma bobagem, quando, penso, é uma linguagem..
Vou pesquisar um pouco o assunto,ouvindo... o meu presente!
Guiomar
Enviada: Ter Jan 02, 2007 2:55 pm
Assunto:
Bem, acho esse negocio de dar vale presente meio impessoal... mas é verdade que às vezes o cuidado de "amigos" em escolherem presentes para nós nos deixa em situações embaraçosas... Esse ano, por exemplo, ganhei da minha irmã o livro "Marley e eu". Rsrsrsrrss. Segundo ela, ela tinha certeza de que eu amaria esse presente por adorar cachorros... Paciência! No caso dela, garanto: a intenção foi a melhor possível.
Sarastro
Enviada: Ter Jan 02, 2007 9:13 am
Assunto: Re: A difícil arte de presentar um CD (ou sofrimentos pós-Na
Amancio escreveu:
Sarastro escreveu:
Amancio escreveu:
Aliás, nunca ouvi falar deste Canteloube, será que ele é da renascença? Talvez um romântico perdido, como o Hahn ou Lalo, ou aquele outro que compôs lieder.. esqueci o nome do sujeito..
Hugo Wolf ?
Fui procurar nos meus alfarrábios, eu queria lembrar era de
Henri Duparc
.
Pegou pesado, hehehe.
Amancio
Enviada: Seg Jan 01, 2007 5:11 pm
Assunto: Re: A difícil arte de presentar um CD (ou sofrimentos pós-Na
Sarastro escreveu:
Amancio escreveu:
Aliás, nunca ouvi falar deste Canteloube, será que ele é da renascença? Talvez um romântico perdido, como o Hahn ou Lalo, ou aquele outro que compôs lieder.. esqueci o nome do sujeito..
Hugo Wolf ?
Fui procurar nos meus alfarrábios, eu queria lembrar era de
Henri Duparc
.
Amancio
Enviada: Seg Jan 01, 2007 4:55 pm
Assunto:
Phoebe escreveu:
É de fato, difícil presentear quando a gente conhece pouco e a pessoa conhece muito.
Phoebe e Randau, quando eu presenteio, gosto de dar alguma coisa que seja útil e que faça a outra pessoa lembrar de mim. Da mesma forma, os melhores presentes que eu ganho são aqueles que me fazem lembrar da pessoa - "só vc poderia ter me dado isso!". E se eu ver ou usar o presente diariamente, melhor ainda. Os vales são os socorros de quem não tem criatividade ou não conhece muito bem o presenteado. Acho que, no caso de presentear uma pessoa que conhece muito, o lance é encontrar algo que ela conheça pouco. (risos - fácil falar, difícil fazer)
Ricardovsky escreveu:
Pois se meus parentes me dessem um vale de R$ 30,00 para gastar na Saraiva, eu ficaria muito feliz.
Exato! Se for pra dar vale, então que dê de uma loja grande e boa! E de preferência acessível (depois que eu comprei um carro, todas as lojas do centro da cidade me ficaram inacessíveis).
Amancio
Enviada: Seg Jan 01, 2007 4:47 pm
Assunto:
Vamos por partes, vou tentar responder um a um:
Laura escreveu:
Editando: você afinal trocou por um duplo que tem Villa E Canteloube. É isso?
Isso!
Pádua, Königin e Doctor,
Chegando no trabalho, antes de pegar a estrada eu ouvi o início de uma das canções do Canteloube e gostei bastante. A primeira impressão foi positiva. Mas preciso ouvir mais e me inteirar do compositor e da obra - pelo que entendi, são canções populares francesas. Vamos ver, vamos ver.
Phoebe
Enviada: Dom Dez 31, 2006 5:35 pm
Assunto:
Pois então.
Não chega a ser uma obra de arte contemporânea , mas é , sim,uma peça de cerâmica. É pesada demais para ter alguma utilidade prática e por igual motivo, difícil de limpar.
(Claro que é melhor do que muito troféu ganho em festival de cinema por aí,ou por algum mtv/vh1 award,...se bem que aquele astronautinha é até divertido!)
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